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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Por que nós temos tipos sanguíneos?

Mais de um século depois de sua descoberta, nós ainda não sabemos realmente para que servem os tipos sanguíneos. Será que eles realmente são importantes? Por que 40% dos caucasianos têm sangue tipo A, comparado a apenas 27% dos asiáticos? De onde é que diferentes tipos de sangue vêm e o que eles fazem? Para tentar entender um pouco mais sobre o assunto, a solução é falar com hematologistas, geneticistas, biólogos, virologistas, cientistas de nutrição e se debruçar longamente sobre o tema. Em 1900, o médico austríaco Karl Landsteiner descobriu os tipos sanguíneos, ganhando o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por suas pesquisas em 1930. Desde então, os cientistas desenvolveram ferramentas cada vez mais poderosas para sondar a biologia dos tipos de sangue, conseguindo fazer coisas como traçar sua ascendência distante e detectar sua influência sobre a nossa saúde. No entanto, eles descobriram que, em muitos aspectos, os tipos sanguíneos permanecem estranhamente misteriosos. Os cientistas ainda não encontraram uma boa explicação para eles existirem. “Não é incrível?”, diz Ajit Varki, biólogo da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA). “Quase cem anos depois de o Prêmio Nobel ter sido concedido por esta descoberta, nós ainda não sabemos exatamente para que eles servem”. Como tudo começou Sabemos que somos tipo A, O, B ou AB, graças a uma das maiores descobertas da história da medicina. É só porque os médicos estão cientes destas diferenças que podem salvar vidas com a transfusão de sangue em pacientes. Porém, ao longo da maior parte da história, a noção de colocar o sangue de uma pessoa em outra não passava de um delírio. Médicos renascentistas refletiram sobre o que aconteceria se eles colocassem o sangue de outros nas veias de seus pacientes. Alguns chegaram a pensar que isso poderia ser um tratamento para todos os tipos de doenças, até insanidade. Finalmente, em 1600, alguns médicos testaram a ideia, com resultados desastrosos. Um médico francês injetou sangue de bezerro em um louco, que prontamente começou a suar, vomitar e produzir urina da cor de fuligem de chaminé. Depois de mais uma transfusão, o homem morreu. Tais calamidades fizeram com que as transfusões amargassem uma péssima reputação por 150 anos. Mesmo no século XIX, apenas alguns médicos ousaram experimentar o procedimento. Um deles foi o britânico chamado James Blundell. À semelhança de outros médicos de sua época, ele observou muitas mulheres morrerem de hemorragia durante o parto. Após a morte de uma paciente em 1817, ele descobriu que não podia resignar-se à forma como as coisas eram. “Eu não poderia deixar de considerar que a paciente poderia muito provavelmente ter sido salva pela transfusão”, escreveu mais tarde. Blundell se convenceu de que os desastres anteriores com transfusões de sangue tinham acontecido graças a um erro fundamental: usar “o sangue dos brutos”, como ele dizia. Os médicos não devem transferir sangue entre as espécies, concluiu, porque “os diferentes tipos de sangue diferem de maneira significativa entre si”. Então, resolveu que pacientes humanos só deveriam receber sangue humano, mas ninguém havia tentado realizar tal operação até então. O médico concebeu um sistema de funis, seringas e tubos que poderia canalizar sangue de um doador para um paciente doente. Depois de testar o aparelho em cães, Blundell foi chamado à cama de um homem que estava sangrando até a morte. “A transfusão por si só poderia lhe dar uma chance de vida”, relatou em seus estudos. Vários doadores o forneceram um total de 400 ml de sangue, que foram injetados no braço do homem. Após o procedimento, o paciente disse a Blundell que se sentia melhor – “menos zonzo” -, porém, morreu dois dias depois. Ainda assim, a experiência convenceu Blundell que a transfusão de sangue seria um grande benefício para a humanidade, e ele continuou colocando sangue em pacientes desesperados nos anos seguintes. Ao todo, ele realizou dez transfusões de sangue. Apenas quatro pacientes sobreviveram. Alguns outros médicos também realizaram experimentos com a transfusão de sangue, com taxas de sucesso igualmente sombrias. Foram várias abordagens, incluindo as tentativas na década de 1870 de usar leite em transfusões (que eram, obviamente, inúteis e perigosas). Detalhes essenciais Blundell estava correto em acreditar que os seres humanos só devem receber sangue humano, porém não sabia de outro fato importante: os seres humanos só devem receber sangue de outros seres humanos específicos. É provável que a ignorância do pesquisador quanto a este fato simples tenha levado à morte de alguns de seus pacientes. O que torna essas mortes ainda mais trágicas é que a descoberta dos tipos sanguíneos, ocorrida algumas décadas mais tarde, foi o resultado de um procedimento bastante simples. As primeiras pistas sobre por que as transfusões de início do século XIX tinham falhado eram coágulos de sangue. Quando, no final de 1800, os cientistas misturaram o sangue de pessoas diferentes em tubos de ensaio, notaram que, por vezes, as células vermelhas do sangue grudavam umas às outras. Mas como o sangue geralmente vinha de pacientes doentes, os cientistas descartaram a aglutinação, considerando-a algum tipo de patologia que não valia a pena investigar. Ninguém tinha se preocupado em testar o sangue de pessoas saudáveis, até que Karl Landsteiner se perguntou o que aconteceria. Imediatamente, ele pôde ver que, às vezes, as misturas de sangue saudável também aglutinavam. Landsteiner, em seguida, começou a mapear o padrão de aglutinação, coletando sangue de membros de seu laboratório, incluindo dele próprio. Ele dividiu cada amostra em células vermelhas do sangue e plasma e, em seguida, combinou o plasma de uma pessoa com as células de outra. Landsteiner descobriu que esta aglomeração ocorria somente se ele misturava o sangue de certas pessoas. Ao trabalhar com todas as combinações, ele separou o participantes em três grupos, dando-lhes os nomes totalmente arbitrários de A, B e C. Depois disso, C passou a ser chamado de O e, alguns anos mais tarde, outros pesquisadores descobriram o grupo AB. Em meados do século XX, o pesquisador norte-americano Philip Levine descobriu outra maneira categorizar sangue, baseado na existência ou ausência do fato Rh. Um sinal de mais ou menos no final das letras de Landsteiner indica se uma pessoa tem o fator ou não. Quando Landsteiner misturou o sangue de pessoas diferentes, descobriu que havia certas regras. Se ele misturasse o plasma do grupo A com as células vermelhas do sangue de uma outra pessoa do grupo A, o plasma e as células permaneciam líquidos. A mesma regra aplicava-se ao plasma e os glóbulos vermelhos do grupo B. Contudo, se Landsteiner misturasse o plasma do grupo A com as células vermelhas do sangue do grupo B, as células aglutinavam (e vice-versa). O sangue de pessoas do grupo O era diferente. Quando Landsteiner misturava glóbulos vermelhos A ou B com plasma O, as células aglutinavam. Mas ele podia adicionar plasma A ou B aos glóbulos vermelhos O sem qualquer aglomeração. É esta agregação que faz com que as transfusões de sangue sejam tão potencialmente perigosas. Se um médico acidentalmente injetar sangue tipo B em alguém com sangue A, o corpo desta pessoa fica cheio de pequenos coágulos, que atrapalham a circulação, causam sangramento intenso, falta de ar e, potencialmente, morte. Entretanto, se esta mesma pessoa recebe sangue do tipo A ou O, fica bem. Landsteiner não sabia o que precisamente distinguia um tipo sanguíneo do outro. Gerações posteriores de cientistas descobriram que as células vermelhas do sangue em cada tipo são adornadas com moléculas diferentes na sua superfície. No sangue tipo A, por exemplo, as células constroem essas moléculas em duas etapas, como dois andares de uma casa. O primeiro andar é chamado antígeno H. Logo acima deste primeiro andar, as células constroem um segundo, chamado antígeno A. Pessoas com sangue tipo B, por outro lado, constroem o segundo andar da casa de uma forma diferente. E as pessoas com o tipo O constroem uma casa de piso único, tendo apenas o antígeno H. O sistema imunológico de cada pessoa torna-se familiarizado com o seu próprio tipo de sangue. Se as pessoas recebem uma transfusão do tipo errado de sangue, seu sistema responde com um ataque furioso, como se o sangue fosse um invasor. A exceção a esta regra é o sangue tipo O, já que tem apenas os antígenos H, que também estão presentes nos outros tipos de sangue. Para uma pessoa com tipo A ou B, ele parece familiar. Essa familiaridade faz com que as pessoas com sangue tipo O sejam doadores universais, e seu sangue seja especialmente valioso para hemocentros. Landsteiner relatou sua experiência em um artigo conciso de 1900. “Pode-se mencionar que as observações relatadas podem auxiliar na explicação de várias consequências de transfusões de sangue terapêuticas”, concluiu. A descoberta de Landsteiner abriu o caminho para transfusões de sangue seguras e em grande escala, e até hoje os bancos de sangue usam seu método básico de aglutinação de glóbulos como um teste rápido e confiável para descobrir os tipos de sangue. Todavia, ao mesmo tempo que Landsteiner respondeu uma questão antiga, levantou novas. Para que servem os tipos sanguíneos? Por que os glóbulos vermelhos se preocupam com a construção de suas casas moleculares? E por que as pessoas têm casas diferentes? Respostas científicas sólidas para essas questões têm sido difíceis de encontrar. E, entretanto, algumas explicações não científicas ganharam enorme popularidade. Dieta do Tipo Sanguíneo Em 1996, um naturopata chamado Peter D’Adamo publicou um livro chamado “Eat Right 4 Your Type” (“Coma o certo para o seu tipo”, em tradução livre). D’Adamo argumentou que devemos comer de acordo com o nosso tipo sanguíneo, a fim de harmonizar com a nossa herança evolutiva. Tipos de sangue, segundo ele, “parecem ter chegado em momentos críticos do desenvolvimento humano”. De acordo com D’Adamo, sangue tipo O surgiu em nossos ancestrais caçadores-coletores da África, o tipo A no alvorecer da agricultura e tipo B teria se desenvolvido entre 10 mil e 15 mil anos atrás, nas terras altas do Himalaia. O tipo AB, explica, é uma mistura moderna de A e B. A partir desses pressupostos, o escritor, em seguida, alega que o nosso tipo sanguíneo determina do que devemos nos alimentar. Os portadores do tipo A, por exemplo, baseado na agricultura, deveriam ser vegetarianos. Pessoas com o antigo tipo O, de caçadores, devem ter uma dieta rica em carne e evitar grãos e laticínios. Segundo o livro, os alimentos que não são adequados para o nosso tipo de sangue contêm antígenos que podem causar vários tipos de doenças. D’Adamo recomenda a sua dieta como uma maneira de reduzir infecções, perder peso, combater o câncer e diabetes e retardar o processo de envelhecimento. O livro já vendeu 7 milhões de cópias, foi traduzido para 60 idiomas e a ele se seguiu uma série de outros livros sobre dietas do tipo sanguíneo. D’Adamo também vende uma linha de suplementos adaptados a este tipo de regime em seu site. Como resultado, os pacientes muitas vezes perguntam aos seus médicos se a dieta do tipo sanguíneo realmente funciona. A melhor maneira de responder a essa pergunta é executar um experimento. Em “Eat Right 4 Your Type”, o autor escreveu que estava no oitavo ano de um experimento que duraria