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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Conheça como funciona o sistema de monitoramento de chuvas do governo

A chegada da temporada de chuvas promoveu uma semana agitada por parte dos órgãos governamentais, que apresentaram estratégias para evitar desastres como deslizamentos de terra e enxurradas entre dezembro e março de 2012.

O foco das ações será concentrado no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Ainda que o site do órgão, ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCIT) não estivesse ainda funcionando, o monitoramento e a emissão de alertas de risco já estão acontecendo desde 2 de dezembro.

Segundo Carlos Nobre, diretor do Cemaden e secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped), o centro deve começar a funcionar durante 24 horas por dia a partir deste sábado (17).

“O Cemaden já é uma realidade, já estamos emitindo alertas e estamos terminando a integração das 75 pessoas selecionadas por concurso público”, afirma o climatologista.

Níveis de risco – Os alertas possuem quatro níveis de risco: leve, moderado, alto e muito alto. “O risco diz respeito apenas a áreas onde moram pessoas. Não está ligado para zonas rurais”, explica Nobre.

Os dois níveis mais alarmantes são usados quando o volume de chuva em uma região de risco aumenta em um período curto como uma hora ou fica acima da média para um trecho de dois a três dias.

Para montar um alerta, os dados de mapas de risco com informações geológicas e hidrológicas são cruzados com as cartas geradas por institutos de previsão de tempo como o Cptec (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) e o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Quando uma região com risco elevado de incidentes como deslizamentos e enxurradas é visitada por frentes frias ou por concentrações de nuvens que podem gerar pancadas de chuvas, o aviso é emitido.

“A ação precisa ser sempre antecipada, nós não podemos ficar esperando”, afirma Nobre. “Antes do risco alto se concretizar, o alerta é enviado para que os municípios e os órgãos de defesa possam monitorar a situação e agir quando preciso.”

A partir daí, quem assume o controle das operações é o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), órgão ligado à Defesa Civil nacional. Ele é o responsável por fazer a ponte com os serviços de defesa civil estaduais e municipais e com ministérios diretamente ligados à emergências como o da Saúde e da Defesa.

Ações – O Ministério da Integração Nacional divulgou as ações desenvolvidas em 2011, como preparativos para possíveis desastres no verão de 2012. As ações serão concentradas em 56 municípios, 22 deles nos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, os mais afetados pelas enchentes e chuvas em janeiro deste ano.

“A região dessas cidades conta com um bom monitoramento para áreas de risco de deslizamento e enxurradas”, afirma Nobre.

Até abril de 2012, outros 34 municípios – localizados na Zona da Mata nordestina – devem entrar no cálculo. Atualmente, o Cemaden já identificou 251 cidades onde ocorreram mortes por conta de desastres naturais no Brasil. A estimativa de Nobre é que existam até mil áreas de risco no país. “Existem muitas áreas ainda no Brasil que precisam ser mapeadas”, afirma o especialista.

Só no Cemaden, são previstos 2,2 mil novos pluviômetros em todo o país e três novos radares meteorológicos. “Esses aparelhos representam o padrão de excelência, eles mandam informação repetidamente”, diz.

O Ministério da Defesa destinou R$ 48,3 milhões em ações como apoio aéreo, engenharia, transporte de medicamentos e salvamento. As pastas de Integração Nacional e de Cidades também investiram em ações de contenção de encostas, obras de drenagem urbana e de barragens.

Zona de convergência – Para Márcia Seabra, meteorologista do Inmet, apesar das ações de prevenção, o risco de desastres naturais é real.

“Provavelmente vai ter deslizamento, vai ter alagamento”, afirma a especialista, que destaca o problema da ocupação irregular de áreas urbanas como um dos muitos fatores que contribuem para que as chuvas se transformem em desastres naturais. “A retirada da vegetação original do lugar faz o solo conseguir absorver menos água”, lembra.

No verão, o sudeste costuma sofrer com chuvas rápidas, localizadas em áreas pequenas como bairros e fortes. São causadas pelo aquecimento e pela umidade na atmosfera, que aumentam a partir do dezembro com o volume maior de energia térmica do Sol.

Elas ainda podem ser causadas por uma faixa de nuvens que se estende desde a região amazônica e vai até o sudeste em direção ao oceano Atlântico. Esta extensa “parede” de gotículas é conhecida como Zona de Convergência do Atlântico Sul.

A faixa pode gerar chuvas contínuas, que duram por dias. “Essas são perigosas, pois deixam o solo encharcado e podem causar deslizamentos de terra”, afirma Seabra. Outro caso é das pancadas de chuva, com vento e até granizo, típicas de dias abafados e que provocam principalmente alagamentos.

“Nesta parte do verão, as chuvas são mais intensas onde a zona de convergência atua”, diz a meteorologista.

Influência global – José Antônio Aravéquia, chefe da divisão de operações do Cptec, explica que aos dados da previsão de tempo local somam-se fenômenos estudados por modelos globais.

“Eventos de frentes frias, fenômenos que acontecem na Antártida e no Pacífico podem colaborar para a geração de chuvas por aqui”, afirma o meteorologista.

“O ar precisa ser pensado como um fluido, ele também se propaga por ondas. Quando o ar apresenta bastante umidade, ele é erguido e começam a serem formadas nuvens”, diz Aravéquia, que descreve com detalhes o momento em que a chuva inicia. “Lá em cima, a umidade é condensada e gera gotículas de água. Com o tempo, elas se agrupam e uma hora ficam pesadas demais para serem sustentadas pelo ar que sobe. É aí que elas caem.”

(Fonte: Mário Barra/ G1)

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