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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Gás de xisto pode ser ainda mais poluente que carvão

Antes considerado por alguns um ‘combustível de transição’ rumo a uma produção de energia mais limpa, o gás natural pode vir a se tornar o mais novo vilão do aquecimento global. Isso porque de acordo com uma nova pesquisa realizada pela Universidade de Cornell, em Ithaca, nos EUA, a produção deste gás, quando derivada do xisto – tipo de rocha metamórfica – gera grandes quantidades de metano, e boa parte deste metano vaza para a atmosfera.

O gás de xisto é produzido através de uma técnica chamada de quebra hidráulica, que já era considerada controversa, pois utiliza muita água e pode causar poluição tóxica, sobretudo em locais de armazenamento de água. O mecanismo gera o gás natural liberando metano, cujos índices de liberação para a atmosfera estão entre 3,6% e 7,9%.

O grande problema é que o metano é um gás de efeito estufa muito mais potente que o carbono, o que significa que ele retém muito mais calor que o CO2, contribuindo ainda mais ativamente para o aquecimento global, embora seus efeitos sejam menos duradouros que o do dióxido de carbono.

Segundo Robert Howarth, professor de ecologia e principal autor da pesquisa na Climatic Change, “a pegada [de carbono] do gás de xisto é maior que a do gás convencional ou do petróleo em qualquer perspectiva, mas particularmente nos primeiros 20 anos. Comparada à do carvão, a pegada [de carbono] do gás de xisto é pelo menos 20% maior e talvez mais do que duas vezes maior nos primeiros 20 anos, e semelhante quando comparada por 100 anos”.

Comparando o gás convencional e o de xisto em um período de 100 anos, o primeiro é quase certamente melhor que o carvão, mas o de xisto é provavelmente pior. Mesmo assim, Howarth não descarta que o prejuízo causado pelo gás possa ser ainda maior. Na pesquisa, o professor e sua equipe utilizaram estimativas baseadas nas ‘boas práticas’, mas admite que não sabe se essas práticas são de fato seguidas pela indústria, pois não há dados divulgados.

“Ninguém sabe com certeza em que extensão a indústria usa as boas práticas; e infelizmente, pelo menos dos EUA, a indústria não quer que o governo ou o público saiba. A Agência de Proteção Ambiental propôs regras que requereriam à indústria apresentar suas emissões de metano, mas muitas empresas processaram a EPA para tentar evitar esse relatório”, lamenta.

Segundo o autor da pesquisa, o aprimoramento da tecnologia poderia resolver o problema do vazamento, mas ele duvida que tal melhoramento seja economicamente atrativo aos produtores. Devido ao grande aumento na produção do gás, os preços do item baixaram muito, e já se calcula que em 25 anos metade da produção de gás natural venha do xisto.

Alguns países, como a França, vêm tentando adotar medidas para banir a perfuração de poços para a produção de gás de xisto, mas a situação não é tão simples em outras nações. Na Polônia, por exemplo, a produção do item é vista como uma alternativa ao gás da Rússia, o que tornaria o país mais independente no setor energético.

Para Howarth, “nós não devemos ver o gás de xisto como um ‘combustível de transição’ a ser usado nas próximas décadas para substituir outros combustíveis fósseis, mas devemos trabalhar para conseguirmos combustíveis verdadeiramente limpos e renováveis o mais rápido possível, como o vento a energia solar”.

O estudo do professor foi muito criticado por empresas do setor, que afirmam que Howarth exagera a quantidade de metano que vaza dos poços de produção do gás. “Os problemas do estudo estão ligados a duas áreas: os dados e as conclusões. Fora isso, é um estudo excelente”, ironizou Chris Tucker, porta-voz do grupo industrial Energy In Depth. “Essa não é uma pesquisa acadêmica séria, mas sim uma pesquisa política séria”, concluiu.

“Falta credibilidade nesse estudo e há muitas contradições. O autor [...] não é credenciado para fazer esse tipo de análise química”, declarou Russell Jones, assessor econômico do Instituto Americano de Petróleo, de Washington DC. Para ele, há muitos problemas básicos na pesquisa, como o horizonte de 20 anos, que é muito curto, o fato de que usinas de gás natural deveriam ser consideradas mais eficientes que usinas de carvão e os dados, que não são confiáveis.

Mesmo especialistas no assunto divergem sobre o relatório. Enquanto alguns, como Henry Jacoby, do Programa de Ciência e Política de Mudanças Globais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, acreditam que o estudo é “muito fraco”, outros, como Alan Krupnick, do grupo de pesquisa Recursos para o Futuro, de Washington, alegam que a pesquisa “é muito importante para lembrar as pessoas que é o ciclo completo que importa, e não apenas as emissões imediatas”.

Jacoby defende que o horizonte de 20 anos é um problema, pois diz que o estudo aponta o metano como um gás muito mais potente do que o carbono, não levando em conta que o primeiro gás se quebra em algumas décadas, enquanto o carbono persiste por séculos ou mesmo milênios.

Além disso, Jacoby também diz que “Howarth está fazendo a comparação errada”, e que em vez de usar emissões de GEEs por joules de combustão energética, deveriam ser utilizadas emissões por kilowatt/hora de energia produzida – estatística que favorece o gás natural.

Já Krupnick crê que a pesquisa não é tanto sobre o quanto o gás natural é pior do que o carvão. “Não é exatamente isso que o relatório diz”, observa ele. “O estudo apresenta dois números, um para um período de 20 anos e outro para um período de 100 anos”. Para ele, o que deve ser levado em consideração é que mesmo em uma escala temporária de um século, o carvão e o gás natural de xisto são comparáveis – o que é um sério problema para o futuro.

http://www.institutocarbonobrasil.org.br/?id=727301

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