uma década envolvendo dietas do tipo sanguíneo em mulheres com câncer. Dezoito anos mais tarde, no entanto, os dados deste ensaio ainda não foram publicados. Recentemente, pesquisadores da Cruz Vermelha na Bélgica decidiram ver se havia alguma outra evidência em favor da dieta. Eles procuraram experimentos que medissem os benefícios de dietas baseada em tipos sanguíneos na literatura científica e, embora tenham examinado mais de mil estudos, seus esforços foram em vão. “Não há nenhuma evidência direta que apoie os efeitos na saúde da dieta ABO do tipo sanguíneo”, garante Emmy De Buck, da Cruz Vermelha belga. Depois que De Buck e seus colegas publicaram seu estudo no “American Journal of Clinical Nutrition”, D’Adamo respondeu em seu blog. Apesar da falta de evidências publicadas para apoiar a sua Dieta do Tipo Sanguíneo, alegou que a ciência por trás disso é válida. “Há boa ciência por trás das dietas do tipo sanguíneo, assim como houve uma boa ciência por trás dos cálculos matemáticos de Einstein que levaram à Teoria da Relatividade”, afirmou. Não obstante a comparação com Einstein, os cientistas que realmente pesquisam os tipos sanguíneos rejeitam categoricamente tal afirmação. “A promoção dessas dietas é errada”, declarou categoricamente um grupo de pesquisadores na revista “Transfusion Medicine Reviews”. Ainda que algumas pessoas que seguem a Dieta do Tipo Sanguíneo tenham alcançado resultados positivos, Ahmed El-Sohemy, cientista nutricional da Universidade de Toronto, no Canadá, diz que não existem motivos para pensar que os tipos de sangue tenham alguma relação com o sucesso da dieta. El-Sohemy é um especialista no campo emergente da nutrigenômica. Ele e seus colegas reuniram 1.500 voluntários em um estudo, acompanhando os alimentos que consomem e monitorando sua saúde. Eles estão analisando o DNA destas pessoas para ver como seus genes podem influenciar a forma como o alimento interage com seu organismo. Eles descobriram que duas pessoas podem responder de forma muito diferente à mesma dieta baseada em seus genes. “Quase todas as vezes que dou palestras sobre isso, alguém no final me pergunta, ‘Ah, isso é como a Dieta do Tipo Sanguíneo?’”, conta El-Sohemy. “Nenhuma das coisas no livro é apoiada pela ciência”, diz, categórico. El-Sohemy e seus colegas dividiram os participantes de sua pesquisa por suas dietas. Alguns faziam as dietas à base de carne que D’Adamo recomenda para o tipo O, alguns comiam uma dieta principalmente vegetariana, como recomendado para o tipo A, e assim por diante. Os cientistas deram a cada pessoa no estudo uma pontuação considerando o quão bem se adaptaram a tal regime. Os pesquisadores descobriram que algumas das dietas poderiam fazer bem às pessoas. Pessoas que ficaram com a dieta do tipo A, por exemplo, apresentaram pontuações menores no Índice de Massa Corporal, cinturas menores e pressão arterial mais baixa. As pessoas na dieta tipo O tinham triglicerídeos mais baixos. A dieta do tipo B – rica em produtos lácteos – não trouxe benefício algum. “O problema”, explica El-Sohemy, “é que isso não tem nada a ver com o tipo de sangue das pessoas”. Em outras palavras, se você tem sangue tipo O, você ainda pode se beneficiar da dieta para o tipo A tanto quanto alguém com sangue tipo A – provavelmente porque os benefícios de uma dieta principalmente vegetariana podem ser aproveitados por qualquer pessoa. Qualquer pessoa em uma dieta tipo O corta uma grande quantidade de carboidratos, o que beneficiaria praticamente qualquer um. Da mesma forma, uma dieta rica em produtos lácteos não é saudável para qualquer pessoa – não importa o seu tipo de sangue. Evolução do sangue Um dos apelos da Dieta do Tipo Sanguíneo é a história das origens dos nossos tipos sanguíneos diferentes. Mas essa história tem pouca semelhança com a evidências reunidas pelos cientistas sobre a sua evolução. Após Landsteiner ter descoberto os tipos de sangue humano em 1900, outros cientistas se perguntaram se o sangue de outros animais também vinham em diferentes tipos. Descobriu-se que algumas espécies de primatas tinham um sangue que se misturava bem com certos tipos de sangue humano, porém levou um tempo para os pesquisadores acharem uma utilidade para esses resultados. O fato de que o sangue de um macaco não se aglutina com sangue tipo A, por exemplo, não significa necessariamente que o macaco herdou o mesmo tipo de gene, compartilhado por um ancestral comum. O sangue tipo A pode ter evoluído mais de uma vez. A incerteza lentamente começou a se dissolver na década de 1990, quando pesquisadores decifraram a biologia molecular dos tipos de sangue. Eles descobriram que um único gene, chamado ABO, é responsável pela construção do segundo andar da casa do tipo sanguíneo. A versão A do gene difere em algumas mutações-chave do B. As pessoas com sangue tipo O têm mutações no gene ABO que as impedem de fazer a enzima que constrói os antígenos A ou B. Foi então que os cientistas puderam começar a comparar o gene ABO de humanos com outras espécies. Laure Ségurel e seus colegas do Centro Nacional de Pesquisa Científica em Paris (França) conduziram o levantamento mais ambicioso de genes ABO em primatas até o momento. O grupo descobriu que os nossos tipos sanguíneos são muito antigos. Macacos gibões e os seres humanos têm variantes dos tipos sanguíneos A e B que vêm de um ancestral comum que viveu há 20 milhões de anos. É possível que nossos tipos sanguíneos sejam ainda mais antigos, mas é difícil saber o quanto. Os cientistas ainda têm de analisar os genes de todos os primatas, por isso não conseguem ver quão disseminadas são nossas próprias versões de genes entre outras espécies. Contudo, as evidências reunidas até agora já revelam uma história turbulenta. Em algumas linhagens, mutações “fecharam” um tipo sanguíneo ou outro. Os chimpanzés, nossos parentes mais próximos, têm apenas os tipos A e O. Gorilas, por outro lado, têm apenas o B. Em alguns casos, as mutações alteraram o gene ABO, transformando o sangue tipo A em B. Mesmo em humanos, surgem repetidamente mutações que impedem que a proteína ABO construa o segundo andar da casa do tipo sanguíneo. Estas mutações transformam os tipos de sangue A ou B em O. “Existem centenas de maneiras de ser tipo O”, diz Westhoff. Afinal, por que existem tipos de sangue diferentes? Não é difícil de deduzir que, já que os nossos tipos sanguíneos têm existido há milhões de anos, devem ter algum benefício biológico óbvio. Caso contrário, por que os glóbulos iriam se dar o trabalho de construir estas estruturas moleculares complexas? No entanto, parece que não é tão simples assim. Os cientistas têm se esforçado para identificar os benefícios que gene ABO oferece. “Não há uma explicação boa e definitiva, embora muitas respostas tenham sido dadas”, diz Antoine Blancher, da Universidade de Toulouse, na França. A manifestação mais evidente da nossa ignorância sobre a vantagem dos tipos sanguíneos veio à tona em Bombaim, na Índia, em 1952, quando médicos descobriram que alguns pacientes não tinham o tipo de sangue ABO – nem A, nem B, nem AB, nem O. Se A e B são edifícios de dois andares e O é uma casa de um andar, então, esses pacientes de Bombaim têm apenas um lote vazio. Desde sua descoberta, esta condição – chamada fenótipo de Bombaim – apareceu em outras pessoas, embora continue a ser extremamente rara. E, até onde os cientistas sabem, ela não causa mal algum. O risco médico conhecido apenas apresenta-se quando é hora de uma transfusão de sangue. Aqueles com o fenótipo de Bombaim só podem aceitar o sangue de outras pessoas com a mesma condição. Mesmo tipo de sangue O, supostamente o universal, pode matá-los. O fenótipo de Bombaim prova que não há uma vantagem de vida ou morte imediata em termos tipos sanguíneos ABO. Alguns cientistas pensam que a explicação para eles pode estar na sua variação. Isso porque diferentes tipos de sangue podem nos proteger de doenças diferentes. Os médicos começaram a notar uma ligação entre os tipos de sangue e diferentes doenças no meio do século XX, e a lista continua a crescer. “Ainda há muitas associações a serem encontradas entre os grupos sanguíneos e infecções, câncer e uma série de doenças”, explica Pamela Greenwell, da Universidade de Westminster (Inglaterra). Greenwell explica que portadores do tipo A estão sob maior risco de contrair vários tipos de câncer – como algumas formas de câncer de pâncreas e leucemia -, doenças cardíacas, varíola e malária grave. Já pessoas com tipo O, por exemplo, são mais propensas a terem úlceras e o tendão de Aquiles rompido. Estas ligações entre os tipos de sangue e doenças são misteriosamente arbitrárias e os pesquisadores só começaram a trabalhar nas razões por trás de algumas delas. Por exemplo, Kevin Kain e seus colegas da Universidade de Toronto, no Canadá, têm estudado por que as pessoas com o tipo O estão melhor protegidas contra a malária severa do que pessoas com outros tipos de sangue. Seus estudos indicam que as células do sistema imunológico reconhecem mais facilmente as células do sangue infectadas se elas são do tipo O, em vez de outros tipos de sangue. Ainda mais intrigantes são as ligações entre os tipos de sangue e doenças que não têm nada a ver com o sangue. Um exemplo é o norovírus. Este patógeno desagradável é a ruína de navios de cruzeiro, pois pode se espalhar por centenas de passageiros, causando vômitos e diarreia violentos. Ele invade as células que revestem o intestino, deixando as células do sangue intactas. No entanto, o tipo sanguíneo das pessoas influencia o risco de serem infectadas por uma estirpe particular do norovírus. A solução para este mistério particular pode ser encontrada no fato de que as células do sangue não são as únicas que produzem os antígenos do tipo sanguíneo. Eles também são produzidos por células nas paredes dos vasos sanguíneos, nas vias respiratórias, pele e cabelo. Muitas pessoas também secretam antígenos dos tipos de sangue em sua saliva. Os norovírus nos deixam doentes ao agarrar-se aos antígenos do tipo sanguíneo produzidos pelas células do intestino. No entanto, um norovírus só pode se prender firmemente em uma célula se suas proteínas se encaixarem no antígeno de tipo sanguíneo da célula. Portanto, é possível que cada cepa de norovírus tenha proteínas que são adaptadas para se anexar firmemente a alguns destes antígenos, mas não todos. Isso explicaria por que o nosso tipo de sangue pode influenciar quais cepas de norovírus podem nos fazer mal. Isso também pode ser um indício a respeito de por que uma variedade de tipos de sangue têm persistido por milhões de anos. Nossos ancestrais primatas foram trancados em uma gaiola interminável com inúmeros patógenos, incluindo vírus, bactérias e outros inimigos. Alguns desses agentes patogênicos podem ter se adaptado para explorar diferentes tipos de antígenos do tipo sanguíneo. Os patógenos que eram mais adequados para o tipo de sangue mais comum teriam se saído melhor, já que tinham o maior número de hospedeiros para infectar. Contudo, aos poucos, eles podem ter destruído essa vantagem por matar seus hospedeiros. Enquanto isso, primatas com tipos de sangue mais raros teriam prosperado, graças a sua proteção contra alguns dos seus inimigos. Analisar essa possibilidade deixa tudo ainda mais intrigante, nos levando a crer que os tipos sanguíneos nada tem a ver com o sangue, em si. Eles podem ter surgido, e permanecido, como um mecanismo evolutivo de defesa contra determinadas doenças, estando diretamente ligados à sobrevivência da espécie. [Gizmodo]

