Páginas

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Controle de superbactérias depende de uso racional de antibióticos

O termo superbactéria ganhou as manchetes neste mês de setembro após a propagação do gene NDM-1 (Nova Délhi metalo-beta-lactamase), responsável por deixar bactérias como Klebsiella e Escherichia resistentes a muitos medicamentos.

Entre os remédios ineficazes estão as carbapenemas, uma das principais opções no combate aos organismos unicelulares. A presença de genes como o NDM-1 faz com que uma enzima seja produzida pela bactéria e torne os antimicrobianos insuficientes para destruí-la.

Médicos consultados pelo G1 indicam que o controle das superbactérias está ligado, principalmente, ao uso adequado de antimicrobianos.

Para Thaís Guimarães, médica infectologista do Centro de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, o caso é diferente de epidemias como a da nova gripe, que movimentou campanhas de vacinação extensas (confira abaixo tabela de comparação entre o vírus H1N1 e o gene NDM-1). “Não é igual ao caso do H1N1, por exemplo, quando as pessoas que se deslocaram entre países tiveram essa infecção.”

Para o médico Jacyr Pasternak, do Hospital Albert Einstein, há uma tendência atual para aumentar o uso dos remédios além do necessário.

“O que mantém a resistência é a pressão antibiótica, a bactéria adquire resistência conforme o antibiótico é administrado”, diz o infectologista. “Mas a gente fica preocupado também pois a indústria farmacêutica tem investido pouco em remédios novos.”

Histórico – O gene NDM-1 foi identificado pela primeira vez em 2007 por Timothy Walsh, especialista da Universidade de Cardiff, em dois tipos de bactéria: Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli.

Considerada, por enquanto, uma ameaça restrita a ambientes hospitalares, superbactéria é, na verdade, um termo que vale não para um organismo, mas para qualquer bactéria que desenvolva resistência a muitos medicamentos.

“Nós preferimos falar em bactérias multirresistentes, já que o termo superbactéria pode levar as pessoas a pensarem que se trata de um organismo capaz de destruir tudo”, afirma Thais. “Quem vai pegar essa infecção são pacientes internados em hospitais nos quais essas bactérias podem estar ocorrendo.”

A médica também avalia que a pressão seletiva é o principal desafio no combate a bactérias multirresistentes. “A báctéria vai tentar sobreviver em um ambiente adverso, se o paciente fizer uso prévio de antibióticos, por exemplo”, explica a infectologista.

Plasmídeos – A aquisição do gene que faz as bactérias ficaram resistentes aos remédios ocorre por meio de plasmídeos. Plasmídeos são fragmentos do DNA que podem ser transmitidos de bactéria a bactéria, mesmo entre espécies diferentes.

“Uma klebsiella pode passar a uma pseudomonas, e esta pode passar a uma terceira”, explica Thaís. “Se o gene estiver incorporado no plasmídeo, ele pode passar de uma bactéria a outra sem a necessidade de reprodução.”

Risco no Brasil – No território nacional, já circulam bactérias multirresistentes como é o caso da SPM-1 (São Paulo metalo-beta-lactamase) e a KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase).

Com a resistência a carbapenemas sendo conhecida já há alguns anos pela comunidade medica, remédios como as polimixinas e tigeciclinas ainda são eficientes contra esses organismos, mas são usados somente em casos de emergência como infecções hospitalares.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e não prevê restrições de viagem à Índia, já que o risco de contágio está limitado à presença de pessoas em hospitais.

Segundo a Anvisa, a ocorrência do NDM-1 ainda não é considerada Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, classificação definida pelo Regulamento Sanitário Internacional (RSI 2005) para medidas contra novos agentes infecciosos.

Thaís Guimarães acredita que o turismo médico, costume de procurar tratamento em países nos quais as cirurgias são mais baratas como Brasil e Índia, não será o meio para propagar o gene NDM-1 pelo mundo. “Eu acho que o turismo médico não é importante como fonte de disseminação de bactéria resistente”, diz a médica.

(Fonte: Mário Barra/ G1)

Nenhum comentário: