Emoções básicas
Contrariamente ao que a teoria científica dominante afirma, nem todas as pessoas possuem o mesmo conjunto de "emoções básicas", determinadas biologicamente.
E, também em desacordo com a teoria atual, essas emoções não são automaticamente expressas nas faces de todas as pessoas que as possuem.
O desafio está sendo lançado por Lisa Feldman Barret, da Universidade Northeastern (EUA), em um artigo publicado na renomada revista Current Directions in Psychological Science.
E, segundo ela, Darwin tem pouco a ver com isso, embora sua "autoridade" seja sempre usada pela escola dominante para reforçar seus argumentos.
Determinismo biológico
"O que eu decidi fazer com este artigo foi lembrar [os cientistas] das evidências contrárias à visão tradicional de que determinadas emoções são básicas do ponto de vista biológico, como se as pessoas franzissem a testa somente quando estão zangadas ou 'esticassem o beiço' apenas quando estão tristes," diz a pesquisadora.
O "saber científico" na área estabelece que determinados movimentos faciais, chamados expressões, evoluíram para expressar determinados estados mentais e preparar o corpo para reagir a determinadas situações, de forma tipicamente estereotipada.
Por exemplo, arregalar os olhos quando você está assustado ajudaria a obter mais informações sobre a cena que lhe assusta, ao mesmo tempo sinalizando a outras pessoas ao seu redor que algo perigoso está acontecendo.
Símbolos caricaturais
Mas uma nova linha de pensamento, da qual Lisa faz parte, acredita que as expressões não são sinais emocionais inatos, expressos automaticamente pelo rosto.
Os estereótipos fornecidos pela teoria dominante só são vistos como símbolos caricaturais, "em desenhos animados ou em filmes muitos ruins," afirma ela.
O contra-exemplo típico que ela fornece é que os seres humanos podem querer demonstrar uma emoção em uma determinada situação, mas uma emoção que eles não estão realmente sentindo - nesses casos, as pessoas usam esses símbolos caricaturais.
Respostas físicas às emoções
Ela afirma também que não há evidências de que as emoções regulem as respostas físicas a uma situação, o que implicaria que determinada emoção deva sempre provocar as mesmas mudanças físicas todas as vezes que a pessoa a experimentar.
"Há uma variação tremenda naquilo que as pessoas fazem e naquilo que seus corpos e seus rostos fazem quando estão tristes, com raiva ou com medo," afirma a pesquisadora. As pessoas podem fazer muitas coisas quando ficam com raiva: algumas vezes elas xingam, noutras elas riem.
Raiva desafia modelos explicativos das emoções
Os livros-texto de psicologia variam pouco, afirmando que há entre cinco e nove emoções básicas, cada uma com um conjunto básico de expressões associadas - que poderiam ser reconhecidas em pessoas em qualquer parte do mundo.
Cinco emoções que você nunca soube que tinha
Mas Lisa afirma que, em vez de tentarem criar algumas poucas categorias, que não encontram suporte experimental, os psicólogos deveriam se concentrar em entender como e por que as pessoas expressam suas emoções de formas diferentes.
Medo do medo
Esse debate está longe de ser meramente acadêmico.
Há uma verdadeira explosão de treinamentos para identificação de emoções, voltadas para policiais e seguranças, que passam a acreditar que podem identificar algum criminoso em potencial apenas pelos seus trejeitos faciais.
"Há inúmeras evidências de que não existe uma assinatura para o medo, ou para a raiva, ou para a tristeza, que você possa identificar em outra pessoa. Se você pretende melhorar sua capacidade para ler as emoções de outra pessoa você precisa levar em conta o contexto," afirma Lisa.
Darwin e as emoções
A teoria de que as expressões emocionais evoluíram para cumprir funções específicas é normalmente atribuída a Charles Darwin, em seu livro "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais".
Mas Darwin nunca propôs que as expressões emocionais fossem funcionais.
"Se você pretende citar Darwin como argumento de que você está certo, então é melhor citá-lo corretamente," diz Lisa.
Darwin acreditava que as expressões emocionais - sorrir, franzir as sobrancelhas etc. - eram mais parecidas com um osso indicativo de uma cauda que desapareceu, ocorrendo mesmo que não tenham mais utilidade prática para a sobrevivência.
Redação do Diário da Saúde
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