Problemas de pele? 5 sinais para você ficar alerta

O maior órgão do corpo, a pele, também costuma ser relacionado como uma vitrine da qualidade da saúde e do bem-estar geral de uma pessoa, uma vez que pode apresentar pistas sobre como vão os outros órgãos. De acordo com os dermatologistas, as alterações na pele, que são as mais variadas possíveis, às vezes podem ser os primeiros sinais de problemas mais sérios em outras partes do corpo. Tanto que para Doris Day, dermatologista em um hospital de Nova York, nos Estados Unidos, os dermatologistas são como “detetives médicos” que estão sempre a procura de pistas do que está de fato acontecendo com um paciente. Essencialmente, o que ela quis dizer é que problemas de pele geralmente não são simplesmente problemas de pele. Eles têm uma causa mais profunda e podem ser apenas um dos sintomas de casos médicos mais sérios. Quando você detectar alguns desses sinais, talvez seja a hora de procurar um médico. 1. Erupções cutâneas e manchas na pele Uma feridinha na pele pode ser uma problema maior que simplesmente estético. Em geral, uma erupção que não responde ao tratamento e é acompanhada de outros sintomas – como febre, dor nas articulações e dores musculares – pode ser um sinal de um problema interno ou infecção. Uma erupção também pode ocorrer devido a uma alergia ou sinalizar uma reação a um medicamento, de acordo com a Academia Americana de Dermatologia (AAD). Uma erupção na parte de trás do pescoço ou em torno dos braços, normalmente com uma cor ligeiramente mais escura do que o tom de pele normal da pessoa, é um sinal de que o paciente pode ter aumentado o risco de desenvolver diabetes do tipo 2, segundo a Dr. Day. Menos comum, mas ainda preocupante, é a erupção aveludada – chamado acantose nigricans -, que pode ser um sinal de alerta de câncer em um órgão interno, como o estômago ou fígado, de acordo com a Mayo Clinic. Uma erupção roxa nas pernas que não responde à medicação também pode ser um sinal de infecção da hepatite C, alerta a Dr. Day. 2. Bronzeamento da pele e outras descolorações Em pessoas com diabetes, um bronzeamento de pele pode ser um sinal de um problema com o metabolismo do ferro, de acordo com a dermatologista Doris Day. A coloração amarelada da pele, por outro lado, pode ser sinal de insuficiência hepática, e pode ocorrer junto com o amarelamento do branco dos olhos, conclui a médica. Um escurecimento da pele – principalmente visível em cicatrizes e dobras da pele, bem como sobre as articulações, como cotovelos e joelhos – poderia ser um sinal de doença hormonal, como a doença de Addison, que afeta as glândulas supra-renais. 3. Novos crescimentos de pele As pessoas que veem novos crescimentos de pele devem sempre prezar por um acompanhamento médico, uma vez que verrugas e coisas parecidas podem ser um sinal de câncer de pele, ou de alguma outra doença interna ou síndrome genética, de acordo com o AAD. Por exemplo, formações amarelas nos braços, pernas ou nas costas poderiam ser uma consequência de altos níveis de triglicerídeos, sinalizando diabetes não controlada, dizem os especialistas. O padrão de distribuição de espinhas também pode fornecer pistas sobre um problema de saúde subjacente. De acordo com a Dr. Day, nas mulheres, por exemplo, a acne que aparece principalmente ao longo da face inferior ou linha da mandíbula pode ser um sinal da síndrome do ovário policístico. Essa condição muitas vezes faz com que apareçam outros sintomas também, como alterações de peso, queda de cabelo e aumento do crescimento de pelos no rosto, conclui a médica. 4. Alterações nas unhas Também de acordo com a dermatologista Doris Day, alterações na cor ou forma das unhas muitas vezes podem ser um sinal de problemas de deficiência de nutrientes ou no funcionamento dos órgãos. Por exemplo, alterações das unhas que se parecem com micose, na verdade, podem ser um resultado de psoríase nas unhas, mesmo que a condição afete tipicamente a pele. Pessoas que também têm dor nas articulações podem ter uma forma de artrite chamada artrite psoriática, alerta Day. Além disso, problemas de fígado e problemas renais às vezes podem causar alterações na cor das unhas. 5. Mudanças na elasticidade da pele e ressecamento Problemas de pressão arterial alta e rins, por vezes, acabam provocando um engrossamento da pela na perna, segundo a Dr. Day. Além disso, a pele muito seca, com coceira, pode ser um sinal de problemas hormonais, como uma disfunção da tiroide, completa ela. Ainda de acordo com a Dr. Day, se você tiver mais de 30 ou 40 anos, não teve eczema quando criança e, de repente, sua pele ficou seca e com aspecto de quem está com eczema, isso poderia ser sinal de um problema hormonal como hipotiroidismo. Pessoas com uma doença auto-imune chamada esclerose sistêmica podem sentir um inchaço e também endurecimento da pele. Em casos mais graves, isso pode resultar no endurecimento de órgãos internos, tais como os pulmões ou até o coração. Por outro lado, a pele muito flácida e sedosa costuma ser um sintoma de uma doença rara do tecido conjuntivo, chamada cutis laxa, que por sua vez pode ser um sinal de cânceres no sangue, tais como o linfoma ou mieloma múltiplo, e pode progredir para afetar órgãos internos. De qualquer forma, se você está com esse ou qualquer outro problema de pele, o melhor a fazer é procurar um especialista para avaliar seu caso. [LiveScience]

Vem ai o REFIS do lixo

A bolsa de apostas está aceitando palpites, o meu é que os prefeitos vão vencer o braço de ferro do lixo e ganhar mais prazo para a erradicação dos lixões em todo o Brasil. Dia 2 de agosto é a data limite para que todos os lixões estejam erradicados das cidades brasileiras. Apesar disso não ser novidade para ninguém, estima-se que em torno de 80% dos 5.565 municípios do país não vão cumprir o compromisso estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, assinada pelo ex-presidente Lula em dezembro de 2010. Em 2012, às vésperas da eleição dos atuais prefeitos, a ministra Isabela Teixeira, do Meio Ambiente, apostava que os recém eleitos fariam fila nos corredores de Brasília pedindo prorrogação dos prazos. Isso realmente aconteceu, no entanto o governo foi firme e não concedeu nenhum adiamento. O tempo passou e tirando alguns esforços aqui e ali, como a cidade de São Paulo, que acaba de inaugurar um grande sistema de tratamento de resíduos recicláveis, e o Rio de Janeiro, que entre outras coisas desativou um dos mais famosos aterros do país, o de Gramacho, muito ainda há por se fazer país a fora. Agora os tempos são outros, o cacife político está nas mãos dos prefeitos, que podem apoiar ou boicotar pretensões ao Planalto e ao Congresso , ou mesmo aos governos estaduais. Quem teria coragem de apertar eleitores tão poderosos, aplicando as sanções e multas previstas na PNRS? Não sou afeito a jogos de azar, mas estou apostando todas as minhas fichas em um REFIS do Lixo, uma espécie de anistia com data marcada, talvez empurrando o prazo para os eleitos em 2016. O tema é importante, mas não o suficiente para atrapalhar as eleições quase gerais de outubro próximo. Existe uma mobilização da sociedade para garantir os avanços na gestão do lixo. As empresas não devem receber qualquer tipo de anistia em seus prazos, por isso mesmo estão correndo para cumprir suas metas em logística reversa, reuso e reciclagem. Ações nesse sentido estão fazendo bem para a imagem de muitas empresas, que usam seus avanços na gestão de resíduos nos planos de marketing. A atenção agora deve ser em Brasília, onde mais uma vez políticas públicas e políticas eleitorais entram em conflito. As fichas estão na mesa. (Envolverde) * Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde e especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável. (Envolverde)

Meningite transmitida por caramujo espalha-se pelo Brasil

Uma nova forma de meningite está se espalhando pelo Brasil. Transmitida principalmente por moluscos, incluindo o caramujo gigante africano, a infecção é causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis. Chamada meningite eosinofílica, ou angiostrongilíase cerebral, ela já foi diagnosticada em seis estados, nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. O levantamento faz parte de um estudo de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, da PUC do Rio Grande do Sul e da Universidade de Khon Kaen (Tailândia). Considerando que o verme foi detectado no Brasil há menos de dez anos, os autores ressaltam que os profissionais de saúde precisam estar atentos para identificar novos casos e a população deve adotar medidas de prevenção simples, principalmente no contato com os caramujos. Originário da Ásia, o A. cantonensis foi associado a um caso de meningite pela primeira vez no território brasileiro em 2006. Desde então, foram confirmados 34 casos da infecção em pacientes de Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, com um óbito. O estado do Rio Grande do Sul é o único onde o caramujo gigante africano ainda não foi identificado desde a sua introdução no Brasil, na década de 1980. Em 11 estados já foram coletados caramujos desta espécie infectados pelo verme A. cantonensis. Ou seja: ainda que nem todos os estados tenham registrado casos da meningite até o momento, há potencial para a transmissão da doença em praticamente todo o país. Ratos e caramujos "Esse parasita é próprio de roedores, especialmente da ratazana, um animal que tem capacidade de sobreviver em praticamente qualquer ambiente e também costuma viajar nos navios. O aumento do transporte marítimo entre os países propicia a introdução do verme em novas áreas", explica o médico Carlos Graeff-Teixeira, um dos autores da pesquisa. No Brasil, a disseminação do parasita é favorecida pelo grande número de moluscos, em especial da espécie Achatina fulica - o chamado caramujo gigante africano, que se tornou uma praga no país. Assim como os ratos, os moluscos fazem parte do ciclo de vida do verme. As formas adultas do A. cantonensis são encontradas nos roedores: é neles que os vermes se reproduzem, garantindo sua continuidade. Eliminadas nas fezes destes animais, as larvas do parasita são ingeridas pelos caramujos. Dentro dos moluscos as larvas vão crescer, atingindo a fase em que se tornam capazes de infectar animais vertebrados. "O ciclo se fecha quando os ratos comem os moluscos infectados. Porém, as pessoas também podem ser infectadas se ingerirem os caramujos ou a baba (muco) liberada por eles, contendo as larvas do parasita," explica a pesquisadora Silvana Thiengo. Ela destaca que o verme infecta diversos tipos de moluscos, incluindo algumas espécies nativas do Brasil. Todas elas podem propagar a doença, mas o caramujo gigante africano tem sido o vetor mais frequente. Meningite transmitida por caramujo espalha-se pelo Brasil
Medidas de prevenção Crianças e indivíduos com deficiência mental, assim como pessoas que trabalham em hortas e jardins podem ser considerados grupos de risco para a doença. O consumo de verduras, legumes e frutas crus sem a higienização adequada também pode levar à infecção, uma vez que os moluscos liberam muco sobre os alimentos e também podem acabar sendo cortados e ingeridos despercebidamente junto com saladas ou temperos. Catar os caramujos é a principal medida recomendada para eliminá-los, sendo fundamental evitar o contato dos moluscos com as mãos - sempre use luvas. Os animais e seus ovos recolhidos - eles ficam semienterrados - devem ser colocados em um recipiente, como balde ou bacia, e submersos em solução preparada com uma parte de hipoclorito de sódio (água sanitária) para três de água. Após 24 horas de imersão, a solução pode ser dispensada e as conchas devem ser colocadas em um saco plástico e descartadas no lixo comum. Meningite eosinofílica A meningite causada por A. cantonensis começa com a ingestão do caramujo ou de muco do molusco infectado. Uma vez ingeridas, as larvas do verme migram para o sistema nervoso central e se alojam nas meninges - membranas que envolvem o cérebro. O organismo inicia uma reação inflamatória, que resulta no quadro de meningite. Geralmente, a doença é autolimitada, pois os parasitas não conseguem se reproduzir no ser humano e morrem naturalmente. No entanto, alguns pacientes desenvolvem formas graves e o índice de mortes é de 3%. O atraso no diagnóstico é um dos fatores que contribuem para o agravamento do quadro: cada dia de dor de cabeça prolongada aumenta em 26% as chances de coma. Embora não exista uma medicação com eficácia comprovada para matar os parasitas, o tratamento é importante para amenizar os sintomas e reduzir as chances de agravamento da doença.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Expectativa de vida dos brasileiros aumenta 11,2 anos

A expectativa de vida no Brasil aumentou 17,9% entre 1980 e 2013, passando de 62,7 para 73,9 anos, um aumento real de 11,2 anos. O avanço foi apontado no Relatório de Desenvolvimento Humano 2014 divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro, o crescimento foi possível em razão das medidas de combate à desnutrição, redução da mortalidade materna e infantil, ampliação do acesso a vacinas e medicamentos gratuitos, melhoria do atendimento às mães e bebês, enfrentamento das doenças crônico-degenerativas e das chamadas mortes violentas, entre outras ações na área de atenção básica e urgência e emergência. O relatório colocou o Brasil na 79ª posição do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 187 países, com um valor de 0,744 (categoria de Alto Desenvolvimento Humano). Entre 1980 e 2013, o valor do IDH do Brasil aumentou 36,4%. O índice está acima da média de 0,735 para os países do grupo de Alto Desenvolvimento Humano e acima da média de 0,740 para os países da América Latina e Caribe. Também houve crescimento na expectativa da vida nos últimos anos: em 2010, a estimativa era de 73,1 anos, já no ano passado passou para 73,9 anos. Os dados hoje podem ser ainda melhores, já que o PNUD utilizou dados de uma projeção de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Caso considerasse as estatísticas de 2013 - já disponibilizados pelo IBGE - a esperança de vida ao nascer seria de 74,8 anos. Se fossem considerados esses números a outros dados defasados, como o de escolaridade, o país sairia da 79ª posição para a 67ª. Ficar menos tempo sentado aumenta expectativa de vida Avanços Vários fatores contribuíram para o aumento da expectativa de vida no Brasil. Entre 1996 e 2006, o país reduziu pela metade o índice de desnutrição infantil - passou de 13,4% para 6,7%. Entre as ações de combate à desnutrição, destacam-se a expansão da oferta de doses de vitamina A e de sulfato ferroso, além da melhoria da vigilância nutricional em municípios com índice de desnutrição superior a 10%. Suplementos vitamínicos diminuem expectativa de vida de mulheres Outro ponto forte foi a imunização da população. Atualmente, são oferecidos gratuitamente 42 tipos de imunobiológicos (25 vacinas, 13 soros heterológos e quatro soros homólogos) distribuídos em 34 mil postos vacinação. Desde 2010, foram incluídas novas vacinas para proteger a população, como a meningocócica C conjugada, tetraviral e a contra o vírus HPV. Já o Programa Farmácia Popular disponibiliza 113 itens (entre medicamentos e produtos de saúde) na rede pública e 25 em drogarias particulares. Desde 2011, mais de 26 milhões de pessoas já foram beneficiadas. Além dos itens gratuitos para tratamento de diabetes, hipertensão e asma, os demais produtos podem ter até 90% de desconto na compra. Para idosos, também são disponibilizadas fraldas geriátricas. Houve ainda redução de 82,2% do risco de morte devido a aborto e ampliação da estratégia Rede Cegonha, implantada em 2011 para incentivar o parto normal humanizado e intensificar a assistência integral à saúde de mães e filhos, desde o planejamento reprodutivo até o segundo ano de vida do filho. A Rede Cegonha tem garantido atendimento de qualidade a 2,6 milhões de gestantes pelo SUS em 5.488 municípios. http://www.diariodasaude.com.br/

