Nanopartículas com remédio
Cientistas do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) estão usando a nanotecnologia para combater a esquistossomose.
O trabalho da pesquisadora Laís Bastos da Fonseca consiste em usar nanopartículas para transportar quantidades minúsculas de praziquantel (PZQ), o medicamento mais indicado no tratamento da doença.
Nanopartículas são materiais com dimensões na faixa dos nanômetros - 1 nanômetro equivale a 1 bilionésimo de metro -, geralmente polímeros, que funcionam como carregadores dos fármacos.
As nanopartículas permitirão a administração de doses mais adequadas no tratamento da esquistossomose, principalmente para as crianças.
A doença é responsável pela morte de 200 mil pessoas por ano no país.
Dosagem do medicamento
Segundo a pesquisadora, a dose de PZQ a ser administrada nos pacientes é calculada em função do peso da pessoa - aproximadamente 20 mg/Kg a cada quatro a seis horas.
Por ser uma doença comum em crianças em idade pré-escolar, a administração de doses medicamentosas adequadas é muito complicada, já que a variabilidade corpórea nessa faixa etária é grande.
A divisão de comprimidos em pedaços homogêneos também é complexa, principalmente em lugares de baixa renda, onde o nível de esclarecimento da população é normalmente muito baixo.
Diante dessa realidade, o Ministério da Saúde vem solicitando o desenvolvimento do produto praziquantel suspensão 120 mg/ml. Por diversos motivos e impeditivos técnicos, isso até hoje não foi possível.
Por outro lado, também existe a falta de interesse das indústrias farmacêuticas privadas neste medicamento - a esquistossomose é uma doença negligenciada por estas empresas, devido ao baixo potencial lucrativo dos tratamentos.
Nanocápsulas
As nanopartículas funcionam como cápsulas microscópicas, no interior das quais o medicamento é armazenado.
"O trabalho consiste na fabricação de nanopartículas poliméricas contendo o praziquantel encapsulado pela técnica de polimerização em miniemulsão. Essa fabricação ocorre em uma única etapa de síntese do polímero com a incorporação imediata do fármaco, o que é o grande diferencial", afirma Laís.
Além disso, de acordo com a pesquisadora, o processo empregado permite o aumento de escala, o que é fundamental para uma produção industrial.
Os resultados obtidos até o momento são promissores. Mostram, por exemplo, partículas de diâmetro médio de 80 nanômetros e incorporação do fármaco de praticamente 100%. Os próximos passos são os estudos in vivo.
Esquistossomose
A esquistossomose, conhecida popularmente como doença dos caramujos, xistose e barriga d'água, é uma doença transmissível, parasitária, causada por vermes trematódeos do gênero Schistosoma.
O parasita, além do homem, necessita da participação de caramujos de água doce para completar seu ciclo vital. Na fase adulta, o parasita vive nos vasos sanguíneos do intestino e fígado do hospedeiro definitivo, o homem.
A doença parasitária é um dos principais problemas de saúde pública que acomete os países subdesenvolvidos, sendo o Brasil o mais afetado do continente americano.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 300 milhões de pessoas são portadoras do parasita, a maioria delas na África e na América Latina. No Brasil, são 2,5 milhões de casos.
A enfermidade foi descrita cientificamente pela primeira vez em 1851 pelo médico alemão T. Bilharz, que lhe dá o nome alternativo de bilharzíase.
Sintomas da esquistossomose
A fase de penetração é o nome dado a sintomas que podem ocorrer quando da penetração da cercária na pele.
Frequentemente é assintomática, exceto em indivíduos já infectados antes. Neste caso é comum surgir eritema (vermelhidão), reação de sensibilidade com urticária e prurido e pele avermelhada no local penetrado, que duram alguns dias.
Na fase inicial ou aguda, a disseminação das larvas pelo sangue, e principalmente o início da postura de ovos nas veias que vão para o fígado ativa o sistema imunitário surgindo febre, mal-estar, dores de cabeça, fraqueza, dor abdominal, diarréia sanguinolenta, falta de ar e tosse com sangue, entre outros.
Estes quadros duram em geral alguns dias, mas podem durar até meses e em casos raros podem ser fatais.
Redação do Diário da Saúde
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