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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Bicicletas são os veículos mais eficientes nas cidades

Muitas vezes, ao optarmos por nos deslocar de carro, justificamos nossa preferência pelo automóvel devido ao maior conforto, rapidez e segurança que esse veículo oferece em relação aos outros meios de transporte. Mas será que podemos mesmo dizer que o carro é superior às outras formas de locomoção nesses quesitos? Esse e outros pontos foram questionados pela última edição do Desafio Intermodal, que acontece em setembro e marca a Semana da Mobilidade em várias cidades do país.

O Desafio é uma espécie de prova na qual os participantes optam por um meio de transporte – ou modal – e percorrem um determinado trajeto nesta forma de locomoção. No percurso, são analisadas questões como o tempo de deslocamento, a velocidade média de cada modal, o custo para ir de um ponto ao outro, a emissão de poluentes, a segurança, o conforto e a praticidade de cada meio.

Desta forma, o evento tem como objetivo conscientizar a população para a condição do trânsito em algumas das principais cidades brasileiras, além de estimular meios de transporte mais sustentáveis. O desafio não tem cunho científico, mas serve para mostrar as diferentes situações enfrentadas pelos diferentes modais no trânsito, como ônibus, pedestres, corredores, bicicletas, motocicletas, automóveis e cadeirantes.

Daniel de Araujo Costa, presidente da Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis (Viaciclo), ressalta que o Desafio Intermodal não é uma competição, mas um comparativo entre os diferentes meios de transporte, e que serve para mostrar que é possível usar outras formas que não o carro para se locomover. “Queremos mostrar que usar a bicicleta, o ônibus ou ser pedestre pode ter vantagens em relação a quem usa carro”.

Em 2011, o desafio está sendo realizado no mês de setembro em diversas cidades do país como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Florianópolis, Recife, Brasília, Aracaju, Salvador, Maceió, Porto Alegre, Belém, Natal, Balneário Camboriú, São José dos Campos, Maringá e Uberlândia. Em São Paulo e Belo Horizonte, o Desafio Intermodal está marcado para esta terça-feira (20).

No Rio de Janeiro (RJ), onde o evento já está em sua sexta edição, a desafio ocorreu no dia 1º de setembro, e o modal estreante carona programada chegou em primeiro lugar, seguido pela integração metrô + bicicleta e pela moto. Na hora da avaliação dos outros dados como poluição e custo, porém, a bicicleta saltou para o topo da lista, mesmo sem terem sido considerados a ocupação do espaço urbano e a emissão de ruídos.

Em Florianópolis (SC), o evento ocorre desde 2007, e neste ano aconteceu na última quinta-feira (15) às 18h. O modal ‘ganhador’ foi a moto, seguida pela bicicleta, que manteve uma velocidade média maior que a primeira colocada por ter que fazer um trajeto maior. A surpresa ficou por conta do ônibus, que teve tempos de percurso bem elevados, chegando a levar mais tempo que um dos caminhantes.

Em Manaus (AM), onde desafio também ocorreu dia 15, a bicicleta foi o meio de transporte mais rápido para chegar ao destino final, levando entre 11 e 15 minutos para percorrer 4,2 quilômetros, a uma média de 20 km/h, seguida da moto e do carro. O ônibus também teve o pior desempenho na cidade, tanto em velocidade quanto em preço: uma média de 4,7 km/h e R$ 2,25 por passagem.

Em Balneário Camboriú (SC), o evento aconteceu também no dia 15, e apesar da ‘magrela’ ter ficado em terceiro lugar no quesito tempo, atrás da moto e do carro, a análise dos outros aspectos levou a bicicleta ao primeiro lugar como modal mais eficiente, seguida do pedestre e do ônibus. Embora os outros veículos tenham variado muito suas performances de cidade para cidade, a ‘bike’ se manteve entre os mais eficientes em quase todos os desafios.

Segundo Costa, os resultados do Desafio Intermodal indicam que a bicicleta é mais eficiente principalmente do que o carro, e que embora o número de ciclistas esteja aumentando, infelizmente a eficiência desse meio ainda não se reflete plenamente na escolha da população na hora de sair de casa. “É preciso um sacrifício individual para que a coletividade seja beneficiada”, declara.

O presidente da Viaciclo explica que não é necessariamente a falta de espaço para criar vias para as bicicletas que impede o desenvolvimento de uma “cultura ciclística”. Para ele, por exemplo, Florianópolis é uma cidade extremamente “ciclável”, e o que falta é educação no trânsito para que as pessoas respeitem quem utiliza esse meio de transporte. Mas ele admite que a quantidade de ciclovias e ciclofaixas ainda é insuficiente.

Em relação ao transporte coletivo, Costa acredita que os resultados do desempenho dos ônibus refletem o transporte público das cidades. Em Florianópolis, por exemplo, ele comenta que faltam corredores exclusivos para os ônibus, e que deveriam existir linhas únicas em certos trechos da cidade, a fim de diminuir os engarrafamentos.

“A situação de mobilidade urbana é deplorável, com um transporte coletivo caro, com poucos horários, falta de ciclovias e ciclofaixas, passeios inexistentes e total desintegração entre os modais de transporte”, afirma. Para se ter uma ideia, alguns estudos consideram a capital de Santa Catarina a cidade com a pior mobilidade urbana do Brasil.

Por isso, Costa acredita que o jeito é investir no transporte público e na integração dos meios de locomoção, para que as pessoas passem a optar por estas formas em vez de utilizar cada vez mais o carro. “Temos que pensar sobre o que estamos fazendo na cidade”, reflete.

Autor: Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil

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