Hepatite mata 1,4 milhão por ano, mas pode ser combatida, diz OMS

A hepatite é uma doença que mata quase tanto quanto a Aids, com 1,4 milhão de mortos a cada ano, de acordo com vários especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por ocasião do Dia Mundial contra a Hepatite, lembrado neste 28 de julho, cientistas afirmaram que esta doença, que pode causar câncer, pode ser combatida. Um total de 1,5 milhão de pessoas morreram em consequência da Aids em 2013. Do 1,4 milhão de pessoas mortas pela doença, 90% tinham contraído hepatite B e C, responsáveis por dois terços dos cânceres de fígado no mundo. “A melhor forma de prevenção contra o câncer de fígado ou as cirroses hepáticas é a prevenção e o tratamento da hepatite viral”, declarou o professor Samuel So, cirurgião e professor da Universidade de Stanford (Califórnia). “Se agirem assim, salvarão muitas vidas e, ao mesmo tempo, economizarão muitos custos sanitários”, declarou à imprensa em Genebra. Com este objetivo, Samuel So, acompanhado de especialistas da OMS, defendeu um reforço dos testes que detectam a doença, levando em conta que estima-se em 500 milhões o número de pessoas portadoras do vírus da hepatite, mas muitas delas não o sabem. Segundo o doutor Stefan Wiktor, encarregado do programa de luta contra a hepatite na OMS, há novos tratamentos contra a doença, com um índice de cura de 95%, o que representa uma “revolução terapêutica”. (Fonte: G1)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Terra pode estar no meio de ‘onda de extinção’, alerta revista ‘Science’

Enquanto o número de seres humanos na Terra quase dobrou nas últimas quatro décadas, o número de insetos, lesmas, minhocas e crustáceos recuou 45%, revelaram cientistas nesta quinta-feira (24). Além disso, a maior perda de espécies selvagens grandes ou pequenas em todo o planeta pode ser uma importante causa da crescente violência e inquietação, destacou outra pesquisa publicada pela revista “Science”, como parte de uma edição especial sobre o desaparecimento dos animais. Na introdução da edição, a revista destaca que a Terra já sofreu cinco grandes eventos de extinção em massa e que, neste momento, podemos estar passando pela “sexta onda de extinção”. Os invertebrados são importantes para o planeta porque polinizam cultivos, controlam pragas, filtram a água e transportam nutrientes no solo. Entre os animais vertebrados que vivem no solo, 322 espécies desapareceram nos últimos cinco séculos e as espécies remanescentes tiveram um declínio de cerca de 25%, destacou o estudo. “Ficamos chocados ao encontrar perdas similares nos invertebrados como nos animais maiores, pois pensávamos anteriormente que os invertebrados fossem mais resilientes”, disse Ben Collen, da Universidade College de Londres. Os cientistas atribuem o declínio de invertebrados a dois principais fatores: a perda de habitat e as mudanças climáticas globais. Extinção e violência – Segundo eles, este declínio planetário de espécies selvagens pode estar provocando mais conflitos violentos, crime organizado e trabalho infantil ao redor do mundo. As razões para esta intensificação se devem à escassez de alimentos e à perda de empregos, resultando em mais tráfico de pessoas e outros crimes, destacou o estudo, realizado por cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley. “Este artigo identifica o declínio da vida selvagem como uma fonte de conflitos sociais e não um sintoma”, disse o principal autor do estudo, Justin Brashares, professor associado de ecologia e preservação da UC Berkeley. “Bilhões de pessoas dependem direta e indiretamente de fontes silvestres de carne para seu sustento e este recurso está diminuindo”, acrescentou. O estudo destacou, por exemplo, que o aumento da pirataria na Somália se deveu a disputas sobre os direitos de pesca. “Para pescadores somalis e para milhões de outros, os peixes e os animais silvestres são o único meio de sustento, portanto quando isto foi ameaçado por frotas pesqueiras internacionais, medidas drásticas foram tomadas”, afirmou o co-autor do estudo, Justin Brashares. Os cientistas também apontaram para o aumento do tráfico de presas de elefantes e chifres de rinocerontes como uma evidência da crescente indústria criminal vinculada aos animais ameaçados. “As perdas de espécies selvagens puxam o tapete de sociedades que dependem desses recursos”, afirmou o co-autor do estudo, Douglas McCauley, professor assistente da Universidade de Santa Bárbara. “Não estamos apenas perdendo espécies. Estamos perdendo crianças, dividindo comunidades e incentivando o crime. Isso torna a preservação de espécies selvagens um trabalho mais importante que nunca”, concluiu. (Fonte: G1)

Mapas mostram implicações das mudanças climáticas no mundo

isando reunir dados básicos sobre mudanças climáticas de uma maneira simples, o serviço meteorológico britânico, Met Office, elaborou um pôster com sete mapas mundiais.
Com a grande quantidade de informações disponíveis atualmente sobre interações entre as alterações no clima e seus efeitos sobre a humanidade, é cada vez mais difícil ter um panorama do que isso significa em um cenário mais amplo. Focando nesse esclarecimento, o Met Office criou um pôster (Clique aqui para ver o pôster ampliado e os mapas com maiores detalhes) baseado em informações técnicas provenientes da análise de dezenas de modelagens e vários parâmetros. O pôster é um bom começo para as pessoas que estão buscando conhecimento sobre a questão climática, sendo na verdade um ‘teaser’ para um relatório técnico bem mais detalhado, que inclui informações que não foram possíveis de serem apresentadas nos mapas. A publicação “Dinâmica humana das mudanças climáticas” visa ilustrar alguns dos impactos das alterações climáticas e populacionais no contexto de um mundo globalizado. Dois tipos de informações foram incluídos nos mapas: a dinâmica humana atual; e as projeções futuras das alterações no clima e na população entre a linha de base atual (1981-2010) e o final do século 21 (2071-2100). A publicação usou um cenário ‘business as usual’ (se nada for feito) para as emissões de gases do efeito estufa, não incluindo qualquer presunção sobre capacidade de adaptação às mudanças climáticas e nem sobre a implantação de medidas de mitigação. Para ilustrar como as informações do mapa podem ser interpretadas, o Met Office disponibilizou também um panorama do cenário global como suplemento, e uma série de estudos de caso regionais são apresentados no próprio mapa. Por exemplo, para a produtividade de culturas como o trigo e a soja, as projeções indicam reduções no Brasil e no norte da América do Sul e incrementos sutis no sul dessa região. As projeções indicam que a América do Sul deve apresentar reduções na precipitação, aumento no número de dias secos e maiores temperaturas, combinados com o aumento na demanda por água para irrigação. É possível constatar através das ilustrações que os diferentes impactos (tanto positivos quando negativos) e os contextos específicos nos quais ocorrem interagem de formas múltiplas e complexas. O Oriente Médio, o Norte da África e partes da Ásia, por exemplo, são grandes importadores de trigo, soja, arroz e milho; isso os conecta aos efeitos das mudanças climáticas nos países exportadores do sul e sudeste asiáticos e na América do Sul e do Norte. “Os futuros impactos das mudanças climáticas serão sentidos tanto localmente quanto globalmente, com as principais regiões importadoras sendo conectadas através do comércio aos impactos locais das alterações no clima das principais regiões exportadoras”, aponta a publicação. * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.

Roupa com PET é tida como ‘ecológica’, mas polui o mar, alertam cientistas

Está na moda. Cada dia uma famosa marca se alia a um cantor famoso para produzir roupas feitas de PET. Recentemente foi a vez de Pharrel Williams propor a fabricação de calças jeans a partir de garrafas que estão nos oceanos. O objetivo desta iniciativa é reduzir o impacto causado por plásticos nos oceanos e praias. No entanto, novas pesquisas apontam que fragmentos de PET que saem na lavagem das roupas acabam nos mares e são cerca de 85% da poluição marinha. O Politereftalato de Etileno, nome técnico do material que chamamos de PET, é um plástico da família dos poliésteres (muito comuns em roupas sintéticas). “O PET é quimicamente igual ao poliéster das roupas sintéticas” explica o engenheiro e professor da UNESP, Sandro Mancini. Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, o PET não foi desenvolvido inicialmente para ser usado como garrafas de refrigerante. O material foi originalmente desenvolvido para o setor têxtil e depois migrou para o setor de embalagens de bebidas. “O processo de transformação (reciclagem) de garrafas PET em fios, para serem usados em fabricação de roupas é simples”, explica Mancini. “É preciso moer as garrafas, lavar os flocos do material moído, secá-los e derretê-los. Neste estágio do processo o material apresenta consistência viscosa, como mel, e então essa massa é puxada até formar um fio, que posteriormente será usado para compor um tecido”. Este processo de reciclagem é sustentável e aumenta o ciclo de vida do PET. Mas a ciência descobriu que muitos dos fragmentos plásticos microscópicos que estão nos oceanos vêm das máquinas de lavar roupas. “As formas mais abundantes de poluição marinha por resíduos sólidos não são garrafas ou embalagens, mas sim pequenas fibras plásticas que respondem por cerca de 85% do material encontrado nas praias de todo o mundo. E mais, estas fibras são idênticas às usadas na indústria têxtil” é o que revela o pesquisador inglês Mark Browne, da Universidade da Califórnia, EUA, em sua palestra em evento que fomenta idéias para um mundo mais sustentável que aconteceu na Nas (Agência Espacial Norte-Americana). O trabalho que identificou a fonte destas fibras plásticas foi publicado em 2011 no Jornal Environmental Science e Tecnology. Ainda segundo Browne, 78% dos químicos tóxicos mais persistentes no meio ambiente são encontrados nestas fibras. A concentração pode ser milhões de vezes maior nestas fibras do que na água do mar. Muitos animais marinhos são contaminados ao ingerir estas fibras. E o pior, podemos, inclusive, estar ingerindo estas fibras plásticas ao comer alguns animais marinhos como o mexilhão, que absorvem estas fibras ao filtrar a água do mar, alerta o especialista. O tratamento de esgoto, como o que temos aqui no Brasil, não é capaz de reter essas fibras microscópicas provenientes da lavagem das roupas sintéticas. Processos mais modernos de tratamentos de esgoto utilizam membranas especiais que filtram o esgoto e são capazes de reter esses fragmentos, no entanto, o uso desta tecnologia não é usual no país. A poluição marinha por fibras plásticas ainda é objeto de estudo da ciência, e muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas para se entender os reais impactos deste material no ecossistema marinho. Como forma de reduzir esta constante contaminação ao ambiente marinho, Browne e um grande grupo de cientistas de diversas universidades estão reunidos para desenvolver novas tecnologias na fabricação de produtos têxteis sintéticos mais resistentes, que não liberem tantas fibras ao serem lavados. Brasil, de olho no problema – Pesquisadoras da Universidade de São Paulo, Marina Santana e Liv Ascer procuram avaliar possíveis impactos dos microplásticos em organismos marinhos. “Essa ingestão acidental de microplásticos pode funcionar como um propulsor para diversos efeitos fisiológicos e ecológicos que, a longo (ou curto, não se sabe) prazo, venham a desestruturar interações entre comunidades e ecossistemas. Ainda é cedo para chegar a esta conclusão, precisamos aguardar mais resultados da pesquisa” explica Marina. “Sabemos que os microplásticos estão no mar e que a tendência é que sua quantidade aumente com o tempo, no entanto, não sabemos todos os impactos e efeitos causados nos animais que o ingerem. A situação é muito preocupante e mais esforços deveriam ser direcionados para entendermos mais sobre este tema”, alerta a pesquisadora. Limpeza de praias para roupas – A Global Garbage, ONG alemã que desenvolve trabalhos relacionados ao lixo marinho aqui no Brasil, chegou a ser contatada pela Bionic Yarn, empresa ligada à produção de roupas de Pharwell Williams, para verificar a possibilidade de utilizar garrafas PET recolhidas de praias brasileiras para a fabricação das roupas. A ONG declarou que participaria destas atividades se o recolhimento das garrafas acontecesse em praias brasileiras onde não existe atividades de limpeza. “Praias urbanas já são limpas frequentemente, queremos atuar em locais onde este material não tem perspectivas de ser recuperado e vai se acumular ao longo do tempo. Já identificamos na costa baiana, onde atuamos desde 2001, diversos pontos de acúmulo de lixo marinho, áreas praticamente inabitadas”, explica Fabiano Barretto, fundador da Global Garbage. O convênio acabou não sendo firmado pois, dentre outros motivos, a Bionic Yarn afirmou que o valor da tonelada de PET ficaria muito cara. “O acesso a estes locais é mais complicado e acaba encarecendo a logística de recuperação e transporte dessas garrafas. Parte deste dinheiro seria destinado às organizações sociais das comunidades mais próximas destas áreas de acúmulo de lixo marinho para realizarem, em conjunto, a recuperação das garrafas PET”, justifica Barretto. Desconhecimento de empresas é grande – Muitas empresas e instituições fabricam e comercializam camisetas feitas a partir de garrafas PET como sendo uma atividade sustentável e ecológica. É fato que a iniciativa incentiva a educação ambiental e a preocupação com o meio ambiente. No entanto, “devolver” o plástico ao ambiente em partículas microscópicas (forma mais nocivas para a natureza do que a garrafa inteira), não é uma atividade propriamente ecológica. Como este efeito nocivo é uma novidade inclusive para a ciência, muitas empresas que comercializam roupas de PET desconhecem o fato. Se a fabricação de roupa pode não ser a melhor forma de reaproveitar garrafas PET, existem outras maneiras de reciclagem, como novas embalagens de material de limpeza, por exemplo. Já uma camiseta ecológica é aquela feita de algodão orgânico, que não usam agrotóxicos em seu cultivo. (Fonte: UOL)

