O futuro das vinícolas do mundo depende do desenvolvimento de novas variedades de uvas, dizem cientistas. E, segundo eles, mapas do genoma da uva poderão ser úteis nesse sentido. Pragas que atacam as plantações são um problema constante para vinicultores. Ainda assim, novas leis deverão proibir o uso de certos pesticidas.
Pesquisadores americanos mapearam o genoma de mais de mil amostras de uvas. Em artigo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS), os especialistas dizem que esse tipo de conhecimento abre caminho para a criação de variedades de uva resistentes a doenças.
As variedades de uva cujo vinho nós gostamos de beber – merlot, chardonnay, semillon ou riesling, por exemplo – foram, de maneira geral, desenvolvidas a partir de uma espécie, a Vitis vinifera.
Acredita-se que esta uva tenha sido “domesticada” há cerca de cinco mil anos, em uma região próxima do que hoje é a Turquia.
Desde então, a espécie se tornou o pilar da fabricação do vinho em lugares tão distantes um do outro como Austrália, Chile, Estados Unidos e África do Sul.
A Vinifera foi manipulada para produzir centenas de variedades, pretas e brancas, mas as uvas pertenciam à mesma espécie, com poucos cruzamentos entre variedades diferentes.
“[Cruzamentos entre diferentes variedades] parecem ter sido feitos em grau extremamente limitado”, disse Sean Myles, principal autor do estudo. “Quando encontramos bons cultivos que funcionavam para nós, passamos a adotá-los e eles se tornaram alvos para patógenos (organismos causadores de doenças)”, disse Myles à BBC.
Myles trabalha na Stanford University School of Medicine, na Califórnia, mas desenvolveu esse projeto na Cornell University, em Nova York.
Fungicidas – As uvas viajaram da Europa para o mundo. As pragas, por sua vez, viajaram na direção oposta. Uma delas, o míldio da videira, por exemplo, surgiu na América do Norte.
As uvas vinifera não têm resistência natural contra essa praga. Só na Austrália, o combate a ela custa por volta de US$ 100 milhões por ano. O dinheiro é gasto em fungicidas usados para proteger as videiras.
Nos Estados Unidos, 70% dos fungicidas usados na agricultura são borrifados nas plantações de uva.
Mas à medida que a União Europeia – que produz 70% do vinho do mundo – tenta melhorar o impacto negativo do seu setor agrícola sobre o meio ambiente, o bloco tenta reduzir também o uso dessas substâncias químicas.
Por exemplo, uma proposta da Comissão Europeia em consideração no momento restringiria o uso de pesticidas em culturas ‘não essenciais’ a partir de 2013.
Cientistas de várias instituições vêm tentando desenvolver novas variedades de uvas que sejam imunes a infecções, seja por meio de cruzamentos com espécies resistentes ou através da manipulação de genes que tornam as plantas suscetíveis a infecções.
Mas técnicas convencionais de cruzamento custam caro e dão muito trabalho. As novas plantas demoram entre três e quatro anos para dar frutos. Só então o vinho pode ser feito, provado e avaliado para que os vinicultores decidam se o produto é viável. Mesmo quando o vinho é aprovado, não há garantia de que o consumidor vai gostar do novo produto em relação às suas variedades preferidas.
A equipe de especialistas mapeou os genomas de mais de mil amostras de uvas, associando a presença de “marcadores” genéticos (sequências de DNA) a traços como acidez, quantidade de açúcar ou resistência a doenças.
“Se você conhece os marcadores genéticos associados a essas características, pode plantar mudas, analisar seus DNAs assim que obtiver o primeiro fragmento de folha e dizer, por exemplo: vamos manter esses cinco porque sabemos que seus perfis genéticos estão associados aos traços em que estamos interessados”, disse Myles. “Isso vai economizar uma quantidade imensa de tempo e dinheiro”.
“Você precisa ter dados de genomas de muitas plantas individuais”, acrescentou. “Por outro lado, isso está ficando cada vez mais barato, então, comparado ao método que usamos, você pode fazer a mesma coisa cem vezes mais barato”.
Embora fatores comerciais tendam a fazer da produção de vinhos uma profissão conservadora, ele disse que a mudança precisa acontecer.
“Não podemos apenas seguir usando as mesmas variedades de cultivo nos próximos mil anos”. A boa notícia é que mais experimentação deve, em princípio, resultar em uma variedade maior de vinhos.
(Fonte: G1)
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