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sábado, 3 de setembro de 2011

Soluções verdes como atrativo de venda

A preservação do meio ambiente é um tema cada vez mais recorrente na sociedade. O que fazer com o lixo produzido diariamente e como se desenvolver de forma sustentável, causando o menor impacto possível à natureza, são alguns dos principais motivos de preocupação das pessoas com consciência ambiental. Contudo, não são os únicos. Em Natal, especialmente, a contaminação das reservas naturais de água por nitrato tem sido um dos maiores causadores de dor de cabeça nos ambientalistas. Tanto que, agora, empreendimentos imobiliários que apresentam em seu projeto uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) estão saindo na frente dos concorrentes e sendo escolhidos na hora de fechar a compra da nova moradia.

ana silva
Ecologicamente corretas, as estações de tratamento de esgotos custam meio por cento do valor de um empreendimento de 500 apartamentos e ocupam área aproximada de 250 metros quadradosAs ETEs permitem que toda a água usada pelos moradores de um empreendimento seja devolvida de forma tratada e sem causar danos ambientais. Inclusive, porque é a água do esgoto o principal causador da contaminação de rios e do aumento da concentração de nitrato nos poços de abastecimento de água em Natal. "Empreendimentos que já têm ETE estão mesmo aumentando e isso é uma tendência. Quando os órgãos públicos não correspondem, promovendo o saneamento básico dos locais, o jeito é o setor privado agir e assim está acontecendo. Já existe tecnologia para esse tratamento de forma mais acessível e se mostra mesmo uma tendência na construção civil", avalia a engenheira ambiental Carla Grace.

O problema do abastecimento em Natal estourou em 2007, quando levantamentos para analisar a qualidade da água oferecida na cidade apontaram uma alta concentração de nitrato. Esse problema seria resultado, principalmente, da ausência de esgotamento sanitário e de tratamento correto da água servida, que muitas vezes era simplesmente devolvida aos rios e contaminavam os poços de abastecimento. De lá para cá, a situação melhorou, inclusive, graças à instalação de ETEs por parte dos órgãos públicos.

Conscientizada, boa parte da população natalense também passou a cobrar dos novos empreendimentos e, aqueles que têm no projeto uma ETE, estão levando vantagem em relação ao que não tem. Ou seja, o investimento no tratamento de esgoto se mostrou não só importante para a natureza, como também para as vendas.

"O oferecimento de um empreendimento com uma ETE tornou-se um diferencial e, muitas vezes, um ponto de desempate entre concorrentes", afirma Marcel Diniz, coordenador de vendas da empresa Henfibra, responsável por projetar estações de tratamento de esgoto em muitos dos novos empreendimentos construídos nas regiões Norte e Nordeste do país.

Segundo Diniz, a preocupação não está se tornando só uma exigência no mercado, mas também da legislação. "Hoje, em muitas cidades, e em Natal não é diferente, empreendimentos com determinado número de unidades habitacionais já devem ter um sistema de tratamento de esgoto, sobretudo, quando localizados em áreas onde não há rede pública", afirma o coordenador.

Marcel Diniz lembra ainda que quando a preocupação com o meio ambiente está presente desde a concepção do projeto, é mais fácil e viável a instalação de uma estação de tratamento ou de um sistema de reuso de água. "Construir em um empreendimento já pronto é bem mais complicado, porque é preciso fazer várias mudanças no sistema hidráulico e isso encarece o trabalho".

Apesar de variar de acordo com o tamanho do empreendimento, em média, uma ETE não significa mais de 0,5% do valor de cada moradia. Além disso, para 500 unidades habitacionais, uma estação ocupa uma área de aproximadamente 250 m².

Reutilização de água ainda é pouco explorada

Além do tratamento de esgoto, alguns empreendimentos novos da Região Metropolitana de Natal também já estão dispondo de um sistema de reuso da água, que significa não só uma opção para não poluir, como também uma economia de água. Porém, a ausência de uma legislação específica para isso e o investimento em equipamentos de tratamento da água servida ainda representam obstáculos que impedem a popularização desse sistema.

Segundo a legislação brasileira, a água tratada, por maior que seja o investimento e mais alta a tecnologia utilizada no tratamento, jamais poderá ser usada para o consumo humano. Ou seja: ela não pode ser classificada como "potável". "Isso mostra um atraso da nossa legislação, pois já existem equipamentos que deixam a água boa o suficiente para ser consumida. Em países da Europa, isso já é permitido", garante o diretor da Henfibra, Raimundo Diniz. Não sendo mais possível utilizá-la para o consumo, a água tratada tem seu uso reduzido à irrigação de jardins ou limpeza de calçadas e veículos.

Mesmo assim, a reutilização da água ainda é viável para muitos empreendimentos. "É como se a água paga apenas uma vez, pudesse ser utilizada duas vezes. Em locais onde há grande gasto de água com jardins, por exemplo, um sistema de reutilização de água é importante. Pode representar uma economia de até 40%, 50%, não só de dinheiro, mas também da água, mostrando uma preocupação ambiental", afirma Raimundo Diniz.

Por isso, quem já implantou o sistema, garante que o retorno vale o investimento. É o caso do Condomínio Alphaville Natal, localizado na RN-063. Segundo o engenheiro Ricardo Diego Lopes, o sistema, que ainda não entrou em funcionamento devido à pouca demanda, será viável porque representará uma significativa economia de água. "A água tratada vai ser aproveitada na irrigação, representando um corte de gasto de água e na taxa de condomínio dos moradores", explica o engenheiro.

Ele lembrou, ainda, que como a água que abastece o condomínio é de poço, a utilização do sistema de reuso de água vai também ser uma economia de energia, "porque a bomba que puxa a água será menos utilizada".

Por outro lado, para um empreendimento em que o consumo de água não potável não representa números tão significativos, ter um sistema de reuso não é vantajoso. Isso, porque o investimento é considerável, por necessitar de mais tecnologia que uma simples ETE. "O sistema ainda requer mais investimento porque precisa também de um sistema diferenciado de distribuição, para não misturar as águas", explica Raimundo Diniz.


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