Espécie de ave descoberta recentemente no Brasil está ameaçada de extinção

O patativa-tropeira (Sporophila beltoni), uma nova espécie de ave descrita no final do ano passado no Brasil, está em perigo de extinção, alertaram nesta quinta-feira os biólogos que a estudaram e catalogaram. “Ela já pode ser considerada globalmente em perigo de extinção”, afirmou o biólogo e zoólogo Marcio Repenning da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e um dos autores do artigo científico em que a ave foi apresentada mundialmente, que acrescentou que a captura de exemplares silvestres desta espécie para abastecer o mercado clandestino de aves agrava a situação. De acordo com a pesquisadora Carla Suertegaray Fontana, também da PUC-RS e co-autora do artigo, a espécie é “naturalmente vulnerável”, já que sua população está reduzida a 4.500 casais em idade reprodutiva. A espécie se alimenta de sementes de capins nativos e vive em campos naturais altos e de vegetação densa. A ave é considerada nativa do Brasil e foi identificada apenas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, assim como em algumas áreas do Cerrado, para onde migram após a reprodução na primavera e no verão. Ela foi descrita em artigo publicado no final de 2013 no jornal especializado “The Auk” e seu nome científico, Sporophila beltoni, é uma homenagem ao ornitólogo William Belton. A espécie sempre foi confundida com a Sporophila plumbea, uma ave da família Thraupidae com habitat em vários países sul-americanos e popularmente conhecida no Brasil como patativa. O bico amarelo, no entanto, distingue claramente o patativa-tropeira dos demais. (Fonte: Terra)

Por que esta é a mais terrível epidemia de ebola de todos os tempos

Uma criança de dois anos tem, no dia 2 de dezembro, sintomas de vômito e febre. Em seguida, falece no dia 6. Sua mãe falece poucos dias depois, no dia 11, seguida pela irmã da criança, de três anos, no dia 29. A avó falece em 1° de janeiro. A enfermeira e a parteira que cuidou delas adoecem mais tarde, naquele mesmo mês. A parteira consegue chegar a um hospital em Gueckedougou antes de falecer, mas no processo infecta o parente que a levou até lá. O doutor que a atendeu e outros pacientes em Gueckedougou sucumbem à doença e são transferidos para outro hospital na cidade de Macenta. Depois dele falecer, seu funeral foi feito na cidade de Kissidougou. No curso desta jornada, antes e depois de falecer, ele deu início a surtos em Macenta e Kissidougou. Em 10 de março, os centros de saúde pública de Macenta e Gueckedougou alertam o Ministro da Saúde da Guiné sobre a doença fatal, cujos sintomas eram diarreia, vômito e febre. Dois dias mais tarde, o grupo Médicos sem Fronteiras estava no caso. Amostras de sangue foram coletadas e enviadas ao Instituto Pasteur, em Lyon, onde a presença da variante Zaire do vírus do ebola foi descoberta. Em 23 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um alerta sobre o surto. Tudo que foi escrito acima parece um roteiro de um filme de terror, mas é a realidade. Isso tudo está acontecendo agora, na África Ocidental. As últimas notícias dão contam que o médico que estava à frente da equipe que enfrentava o surto em Serra Leoa, Dr. Sheik Umar Khan, havia contraído o vírus. Além disso, a doença já matou 206 dos 442 infectados em Serra Leoa, 310 dos 410 casos na Guiné, e 116 dos 196 casos na Libéria. Já é a pior epidemia de ebola registrada. Mas o que é o ebola? O ebola é um vírus, o que significa que ele não tem meios próprios de se reproduzir, e sim precisa infectar uma célula para isso. O ebola tem cinco variantes, nenhuma delas agradável. Do menos ao mais letal, são os seguintes tipos: 5. Reston – o único que foi descoberto primeiro fora da África, vitimou macacos de um laboratório em Washington DC (EUA). Mais tarde, descobriu-se que ele se originou nas Filipinas, e ocorre em porcos. Não há registros de que um humano tenha adoecido depois de ter contato com este vírus. 4. Floresta Tai – ataca os chipanzés no parque nacional Tai, onde uma das tribos de chipanzés foi reduzida de 80 a 32 indivíduos. Passa de macaco para macaco, mas um pesquisador foi infectado e se tornou o único caso desta doença em humanos, embora tenha se recuperado. 3. Bundibugyo – surgiu na Uganda em 2007 e até hoje matou 66 pessoas, desde sua descoberta. Sua taxa de mortalidade é de 25%, mas, em um surto recente, de 2012, apresentou 51% de taxa de mortalidade. 2. Sudão – foi encontrado no Sudão em 1976, mas passou para Uganda também, e tem uma taxa de mortalidade de 53%. O último caso relatado foi em 2011. 1. Zaire – variante mais letal do vírus, sua taxa de mortalidade era de 88% quando foi descoberto em 1976, e é o responsável pelo atual surto de ebola na África Ocidental. Como o vírus mata? Ele se aproveita de um mecanismo do nosso sistema imunológico. Normalmente, os capilares sanguíneos são “impermeáveis”, mas quando recebem sinais de infecção, se tornam permeáveis para permitir o tráfego de células do sistema imunológico para o tecido em volta. O vírus do ebola infecta células do sistema imunológico, obrigando-as a liberar as mensagens químicas que tornam os capilares permeáveis. O vírus então pode escapar do sistema sanguíneo e atacar outras células. Só que os capilares continuam permeáveis, e começam a perder sangue. Onde o sangue se acumula, formam-se coágulos. Onde o sangue deixa de chegar, os tecidos começam a morrer. O sangue começa a vazar para os intestinos e pulmões, causando diarreia, vômitos e tosse. Em alguns casos, os pacientes sangram até pelos olhos. Este sangue e fluidos estão cheio de vírus, e qualquer pessoa que entre em contato com eles pode ser infectado. De onde vem este vírus? Normalmente, os vírus estão adaptados a seus hospedeiros, e não os matam. Não é um bom negócio para o vírus matar seu hospedeiro. Como ele é tão letal a seres humanos quanto a macacos, isto indica que não são estes seus hospedeiros naturais, mas sim um morcego. Atualmente, acredita-se que morcegos frugívoros sejam os hospedeiros principais do ebola, passando-o a outros animais, como antílopes, veados e porcos-espinho, que por sua vez o passam para os humanos. Ou seja, caso uma pessoa entre em contato com a carcaça de um animal que morreu deste vírus, é infectado. A infecção de humano para humano ocorre através de fluidos, o que significa que você não vai morrer se tocar em alguém saudável, só em alguém que esteja vomitando sangue, suando sangue, com diarreia de sangue, ou tudo isso junto. A transmissão pode ocorrer também pelas roupas de cama que os doentes tocarem, móveis, utensílios, etc. O que está sendo feito para conter este surto? Várias organizações estão mobilizadas para conter este surto, incluindo o Ministério da Saúde da Guiné, os Médicos Sem Fronteiras, a Cruz Vermelha, o Crescente Vermelho (versão muçulmana da Cruz Vermelha) e a OMS. As estratégias de combate se baseiam em: esclarecer as pessoas sobre o ebola, ensinando-as se proteger e a suas famílias; encorajar as pessoas a relatar novos casos; quanto mais cedo o paciente recebe tratamento, melhores suas chances de sobreviver e menos eles espalham o vírus; quarentenas para pacientes infectados e uso de equipamentos de proteção, como luvas e máscaras; o hábito de lavar as mãos; o estabelecimento de laboratórios móveis para identificar rapidamente novos casos, liberando pacientes de outras doenças sem expô-los ao vírus; fornecer tratamento onde for possível, que consiste atualmente em reidratação do paciente; o banimento do consumo de morcegos e de caça; assistência aos enterros, já que o contato com os fluidos corporais passa a doença adiante; banimento de funerais, já que estes eventos proporcionam propagações em massa da doença. Infelizmente, o último ponto é o que mais tem causado problemas, já que é difícil acabar com velhos costumes, e o banimento de um que é tão caro para as famílias, os funerais dignos, tem causado revolta entre as comunidades. Por causa disso, até mesmo as equipes médicas têm sido atacadas. Pacientes que estavam em quarentena foram “libertados” por rebeldes, “afinal de contas, tudo não passa de uma conspiração do governo para matar as pessoas”, fazê-las desaparecer e só ressurgirem depois mortas, e serem enterradas sem que seus parentes possam confirmar que elas morreram. Além disso, entre os que acreditam no ebola, há os que acham que se trata de bruxaria e que os sobreviventes são zumbis, com casos de pacientes sendo rejeitados e expulsos de suas comunidades. Ainda há os que simplesmente desistem, acham que se trata de uma sentença de morte (em mais de 90% dos casos é), e preferem passar seus últimos momentos com suas famílias – o que não é bom para a família. Em quê isto me afeta? Bom, além do aspecto do sofrimento humano, existe a possibilidade de um surto mundial de ebola – uma pandemia. Quanto maior o surto local, maiores as chances de pandemia. Até agora, não apareceu nenhum caso fora da África e, se acontecer, ele pode ser rapidamente contido, desde que os grupos antivacinação não se tornem também grupos de negadores do ebola. Esperamos que isso nunca aconteça, já que até agora não foi possível ensinar a todo mundo sequer a importância de lavar as mãos. Além disso, no caso de uma epidemia de ebola, não vão faltar os paranoicos para dizer que se trata de uma trama de [insira qualquer tipo de organização, instituição ou grupo aqui] para dizimar a humanidade, ou do governo [de qualquer lugar] para se livrar de gente incômoda e coisas do tipo. Pode parecer – e é – besteira, mas as pessoas vão fazer de tudo para evitar que alguém do governo, vestido de jaleco branco e acompanhado do Exército, venha para levá-los a uma quarentena da qual só uma pessoa em 10 retorna e as outras desaparecem sem deixar traço. Se você quer ajudar de alguma maneira, faça doações para o Médicos Sem Fronteiras, ou para a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e incentive outros a fazer também. Parte das dificuldades para conter este surto devem-se às condições precárias de infraestrutura, materiais e pessoal. Science Made Easy http://hypescience.com/

Medicamentos ficam 12% mais baratos com redução de impostos

Os medicamentos que passaram a ter a isenção do PIS/COFINS começar a chega com preços mais baixos às farmácias. O Governo Federal ampliou em 174 a lista de substâncias que ficam livres da cobrança desses tributos, o que deve levar a uma redução de 12%, em média, nos preços dos produtos. A chamada "lista positiva", com a inclusão dos novos produtos, já soma mais de mil itens com sistema especial de tributação, o que representa 75,4% dos medicamentos comercializados em todo o país. Atualmente, quase a totalidade dos medicamentos tarja vermelha e preta estão isentas de PIS/COFINS. Essa medida visa reduzir o custo para a população com medicamentos essenciais, utilizados para o tratamento de artrite reumatoide, câncer de mama, leucemia, hepatite C, doença de Gaucher e HIV, entre outros problemas de saúde. Agência Saúde

Mortes por AIDS, tuberculose e malária caem em todo o mundo

Menos pessoas estão morrendo em razão de doenças como AIDS, tuberculose e malária. É o que indica um estudo feito em 188 países e divulgado na revista científica The Lancet. De acordo com a revista, o ritmo de queda nas mortes e infecções vem-se ampliando desde o ano 2000, quando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram estabelecidos na tentativa de frear o avanço dessas doenças até 2015. Os números mostram que as novas infecções por HIV/AIDS caíram praticamente para um terço desde o início da epidemia de AIDS no mundo. As mortes por tuberculose diminuíram 1,4% ao ano desde 2000. As mortes provocadas pela malária em crianças que vivem na África Subsaariana caíram 31,5% na última década. O estudo aponta que intervenções em relação ao HIV - incluindo a terapia antirretroviral, a prevenção da transmissão vertical (da mãe para o bebê durante a gravidez ou no parto) e a profilaxia pós-exposição (uso de medicamentos por pessoas que podem ter entrado em contato recente com o vírus) - têm demonstrado resultados positivos. Os números indicam que 14% desses anos de vida ganhos são entre crianças menores de 15 anos, 50% entre pessoas de 15 a 45 anos e 36% entre pessoas com 50 anos ou mais. Mortes por AIDS no Brasil Os números mostram que as mortes provocadas por HIV/AIDS no Brasil diminuíram a um ritmo de 1,5% entre 2000 e 2013, enquanto as mortes por tuberculose foram reduzidas a uma taxa de 3,7%. A pesquisa cita o Brasil como um país de vanguarda na luta global para garantir acesso a medicamentos antirretrovirais, mas destaca que é preciso fazer mais para salvar as 10 mil vidas perdidas para o HIV todos os anos, desde os anos 90. A estimativa é que, em 2013, foram registrados 92 casos de tuberculose para cada 100 mil habitantes, enquanto os casos de HIV/AIDS anotados no mesmo período foram de 12 novas infecções para cada 100 mil habitantes - a maioria homens. De forma bastante preocupante, contudo, relatório de uma agência da ONU divulgado na semana passada mostra um alarmante aumento de infecções por HIV no Brasil nos anos recentes. Agência Brasil

Um robô quase biológico

Instabilidades do coração Recentemente, a equipe do professor Rashid Bashir, da Universidade de Michigan, demonstrou o conceito de um biorrobô movido por células do coração. Mas o jeitão pulsante das células cardíacas não levava o robô muito adiante. Por isso eles construíram uma versão movida por células musculares acionadas por pulsos elétricos, o que permite controlar com precisão o funcionamento do dispositivo híbrido. "Nós estamos tentando integrar esses princípios de engenharia com biologia de uma forma que possa ser usada para projetar máquinas e sistemas biológicos para aplicações ambientais e medicinais," disse o professor Bashir "Os atuadores biológicos, movimentados por células musculares, são uma necessidade fundamental para qualquer tipo de máquina biológica que você queira construir," acrescentou ele.Com menos de um centímetro de comprimento, o bioatuador, que é mais um motor do que um robô propriamente dito, foi construído com células vivas aplicadas sobre uma matriz de hidrogel por uma impressora 3D. Sensores autônomos A equipe decidiu passar das células cardíacas para a células musculares porque as células do coração pulsam, tornando difícil controlar o movimento - o biorrobô não pode ser desligado, por exemplo. Já as células musculares só se movimentam quando recebem os pulsos elétricos, o que torna muito fácil controlar os bio-bots. A velocidade do biorrobô pode ser controlada ajustando a frequência dos pulsos elétricos - quanto maior a frequência da corrente alternada, maior é a velocidade do robô. A equipe planeja a seguir incorporar neurônios aos biorrobôs para controlar a direção do movimento, o que poderá ser feito com luz, por meio da optogenética, ou por meio de gradientes químicos. "Nosso objetivo é que estes dispositivos sejam usados como sensores autônomos. Queremos que eles sintam um composto químico específico e se movam em direção a ele, e liberem agentes para neutralizar a toxina, por exemplo. Estar no controle da atuação é um grande passo em direção a esse objetivo," disse Bashir. Redação do Site Inovação Tecnológica

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A hepatite

"A hepatite é uma doença caracterizada por uma inflamação do fígado. Pode apresentar diversas causas como as infecções por vírus, uso abusivo de álcool e certos medicamentos, de drogas, doenças hereditárias e auto-imunes. Entretanto, sabemos que as causas mais comuns são as virais. A hepatite pode ser classificada em aguda e crônica, sendo que essa última é representada por um processo inflamatório que dura mais de seis meses, porém a cronificação não ocorre em todos os casos." Introdução Na maioria das vezes a doença apresenta poucos sintomas e, às vezes, só é diagnosticada em exames de rotina, ou durante a investigação de um quadro inespecífico. Poucos são os casos que evoluem para uma forma aguda grave, podendo levar à morte. A importância da cronificação da doença é o potencial para o desenvolvimento de cirrose hepática e, posteriormente, câncer de fígado. Causas Como já dito, são várias as causas de hepatite. Vamos repassar as mais importantes, lembrando que as infecções virais são as principais causas de hepatite, na maior parte do mundo. • Hepatite por vírus A: esse vírus é eliminado nas fezes e seu modo de transmissão é chamado fecal-oral, ou seja, ingestão de água e/ou alimentos contaminados. Por isso, essa forma de hepatite é bastante comum em países menos desenvolvidos e em locais com precárias condições de higiene e saneamento básico. Acomete principalmente crianças, na faixa etária entre dois e seis anos, mas qualquer indivíduo pode ter a doença, caso ainda não tenha tido. Devemos ressaltar que quando os sintomas aparecem, o vírus já está começando a desaparecer das fezes, isto é, a fase de maior transmissibilidade já está terminando. Mesmo assim, recomenda-se um período de isolamento (não ir à escola, creche, etc) de mais ou menos sete dias, a partir do início dos sintomas. Em raros casos pode evoluir de forma grave, com hepatite fulminante. Por isso, pode apresentar-se em surtos, epidemias. Uma característica de extrema importância: esse tipo de hepatite não se cronifica. • Hepatite por vírus B: o modo de transmissão desse vírus é através do uso compartilhado de seringas e agulhas (entre usuários de drogas), relação sexual sem preservativo, acidentes pérfuro-cortantes (como durante cirurgias) e durante o parto, quando a mãe pode transmitir o vírus para o recém-nascido. Uma forma de transmissão comum no passado era a transfusão de sangue. Na forma aguda, pode evoluir mais frequentemente que a hepatite A com hepatite fulminante, podendo levar à morte. Apresenta importante taxa de cronificação da doença, pois o vírus fica latente no organismo, mesmo que o indivíduo não sinta sintomas. Assim, esse tipo de hepatite apresenta evolução para cirrose e também para câncer de fígado. O risco de cronificação depende da idade em que a pessoa foi infectada, de forma que em adultos, mais ou menos 10% evolui para a cronicidade, enquanto em recém-nascidos infectados durante o parto, essa taxa chega a 90%. Daí a importância do acompanhamento pré-natal e da vacinação. • Hepatite por vírus C: o modo de transmissão é semelhante ao do vírus B, porém a transmissão durante o parto é bem menor. Antigamente era considerada a principal causa de hepatite transmitida por transfusão de sangue, mas atualmente existem exames bastante eficazes na realização de triagem das amostras em bancos de sangue, o que diminuiu a transmissão. Apresenta também potencial para desenvolvimento de formas crônicas. • Hepatite por vírus D: o modo de transmissão é o mesmo do vírus B, e esse tipo de hepatite só ocorre em indivíduos infectados pelo vírus B, pois o vírus D precisa dele para poder multiplicar-se. • Hepatite por vírus E: o modo de transmissão é o mesmo do vírus A. Ocorre em países menos desenvolvidos, em formas de epidemias. Em grávidas, pode levar mais comumente a formas graves. • Hepatite alcoólica: relacionada ao uso abusivo de qualquer bebida alcoólica, sendo a quantidade necessária variável de pessoa para pessoa. Quanto maior o tempo de ingestão, maior o risco de hepatite e cirrose hepática. • Hepatite medicamentosa: o desenvolvimento de hepatite pelo uso de medicamentos vai depender da dose utilizada e da suscetibilidade individual. Vários medicamentos de uso comum podem causar hepatite, como: paracetamol (o principal, especialmente na Inglaterra), eritromicina, tetraciclina, anabolizantes, amiodarona (usado para tratar arritmia cardíaca). • Hepatite auto-imune: uma doença auto-imune é aquela na qual o sistema imunológico ataca células do próprio corpo, causando inflamação. Por que isso ocorre não se sabe. • Outras: doenças hereditárias, como a hemocromatose (acúmulo de ferro no organismo), doença de Wilson (acúmulo de cobre no organismo); acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática) não relacionado ao álcool. Sintomas Nas hepatites virais, existe um período inicial sem sintomas (período de incubação), no qual o vírus está se multiplicando no organismo. Esse período é variável e, logo depois, começam a surgir os sintomas. Inicialmente, o paciente apresenta um quadro semelhante a uma gripe, com febre, náuseas e vômitos, mal-estar, dores no corpo, falta de apetite e desânimo. O paciente pode apresentar também dores nas juntas. O sintoma mais típico de hepatite é a chamada icterícia (amarelão, "tiriça"), caracterizada por coloração amarelada da pele, dos olhos e das mucosas. Ela pode se acompanhar de urina escura ("cor de coca-cola") e fezes descoradas. Porém, a icterícia não ocorre em todos os pacientes. Na maioria dos casos de hepatite viral aguda, o quadro é leve e resolve-se espontaneamente; mas em alguns casos pode apresentar gravidade, evoluindo com confusão mental e outros sintomas, caracterizando a hepatite fulminante. A hepatite C geralmente não apresenta fase aguda, e o indivíduo só descobre que é portador do vírus em exames de rotina. As outras causas de hepatite apresentam quadros bastante específicos, muitas vezes parecidos aos de hepatite viral aguda acrescido de outros sintomas especiais. No caso da hepatite alcoólica, é evidente a história de alcoolismo crônico e pesado. A hepatite auto-imune é mais comum em mulheres e as pacientes podem apresentar comprometimento de outros órgãos, determinando sintomas variados. As doenças hereditárias são raras. Não é raro que essas formas não-virais de hepatite, e mesmo as virais, sejam descobertas apenas quando o fígado já está cronicamente acometido, algumas vezes já com cirrose hepática. Diagnóstico Na presença de sintomas característicos, o indivíduo deve procurar o médico. Durante a entrevista, o médico vai pesquisar os fatores de risco associados ao desenvolvimento de algum tipo específico de hepatite. Devemos lembrar que o quadro muitas vezes é bastante inespecífico e, como em muitas vezes não ocorre icterícia, o diagnóstico pode ser confundido com outras doenças, como a gripe. Geralmente, o diagnóstico é confirmado por exames laboratoriais. Com eles, podemos investigar se há lesão do fígado, o tipo de vírus que possivelmente está causando a inflamação, se existe doença auto-imune. Em alguns casos de dúvida, o médico pode solicitar uma biopsia hepática, que consiste na retirada de um pedaço do fígado, com o uso de uma agulha introduzida através da pele após anestesia local. Esse fragmento é analisado por patologista, que pode sugerir a causa da doença. Tratamento O tratamento depende da causa da hepatite. Nas hepatites virais agudas, indica-se apenas repouso relativo (com restrição de atividades físicas), dieta balanceada e medicamentos para dor e febre, caso ocorram. Na hepatite viral crônica, existem alguns tratamentos específicos, indicados em alguns casos, que permitem a erradicação do vírus e redução do risco de cirrose e câncer. Na hepatite auto-imune, utilizam-se medicamentos chamados corticóides, capazes de reduzir a inflamação. Nas hepatites alcoólica e medicamentosa, recomenda-se a suspensão do uso do agente causador. Nas doenças por acúmulo de ferro e cobre recomenda-se à restrição dietética e o uso de certos medicamentos que ajudam a reduzir o depósito desses metais. Nos casos de hepatite fulminante, o tratamento é de suporte e, geralmente, o transplante hepático de urgência é necessário para a cura. Prevenção Existem várias medidas eficazes na prevenção da doença, como: • Vacinação, no caso das hepatites por vírus A e B; • Uso de água tratada ou fervida; • Lavar bem legumes, frutas e verduras; • Lavar bem as mãos após usar o toalete e antes de preparar os alimentos e de se alimentar; • Não compartilhar seringas e agulhas; • Uso de preservativo nas relações sexuais; • Uso de material de proteção, por profissionais de saúde; • Acompanhamento pré-natal para aconselhamento adequado e prevenção da transmissão; • Evitar uso abusivo de álcool, medicamentos e drogas. Copyright © 2012 Bibliomed, Inc. Publicado em 23 de maio de 2011 Revisado em 23 de julho de 2012

