As águas da Amazônia podem ser comercializadas em escala internacional a exemplo do que acontece com o barril de petróleo. Quanto custaria o barril de água? Esta é uma pergunta que os cientistas, especialmente os especialistas em água, como os hidrólogos, se fazem.
Com 20% das águas correntes do planeta, das quais 14% em solo brasileiro, a Amazônia continental pode ser considerada muito mais rica do que os poços de petróleo do Oriente Médio, palco de guerras em decorrência do seu “ouro negro”.
Foi com o intuito de valorizar cientificamente, socialmente, ambientalmente, politicamente e economicamente o potencial hídrico da região, que um grupo de trabalho formado por dez especialistas – Marco Antonio de Oliveira (CPRM), Naziano Filizola (Ufam), Emílio Soares (Ufam), Júlio Tota (UEA), Ingo Wahnfried (USP), Jaci Saraiva (Sipam), Eurides de Oliveira (ANA), Oswaldo Calisto Acosta (Aneel), Andrea Bartorelli (geólogo) e Ennio Candotti (Físico-Museu da Amazônia/Musa) – desenvolveram um estudo conjunto sobre o estado da água de superfície, subterrânea e aérea da região.
O dossiê foi entregue ontem ao secretário geral do Ministério de Ciência e Tecnologia, Luiz Antônio Elias, em Brasília, em reunião que contou com a presença do presidente do Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antônio Raupp, e do professor Ennio Candotti, na Esplanada dos Ministérios, no Distrito Federal.
Entre as sugestões contidas no documento para as autoridades brasileiras observa-se “a criação do crédito de água para um serviço ambiental semelhante ao do crédito de carbono a ser utilizado no incentivo da conservação dos mananciais, das águas superficiais e subterrâneas. Estes créditos poderiam financiar comunidades propiciando a conservação – evitando e inibindo fontes contaminantes, bem como contribuir para a realização de estudos e ações.
Sempre com o objetivo de comprender e preservar os ciclos hidrológicos na Amazônia e no planeta, e os biomas que dependem dele e interagem com ele. Caminhos para a determinação de um valor de mercado do barril de água deverão ser estudados para consolidar este item-conceito”.
Cooperação – Os especialistas também apontam “a necessidade da criação de um Instituto Multidisciplinar das Águas da Amazônia, com a finalidade de promover estudos e projetos, a cooperação internacional e a colaboração entre as diferentes instituições e agências voltadas a conhecer e monitorar o papel climático e ambiental do ciclo hidrológico na Bacia Amazônica”, a maior e mais importante do mundo pelas características orgânicas, biológicas e de preservação da biodiversidade do planeta.
Manaus e Parintins têm água poluída – O Grupo de Trabalho responsável pelo documento aponta a necessidade urgente de um levantamento científico do estado da qualidade da água oferecida à população nas cidades de Manaus e Parintins, especialmente as oriundas dos poços artesianos.
Em determinado trecho do documento consta que “20% do abastecimento público de Manaus de água é feito a partir do Aquífero Alter do Chão, e apenas 8% das casas são atendidas por rede de coleta de esgotos. Isso gera contaminação por fossas sépticas. Um estudo avaliou a água de 120 poços particulares na cidade e constatou que 75% estavam contaminados por coliformes fecais. Em Parintins, todo o abastecimento de água é feito a partir do Aquífero Alter do Chão.
Um estudo mostrou que dos 18 poços que compõem o sistema de abastecimento, apenas quatro não apresentaram contaminação oriunda de fossas sépticas. Não há rede de coleta de esgotos na cidade”. Em face do cenário apresentado pelo dossiê e da necessidade de políticas públicas emergenciais para a área, o secretário-geral do Ministério de Ciência e Tecnologia, Luiz Antônio Elias, encaminhou o documento como uma das prioridades da nova gestão do ministério que assumirá com a posse da presidente Dilma Rousseff.
(Fonte: A Crítica/ AM)
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