Pesquisadores estão intrigados com o aumento significativo, e até agora misterioso, no número de filhotes de pinguim que aparecem sem penas – alguns totalmente desprovidos da cobertura. A perda das penas aumenta a vulnerabilidade ao frio e enfraquece os animais. O chamado transtorno da perda de penas já foi observado em colônias dos dois lados do Atlântico Sul, tanto na Argentina quanto na África do Sul.
Os pinguins “pelados” se veem desprovidos de um poderoso isolante térmico. Com isso, os animais têm de gastar mais energia durante o crescimento, o que os deixa atrofiados justamente no momento em que deixam o ninho e vão para o mar. É neste período de transição que os animais que tiveram a doença voltam a apresentar penas.
Há também mudanças de comportamento relacionadas à doença. Os pesquisadores notaram que, enquanto os filhotes dotados de penas procuravam a sombra ao meio-dia, os pinguins implumes permaneciam sob o sol. Vários dos filhotes com o transtorno morreram ao longo do período em que foram estudados.
O transtorno de perda de penas foi notado pela primeira vez na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2006, quando os pesquisadores da Fundação Sul-Africana para a Conservação de Aves Costeiras (SANCCOB) observaram a doença em pinguins africanos (Spheniscus demersus) do centro de reabilitação. Durante esse ano, 59% dos filhotes de pinguins da instalação perderam suas penas. No ano seguinte foram 97% e, em 2008, 20%.
A doença também foi notada na natureza. Em Punta Tombo, na Argentina, não há registros de pinguins sem penas antes de 2007. De acordo com Dee Boersma, pesquisadora da Universidade de Washington que trabalha na região há 29 anos, em 2010, apareceram oito pinguins de Magalhães (Spheniscus magellanicus) com o transtorno. “Em 2009, não houve nenhuma incidência do transtorno, mas muitos filhotes morreram por causa das fortes tempestades, antes mesmo que pudessem apresentar a doença”, disse.
Os pesquisadores afirmam que é preciso mais estudos para descobrir tanto as causas quanto as consequências da doença, justamente pelo fato de o problema ser muito recente. “Nós ainda não temos dados amostrais grandes o suficiente para determinar se a mortalidade está crescendo na natureza”, disse Olivia Kane, da Universidade de Washington e autora do estudo sobre o transtorno publicado recentemente no periódico científico Waterbirds.
Ainda é cedo, também, para afirmar se os pinguins terão problemas maiores no futuro, como infertilidade, por exemplo. As espécies começam a procriar após quatro ou até oito anos de idade, e os pesquisadores observaram o transtorno da perda de pena há apenas três temporadas de procriação. “Além disso, a taxa de sobrevivência é muito baixa entre os pinguins de Magalhães saudáveis, o que faz com que a probabilidade delas voltarem a ser vistas pelos cientistas futuro seja ainda mais baixa”, disse Olivia.
As duas pesquisadoras acreditam que a causa da perda de penas seja um vírus. A hipótese é levantada porque existem doenças semelhantes em outras aves que têm acusa viral. “No entanto, doenças que resultam na perda de penas em aves normalmente são permanentes, enquanto que no caso dos pinguins elas voltam a aparecer normalmente”, afirmou Olivia, que também não descarta as hipóteses de distúrbios da tireoide, desequilíbrios nutricionais ou genética.
(Fonte: Maria Fernanda Ziegler/ Portal iG)
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