Redução do desperdício pode acabar com a fome, diz ONU

O relatório “Perdas e desperdícios de alimentos da América Latina e no Caribe”, realizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), demonstrou que seria possível acabar com a fome, apenas exterminando o desperdício. A região é responsável por 6% da perda de alimentos em todo o mundo, chegam a ser desperdiçados 15% de tudo o que é produzido nesta parte do continente. No entanto, os especialistas explicam que boa parte do que vai para o lixo, ainda poderia ser reaproveitado, contendo altos valores nutricionais. De acordo com a FAO, o desperdício acontece em diferentes etapas da cadeia. O consumidor e a produção são os maiores responsáveis pelas perdas, com 28% cada. Na sequência vêm mercado e distribuição, com 17%, manuseio e armazenamento, com 22% e o restante do processamento com 6%. As soluções para este problema são bastante plausíveis. A ONU informa que, se for aumentada a eficiência somente no sistema de venda e varejo, ou seja, nos supermercados, feiras, armazéns e demais pontos de venda, seria possível alimentar 30 milhões de pessoas, o equivalente a 64% da população que passa fome. Outra opção é a criação de bancos de alimento, que recolham a comida que seria descartada mesmo estando em bom estado para o consumo e a redistribui para quem necessita. Já existem sistemas deste tipo na Costa Rica, Chile, Guatemala, Argentina, República Dominicana, Brasil e México, sendo que este último resgatou 56 mil toneladas de alimentos em 2013. “Ainda que seja importante dizer que os países da região possuem as calorias mais do que suficientes para alimentar todos os seus cidadãos, a enorme quantidade de alimentos que são perdidos ou que acabam na lixeira é simplesmente inaceitável enquanto a fome continuar afetado quase 8% da população regional”, desabafou o representante regional da FAO, Raul Benítez, em declaração oficial. (Fonte: CicloVivo)

Tratamento de HIV/Aids no Brasil salva mais que média global

Desde a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em 2000, as mortes por HIV/Aids e tuberculose no Brasil caíram a taxas maiores do que a média global, indica um estudo divulgado nesta terça-feira (22). Além disso, o número de anos de vida salvos graças ao acesso a tratamento e prevenção ficou acima do registrado em países em desenvolvimento, segundo a pesquisa. De acordo com o relatório, publicado na revista científica “The Lancet” e divulgado na Conferência Internacional sobre Aids, que ocorre em Melbourne, na Austrália, as mortes em decorrência do HIV no Brasil caíram a uma taxa anual de 2,3% entre 2000 e 2013, maior do que os 1,5% registrados globalmente. Nos casos de mortes por tuberculose, a taxa anual de queda foi de 4,5% desde 2000, acima da média global de 3,7%. No cálculo dos anos de vida salvos graças ao acesso a terapia antirretroviral, programas para prevenir a transmissão do HIV de mãe para filho e a promoção do uso de camisinhas, o Brasil atinge um índice de 0,37, em uma escala que vai de 0,07, para países em pior situação, até 0,49, em países muito ricos. “O desempenho do Brasil está acima do registrado em outros países em desenvolvimento, que foi de 0,28 a 0,35″, disse à BBC Brasil um dos coautores do estudo, Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário da USP. De acordo com o estudo, entre 1990 e 2003, mais de 230 mil anos de vida foram salvos no Brasil graças ao acesso à prevenção e tratamento. De 2004 a 2008, foram mais de 450 mil anos. E de 2009 a 2013, quase 682 mil anos. Em todo o mundo, foram 20 milhões de anos de vida salvos desde 1990, mas o autor principal do estudo, Christopher Murray, alerta que a qualidade dos programas de tratamento e prevenção do HIV/Aids ainda tem grandes variações de acordo com a região do planeta e diz que ainda há muito a ser feito para avançar no combate à doença. Objetivos do Milênio – O estudo foi conduzido por um grupo internacional de cientistas e coordenado pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, nos EUA. Com a análise do Global Burden of Disease 2013 (Carga Global de Doenças) é possível verificar a incidência e mortalidade por HIV, tuberculose e malária em 188 países de 1990 a 2013. Segundo os pesquisadores, o ritmo do declínio global no número de mortes e infecções das três doenças passou a ser mais forte a partir de 2000, com a adoção dos Objetivos do Milênio por governos ao redor do mundo. O objetivo número 6 é combater a propagação dessas doenças e garantir acesso universal ao tratamento. O prazo para o cumprimento dos objetivos vai até 2015. “A única coisa que acho que o Brasil não irá cumprir é em relação a mortalidade materna”, diz Lotufo. “(Dos outros Objetivos do Milênio) O Brasil está alcançando tudo. O que significa que está cumprindo com a obrigação. Nada mais que isso.” No Brasil, as mortes em decorrência do HIV caíram de um pico de mais de 17 mil em 1996 para pouco mais de 10 mil em 2013, sendo 7.912 mortes de homens e 2.305 de mulheres. Globalmente, no pico da epidemia, em 2005, o HIV causou 1,7 milhão de mortes. A incidência global de HIV atingiu seu ponto mais alto em 1997, com 2,8 milhões de novas infecções. Desde então, vem declinando. Em 2013, foram 1,3 milhão de mortes e 1,8 milhão de novas infecções em todo o mundo. “O que chamou mais a atenção no Brasil, que já começou com os dados da Unaids divulgados na semana passada, foi que a incidência da doença está estável”, afirma Lotufo. “A mortalidade caiu bem, mas estamos temos uma situação de estabilidade em relação a novos casos.” Tuberculose e malária – Os cientistas concluíram que o sucesso no combate ao HIV também teve impacto positivo sobre a luta contra a tuberculose. Depois de aumentar globalmente a uma taxa anual de 0,4% entre 1990 e 2000, a incidência global da doença começou a cair a uma taxa de 1,3% até 2013. A maior rapidez e eficácia no tratamento tem reduzido a duração de infecções por tuberculose globalmente. No entanto, os pesquisadores alertam que o envelhecimento da população levará a um número maior de casos e mortes. No Brasil, 4.184 homens e 1.604 mulheres morreram vítimas da doença no ano passado. No caso da malária, de 2000 a 2013 o Brasil reduziu a taxa de mortalidade em uma média de 9,2% ao ano, com 71 mortes em 2013. Em termos globais, a epidemia de malária teve seu pico no início dos anos 2000, com 232 milhões de casos em 2003 e 1,2 milhão de mortes em 2004. Em 2013, foram 164,9 milhões de casos e 854.566 mortes por malária no mundo. Segundo outro co-autor do relatório, Alan Lopez, da Universidade de Melbourne, além de documentar o impressionante progresso no combate às três doenças, o estudo representa um alerta de que ainda há muito o que fazer. “HIV, tuberculose e malária ainda causam cada uma cerca de 1 milhão de mortes por ano no mundo”, salienta. (Fonte: G1)

Lâmpadas fluorescentes: quem pagará o custo da reciclagem?

