A possibilidade de uma epidemia causada por um ataque biológico tem assustado a população de todo o mundo. Isto porque o misterioso "pó branco", que supostamente carrega o Bacillus Anthacis, tem se espalhado por nações de todos os continentes, sendo a primeira vez que os correios são utilizados como instrumento de um ataque biológico. Dizemos "supostamente" porque a grande maioria do material analisado demonstrou ser apenas alarme falso: talco, mistura para bolo, água com detergente e até mesmo papel picado causaram pânico nas pessoas que temem ser infectadas por esta doença que já existe há dezenas de milhares de anos.
Histórico do Antraz
Historiadores acreditam que uma das pragas descritas no Velho Testamento por ter atingido o Antigo Egito é o antraz. Isto só é possível porque a bactéria é muito resistente ao ambiente, podendo permanecer no solo por muito tempo mesmo sob condições desfavoráveis como o calor e a seca. O nome da doença vem do grego anthrax, que significa carvão e refere-se às manchas negras deixadas na pele quando a infecção é cutânea.
O recente uso como arma biológica deixa claro que os bacilos do antraz foram modificados em laboratório, para ficarem sob a forma de um pó e poderem ser inspirados mais facilmente. A forma natural da doença é mais freqüente em animais ruminantes, como ovelhas, gado, cavalos e cabras, e a contaminação humana dá-se pelo contato com animais infectados ou suas carcaças, bem como a ingestão de carne crua ou muito mal-passada. A contaminação humana natural é em sua grande maioria cutânea, tendo sido reportada apenas 224 vezes nos EUA entre 1944 e 1994. Já a nação africana de Zimbabwe apresentou uma grave epidemia da doença, registrando mais de 10 mil infecções cutâneas entre 1979 e 1985. Já a versão respiratória da doença é raramente encontrada em sua forma natural, não tendo sido registrado nenhum caso no Brasil e apenas 18 casos nos EUA entre 1900 e 1978.
Durante a segunda guerra mundial o exército britânico fez testes com uma concha explosiva cheia de esporos de antraz, contaminando o solo de uma ilha perto da Escócia durante 36 anos. Nos anos 40 o Japão utilizou o antraz como arma biológica contra a China, e em 1979 pelo menos 68 pessoas morreram na União Soviética em um acidente com o antraz em um laboratório.
No Brasil o uso de armas biológicas já matou milhares de índios durante a colonização, quando eram oferecidos às tribos cobertores com o vírus da varíola. Ao contrário do antraz, a varíola se propaga pelo contato entre os seres humanos, e mata até 30% dos infectados. Segundo especialistas, a varíola é a segunda opção de arma biológica a ser usada pelos terroristas, devido à facilidade para se conseguir e se espalhar o vírus.
Sintomas
Os sintomas da doença dependem da maneira como a pessoa foi infectada. A contaminação pode se dar através do contato com a pele, da ingestão ou da inalação de bacilos do antraz, esta última sendo a forma mais perigosa e fatal.
Quando a contaminação é cutânea, os primeiros sintomas são coceira (como uma picada de mosquito), seguido de uma espécie de furúnculo com um tecido escuro na parte central. Esta versão não apresenta muito risco de ser fatal. Já a forma digestiva causa perda de apetite, náusea e vômitos, seguidos de dor abdominal, febre, diarréia e inflamações, podendo ser fatal em até 60% dos casos não-tratados. A forma mais severa da doença ocorre quando os bacilos do antraz são inalados e infectam o sistema respiratório. Os sintomas iniciais são parecidos com os de uma gripe, causando mal-estar e febre nos seis primeiros dias. Pode evoluir para uma grave infecção respiratória, o que causa dificuldade para respirar, suor intenso e pele azulada. Se não for tratada a tempo, em cerca de dez dias a doença leva à morte quase a totalidade dos casos.
Tratamento
O tratamento pode ser feito com penicilina ou com antibióticos que tenham o princípio ativo ciprofloxacina, facilmente encontrado no mercado brasileiro também em sua forma genérica. Estatísticas demonstraram que a venda deste antibiótico disparou nos EUA, superando até mesmo o Viagra. No entanto, a automedicação não é recomendada por vários motivos: cada tipo de infecção deve ter um acompanhamento específico, e o antibiótico não deve ser tomado caso a doença ainda não tenha sido identificada. O uso de antibióticos de forma indiscriminada pode causar graves danos à saúde, além de tornar os bacilos no organismo mais resistentes aos tratamentos. Se uma pessoa tem apenas gripe e toma antibióticos pensando se tratar de antraz, quando a gripe passar ela vai deixar de tomar esses antibióticos e os outros germes do organismo vão criar resistência a esses medicamentos importantes, podendo não fazer efeito no caso de uma real necessidade.
Quando for comprovado que o paciente esteve exposto ao antraz, o médico indicará o início do tratamento com antibiótico, que deve durar até 60 dias, visto que os bacilos permanecem escondidos no corpo por muito tempo após o controle dos sintomas. Existe uma vacina que é administrada apenas às pessoas expostas a alto risco de contaminação, como os trabalhadores rurais e as forças armadas americanas. Por possuir inúmeros efeitos colaterais e por ser administrada em várias doses ao longo de 18 meses, a Organização Mundial de Saúde não aconselha uma vacinação em massa.
Como se informar
As pessoas que desejam ter mais informações ou saber como proceder em casos de suspeita de contaminação podem ligar para o Disque Saúde (0800-611997), do Ministério da Saúde. As atenções devem ser redobradas ao receber uma correspondência sem o endereço do remetente, com o envelope irregular ou com peso excessivo.
Elen Cuña
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