Deficiências dos desfibriladores
Pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo modelo de desfibrilador que pode ajudar a salvar vidas de pacientes cardíacos com menos efeitos colaterais negativos.
Cerca de 40% das paradas cardíacas súbitas são causadas pela fibrilação ventricular, um tipo potencialmente letal de arritmia.
O tratamento mais efetivo para o problema é a desfibrilação, medida que consiste na aplicação de um choque elétrico para estimular as células do coração, que voltam então a acompanhar o ritmo normal do órgão.
A abordagem, porém, não está livre de efeitos colaterais.
Da mesma forma que excita um dado número de células cardíacas, a corrente elétrica aplicada pode lesar e até mesmo provocar a morte de outras tantas.
Acertando o coração
Atentos a esta consequência indesejada, cientistas do Laboratório de Pesquisa Cardiovascular (LPCv) da Unicamp desenvolveram estudos com o objetivo de tornar o procedimento mais eficiente e seguro.
Os pesquisadores descobriram que o campo elétrico necessário para estimular as células cardíacas, quando orientado no sentido do eixo longitudinal das células, é cerca de metade daquele quando a orientação é transversal.
Todavia, também ficou comprovado que, à medida que aumenta o campo elétrico, não só mais células podiam ser "recrutadas", mas também mais células eram lesadas ou mortas pelo efeito do choque.
Ou seja, a posição em que ocorre a estimulação exerce papel importante no resultado do procedimento.
Esse conhecimento foi incorporado em dois novos equipamentos, um estimulador e um desfibrilador multidirecional.
Ensaios realizados com os equipamentos em nível celular e em modelo animal apresentaram resultados tão animadores que a Universidade já depositou um pedido de patente.
Estimulador multidirecional
O estimulador multidirecional baseia-se no princípio de que, se numa direção preferencial já ocorria a excitação das células, a variação da direção do campo possivelmente proporcionaria um maior recrutamento.
"Quando estimulamos nas três direções, conseguimos recrutar cerca de 80% das células com uma intensidade do campo que recruta apenas 40% em uma só direção.
"Além disso, também constatamos que a abordagem multidirecional possibilita a redução de 50% da potência empregada para se obter o mesmo recrutamento", detalha Alexandra Valenzuela da Fonseca, que desenvolveu o equipamento.
O conceito de recrutar e ao mesmo tempo proteger o maior número de células possível é importante para tornar os procedimentos de estimulação e desfibrilação mais eficientes e seguros.
Desfibrilador multidirecional
Com estes resultados, os pesquisadores partiram então para o desenvolvimento de um desfibrilador multidirecional.
O desafio ficou a cargo de Marcelo Viana, que construiu um protótipo utilizando componentes tradicionais, os mesmos empregados nos desfibriladores convencionais: duas pás, com três eletrodos cada uma, são acopladas ao equipamento para aplicação do choque.
Segundo Marcelo, o "pulo do gato" do instrumento é o seu sistema de chaveamento, que permite a aplicação muito rápida de choques sequenciais - menos que um décimo de segundo para a conclusão do processo - em três direções diferentes.
"Com o equipamento, conseguimos reduzir a potência em 20% mesmo para uma probabilidade de 90% de índice desfibrilatório. Ou seja, a estimulação multidirecional demonstrou ser uma importante inovação para a realização de uma abordagem mais eficiente e segura", assinala Marcelo.
Indústrias já se mostraram interessadas no licenciamento da nova tecnologia para fabricação dos aparelhos em escala comercial.
Jornal da Unicamp
Nenhum comentário:
Postar um comentário