“A preocupação com a destinação e a informação acerca das lâmpadas veio em um momento posterior ao uso delas”, critica a professora Marta Tocchetto. Apesar de o uso de lâmpadas fluorescentes ter contribuído para o processo de economizar energia no Brasil, a política adotada pelo governo e pelo setor energético não teve “a preocupação de estruturar uma logística que contemplasse a informação sobre a reciclagem das lâmpadas”, critica Marta Tocchetto, que adverte para os riscos que a falta de reciclagem pode causar ao meio ambiente e à saúde. “A maioria das pessoas ainda não tem informação em relação aos riscos oferecidos pelas lâmpadas fluorescentes, não sabe como destinar adequadamente essas lâmpadas, como acondicioná-las até o momento do descarte, nem onde entregar esse material”, assinala, na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line. Graduada em Química e especialista em tratamento de resíduos industriais, Marta Tocchetto explica que as lâmpadas fluorescentes são compostas de mercúrio e chumbo, e que a preocupação com a contaminação delas “reside no efeito cumulativo do mercúrio, o qual, presente no meio ambiente, poderá desencadear problemas daqui a 20, 30 anos, porque ele interage com a água, com o solo, contamina microrganismos que poderão servir de alimento para peixes, vai se depositar no fundo de corpos hídricos, etc”. Segundo ela, “apesar da vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS desde 2010, que estabelece a possibilidade de o consumidor devolver a lâmpada que esgotou a sua vida útil ao local onde foi comprada, na prática isso não acontece. Nesse sentido, as políticas buscam atender uma necessidade pontual; não se inter-relacionam com as outras questões”. Marta pontua ainda que somente 6% das lâmpadas fluorescentes são recicladas e as restantes são encaminhadas ou para aterros sanitários ou para lixões, agravando a possibilidade de contaminação. O baixo percentual de lâmpadas recicladas é explicado pelo custo e pelas poucas empresas que realizam o processo de descontaminação. “Esse processo tem um custo, a começar por contratar uma empresa que faça esse serviço. Assim, o custo da reciclagem, sem considerar a questão do transporte da lâmpada, fica em torno de 60 centavos, às vezes até mais devido à distância. A questão, nesse sentido, é quem vai pagar esse custo. O consumidor está disposto a pagar esse custo? O fabricante está disposto a absorver esse custo? Como isso vai ser equacionado?”, questiona. Marta Tocchetto é graduada em Química Industrial e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM e doutora em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Atualmente é membro da Diretoria da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – seção RS e professora da UFSM. Confira a entrevista: IHU On-Line – Quais são os danos que as lâmpadas fluorescentes podem causar ao meio ambiente e à saúde? Marta Tocchetto – A questão das lâmpadas fluorescentes está bastante associada à presença de metais pesados na constituição da lâmpada, principalmente o vapor de mercúrio que preenche os tubos de vidro. O mercúrio é um metal que tem muitos efeitos tóxicos, um metal acumulativo, ou seja, vai se acumulando no organismo, e à medida que a absorção vai sendo maior, os efeitos também serão sentidos. Além disso, ele é teratogênico, mutagênico, pode trazer problemas de mau desenvolvimento fetal e diversos problemas no organismo do indivíduo que for contaminado. No meio ambiente, causa efeitos tóxicos similares no momento em que é absorvido por outros organismos vivos, e é a partir dessa absorção que ele acaba ingressando na cadeia alimentar e vindo a atingir o homem. Quando ele atinge os níveis mais altos da cadeia alimentar, seu efeito tóxico ainda é potencializado. Por isso, o mercúrio é um metal que tem um efeito de biomagnificação, porque, ao atingir os níveis mais altos da cadeia trófica, vai se fazendo sentir uma toxicidade maior. Então, a discussão acerca das lâmpadas fluorescentes reside em oferecer descarte e destinação adequados, de tal maneira que esse risco seja minimizado. Além do mercúrio, as lâmpadas fluorescentes também têm a presença do chumbo, que é usado nas soldas, um metal pesado que oferece danos significativos à saúde. Esses motivos justificam a reciclagem das lâmpadas, além do fato de os diversos materiais que a compõem, como o próprio vidro e os metais utilizados como componentes, serem passíveis de reciclagem. IHU On-Line – Quando as lâmpadas fluorescentes começaram a substituir as incandescentes, essas questões de riscos toxicológicos não foram consideradas? Marta Tocchetto – Essa é a principal questão que sempre aparece nas políticas adotadas: as medidas nunca são vistas de uma forma holística, integral. Então, por exemplo, nesse caso específico, com a problemática da questão energética e o apagão que ocorreu em meados dos anos 2000, houve uma política de governo do setor energético de adotar medidas que pudessem economizar energia — logicamente é comprovado que as lâmpadas fluorescentes são mais econômicas em termos energéticos do que as lâmpadas comuns. Mas, por outro lado, não houve a preocupação de estruturar uma logística que contemplasse a informação sobre a reciclagem das lâmpadas. A maioria das pessoas ainda não tem informação em relação aos riscos oferecidos pelas lâmpadas fluorescentes, não sabe como destinar adequadamente essas lâmpadas, como acondicioná-las até o momento do descarte, nem onde entregar esse material. A população obviamente atendeu ao chamado com relação à mudança das lâmpadas comuns para as lâmpadas fluorescentes e começou a aumentar o número e a quantidade desses resíduos no meio ambiente e, logicamente, os problemas começaram a se tornar significativos. A preocupação com a destinação e a informação acerca das lâmpadas veio em um momento posterior ao uso delas. Até hoje, a grande maioria das pessoas, ao trocar uma lâmpada na sua residência, não tem onde entregá-la, porque a maioria das empresas não quer recebê-las. Então, apesar da vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS desde 2010, que estabelece a possibilidade de o consumidor devolver a lâmpada que esgotou a sua vida útil ao local onde foi comprada, na prática isso não acontece. Nesse sentido, as políticas buscam atender uma necessidade pontual; não se inter-relacionam com as outras questões. IHU On-Line – Há relatos de casos de contaminação ambiental e de seres humanos por conta das lâmpadas fluorescentes? Marta Tocchetto – Não tenho nenhum conhecimento específico, porque dificilmente é feito um descarte muito grande em um determinado local. As empresas, por conta da fiscalização mais exigente e eficiente, pagam outras empresas que fazem a descontaminação. Contudo, a preocupação com a contaminação das lâmpadas fluorescentes reside no efeito cumulativo do mercúrio que, presente no meio ambiente, poderá desencadear problemas daqui a 20, 30 anos, porque ele interage com a água, com o solo, contamina microrganismos que poderão servir de alimento para peixes, vai se depositar no fundo de corpos hídricos, etc. Nesse sentido, a preocupação reside nos efeitos do mercúrio a longo prazo, diferentemente do que acontece, por exemplo, se pensarmos na questão do mercúrio em uma região de garimpo — principalmente garimpos clandestinos, onde esse controle não é feito —, porque ali se usa mercúrio para separar o ouro do rejeito, e essa quantidade de mercúrio é aleatória e boa parte acaba sendo jogada no meio ambiente. Nesse tipo de atividade, o perigo se manifesta em um tempo muito menor, porque há uma concentração elevada de mercúrio. Passivo ambiental Nesse sentido, a preocupação com as lâmpadas fluorescentes reside na possibilidade desse passivo ambiental. Cerca de 50% dos municípios brasileiros descartam seus resíduos em aterros sanitários, e a outra metade os dispõem em lixões. Lixões são áreas onde esses resíduos ficam em contato com o solo, com águas superficiais, com águas subterrâneas, com lençol freático, sem controle do acesso de pessoas, de animais, sem preocupação com a cobertura desse resíduo que é posto ali. Então, imagine a sinergia e as reações químicas que acontecem em um ambiente como esse, onde todos os resíduos são misturados. As lâmpadas, como não estão indo para a reciclagem, são encaminhadas ou para aterros sanitários, inadequadamente — nos municípios em que essa destinação existe —, ou para lixões, trazendo todos esses riscos e a possibilidade de contaminar algum rio. Então, a preocupação com as lâmpadas se deve ao efeito a longo prazo desse passivo ambiental decorrente da destinação inadequada, principalmente em virtude da presença do mercúrio. IHU On-Line – Como é feita a destinação das lâmpadas fluorescentes hoje no Brasil? Por que somente 6% das lâmpadas são recicladas? Marta Tocchetto – A destinação correta dessas lâmpadas fluorescentes leva em conta, em primeiro lugar, o acondicionamento, para que elas não quebrem e não contaminem, porque, no momento em que a lâmpada quebra, o vapor de mercúrio que está dentro do tubo de vidro pode contaminar o ambiente de quem, porventura, tenha aspirado o ar contaminado de mercúrio. As empresas, como têm uma geração de energia maior, contratam uma empresa que faz a descontaminação das lâmpadas. No estado do Rio Grande do Sul não há empresas que façam a descontaminação. Existem aquelas que fazem o recolhimento, a coleta, o armazenamento e encaminham as lâmpadas para outras empresas que fazem esse processo, em Santa Catarina e em São Paulo. Nesse processo de descontaminação, são retirados os componentes das lâmpadas, é separado o vapor de mercúrio, o qual é retirado, armazenado e recuperado em um ambiente fechado de tal maneira que não seja disperso no meio ambiente. Esse mercúrio, que é separado do vidro, separado da poeira fosforosa que recobre o tubo de vidro, que também está contaminado com mercúrio, sofre um processo de destilação, em que o mercúrio que está impregnado na poeira ou no vidro passa para o estado gasoso, vaporiza e depois é condensado. Com esse processo, se obtém, novamente, o mercúrio metálico, que será utilizado para fabricar novas lâmpadas ou outros equipamentos. O vidro e a poeira fosforosa podem ser utilizados na indústria cerâmica, na fabricação de outras lâmpadas e na indústria de vidro. A parte metálica, as soldas e a parte de alumínio também são separadas para a reciclagem. Assim, praticamente a totalidade dos componentes das lâmpadas fluorescentes, 99%, é reciclável. Então, além de ser ambientalmente incorreto não reciclá-las, é absolutamente incoerente em um momento em que nós retiramos da natureza as matérias-primas para a fabricação dos vidros, de ligas metálicas, etc. Nesse sentido, o processo de reciclagem vem ao encontro de evitar o desperdício dos recursos naturais e também evitar todos esses riscos que comentamos em relação à contaminação ambiental e à contaminação dos seres vivos. IHU On-Line – É possível estimar que percentual de lâmpadas fluorescentes se utiliza no Brasil? Em contrapartida, ainda se utilizam muitas lâmpadas incandescentes? Marta Tocchetto – As lâmpadas incandescentes estão com a vida contada; em 2015 não serão mais fabricadas. As lâmpadas halógenas e as fluorescentes deverão substituir essas lâmpadas. Há mais de 80 milhões de lâmpadas utilizadas no Brasil anualmente, e esse número aumenta em função de novas construções, novos empreendimentos. IHU On-Line – Qual é o custo da reciclagem dessas lâmpadas? Marta Tocchetto – Esse processo de reciclagem que comentei tem um custo, a começar por contratar uma empresa que faça esse serviço. Assim, o custo da reciclagem, sem considerar a questão do transporte da lâmpada, fica em torno de 60 centavos, às vezes até mais, dependendo da distância. A questão, nesse sentido, é quem vai pagar esse custo. O consumidor está disposto a pagar esse custo? O fabricante está disposto a absorver esse custo? Como isso vai ser equacionado? O baixo índice de reciclagem das lâmpadas reside na questão do custo para reciclar esses produtos. IHU On-Line – O que aponta a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS em relação à reciclagem das lâmpadas fluorescentes e incandescentes? Por que os fabricantes das lâmpadas fluorescentes não realizam a coleta das lâmpadas, como determina da PNRS? Marta Tocchetto – A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu a obrigatoriedade do estabelecimento de estratégias de logística reversa para alguns resíduos, dentre os quais, as lâmpadas fluorescentes, justamente por todo esse problema que já comentei. Então, é necessário que se tenha uma destinação adequada e que o consumidor — o qual é responsável por um descarte pequeno — tenha para onde encaminhar essas lâmpadas, porque hoje, mesmo que ele queira pagar para que seja feita a descontaminação das lâmpadas, não há essa opção, porque essa logística não está montada. A PNRS vem ao encontro dessa preocupação e pressupõe que todos os atores envolvidos nessa cadeia, desde o fabricante ao importador, do distribuidor ao consumidor, tenham responsabilidade para que a lâmpada, no momento em que não tiver mais condições de uso, volte ao início do ciclo produtivo. É isso que significa essa visão circular e não linear. Hoje o sistema produtivo tem uma visão absolutamente linear, a responsabilidade do fabricante, do distribuidor, do importador vai até a distribuição. Depois que essa lâmpada for comprada, o problema não é mais do fabricante. Isso não pode ser assim; tem de haver uma responsabilização. Mas para que isso aconteça é necessário que haja um acordo entre todos os elos da cadeia, porque, mesmo que a lâmpada seja recebida num estabelecimento, não temos a garantia de que ela será verdadeiramente encaminhada para reciclagem, pelo fato de que às vezes a loja — até para se ver livre da insistência — recebe a lâmpada e depois a coloca no lixo. Isso acontece com frequência. Então, enquanto não houver uma normativa que responsabilize a reciclagem de forma legal, a reciclagem obrigatória não vai acontecer. Nesse sentido, os acordos setoriais são os instrumentos que vão garantir o estabelecimento da logística reversa. O Ministério do Meio Ambiente, que é responsável pelo lançamento desses editais, assinou, na semana passada, o acordo setorial das lâmpadas fluorescentes e das embalagens. Apesar de as embalagens não estarem como obrigatórias dentro do estabelecimento da logística reversa, é sabido que elas são um problema seríssimo não só em função da quantidade, mas em relação ao apelo do consumo. Possibilidades Outro ponto importante a ser discutido, o qual está tramitando no Congresso, é a redução dos impostos para as empresas que fazem a reciclagem de lâmpadas fluorescentes. Essa contrapartida é interessante, porque os fabricantes de lâmpadas podem utilizar essa redução do valor dos impostos para dar destinação correta às lâmpadas. A reciclagem só vai acontecer de fato quando tiver matéria-prima suficiente para que haja estímulo de empreendimentos se instalarem utilizando o material que é descartado. A redução de incentivo a partir da redução dos impostos é uma contrapartida que o governo pode dar, estimulando o crescimento do setor, que hoje é muito pequeno. IHU On-Line – Quantas empresas de reciclagem dessas lâmpadas existem no país? Marta Tocchetto – Deve haver umas três ou quatro em São Paulo; em Santa Catarina tem uma ou duas, ou seja, são poucas empresas que desenvolvem esse trabalho. O problema está no rigor da legislação para a implantação deste tipo de empreendimento. Nós estamos falando de empreendimentos que vão trabalhar com mercúrio, com vapor de mercúrio, que é um metal que passa para o estado gasoso em uma temperatura relativamente baixa, 350-357 graus célsius. Isso significa que a possibilidade de uma empresa de descontaminação de reciclagem de lâmpadas ter problemas operacionais e, com isso, ter emissões fugitivas de vapor de mercúrio, é algo muito possível. Então, o custo para a implantação deste tipo de empreendimento é muito alto, em razão dos equipamentos de proteção atmosférica, dos equipamentos para evitar os riscos com relação ao processo que é executado, etc. IHU On-Line – Qual modelo de lâmpada economiza energia e causa menos danos ambientais e à saúde? Marta Tocchetto – As lâmpadas de “led” têm uma vida útil maior que as fluorescentes, não têm mercúrio, mas têm arsênio. Nesse sentido, não existe nada que seja absolutamente inócuo, nem a nossa presença no planeta é inócua; nós causamos impactos pelo simples ato de respirar. Então, qual é a saída? É aumentar a vida útil dos produtos, quer dizer, no momento em que se aumenta a vida útil de um produto, ele vai se tornar lixo em um futuro mais distante. Agora, também temos de levar em conta que nós vivemos em um sistema onde a obsolescência é um fator importante dentro das estratégias de negócio. O incentivo do consumo e a obsolescência programada são uma realidade. Por outro lado, o mercado não tem essa preocupação tão evidente quanto nós temos enquanto consumidores. O mercado necessita de mais consumo para que esse modelo tradicional de economia possa girar. Não vamos encontrar algo que mantenha o nosso padrão de consumo altamente insustentável sem impactar o meio ambiente, ou seja, o aumento de consumo está diretamente relacionado a impactos ao meio ambiente. O que vamos fazer? Colocar panos quentes aqui e ali, e assim vamos equilibrando. Nós teremos, sim, soluções que poderão prolongar a vida útil das lâmpadas, que são uma vantagem, mas não é a solução 100%. A solução — e a melhor forma de não termos problemas — é reduzir o consumo, ou refletir melhor sobre as nossas relações de consumo. * Publicado originalmente no site IHU On-Line.