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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Para ser sustentável, país precisa criar alternativas a modelo de produção agrícola

O Brasil pode ser uma potência agrícola e ambiental, na visão de Paulo Moutinho, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Mas o desafio não está em conciliar mas em encontrar modelos agrícolas com baixa emissão de carbono. A discussão foi feita durante o fórum Amazônia Sustentável, nesta segunda-feira (12), na capital paulista.

Moutinho considera que o desenvolvimento, inevitavelmente, implica em custo social e ambiental. Segundo o pesquisador, nos ultimos 10 anos, foram desmatados 70 milhões de hectares na Amazônia, e desse número, cerca de 20 milhões de hectares estão atualmente abandonados.

Também participante do fórum, o professor Carlos Eduardo Young, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que não há por que acreditar que o desmatamento para fins econômicos proporcione melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) – indicador de qualidade de vida e avanços sociais, criado em contraposição a medições econômicas, como o Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo o acadêmico, já foi constatado cientificamente que não há relação entre regiões que sofrem altos níveis de desmatamente com o IDH da região, que continuou baixo. "O desmatamento oferece enriquecimento, mas não inclusão social",considera.

O diretor do Ipam destaca que o atual modelo de desenvolvimento considera perspectivas de aumento de preço de commodities agrícolas – matérias-primas como soja, carne, açúcar etc. – para os próximos anos. Por isso, a não ser que uma alternativa a esse modelo seja construída, com uso de áreas abandonadas ou aproveitamento de espaços de baixa produtividade, o desmatamento tenderá a ser muito grande.

"A Amazônia será a Mata Atlântica de amanhã caso esse modelo de desenvolvimento não seja revisto", alertou o Young. A referência é ao bioma presente na maior parte da faixa litorânea do país, do Nordeste ao Sul do país, considerado como um dos mais ameaçados do Brasil, pois 93% da mata original não existe mais.

Segundo Moutinho, basear-se na economia de baixo carbono, que representam os meios de produção que produzem reduzidas taxas de gases do efeito estufa – como metano, dióxido de carbônico, entre outros – é uma das medidas que devem ser tomadas para atingir um novo modelo de desenvolvimento.

A adoção de pecuária intensiva seria um exemplo, porque permitiria melhor aproveitamento das áreas já empregadas atualmente, com uso sustentável do solo e sem necessidade de queimadas e novos desmatamentos (fonte de emissões de CO2). Além disso, uma alimentação mais adequada do gado poderia contribuir para reduzir a emissão de metano.

Floresta em pé

Moutinho defende a adoção do conceito de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD) para favorecer a preservação ambiental e a construção dessas alternativas de modelo de desenvolvimento. O mecanismo, em discussão nas conferências das partes (COP) da Organização das Nações Unidas (ONU) para questões climáticas, prevê a possibilidade de remuneração pela manutenção de áreas florestais. A ideia estabeleceria que, a partir das emissões de carbono evitadas pela preservação, os responsáveis pela conservação da mata sejam compensados financeiramente.

O diretor do Ipam considera que, se o Brasil quiser cumprir metas de diminuição do desmatamento, terá de investir na manutenção de ocupação nativa especialmente da região amazônica, e não simplesmente isolar a área.

Ele faz uma crítica aos programas de infraestruturas dos governos nos ultimos anos que promovem desmatamento, o que inclui obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que, segundo ele, não têm salvaguardas ambientais necessárias. Ele cita como exemplo a abertura à possibilidade de desmatamento para a construção de rodovias, como a Cuiabá-Santarém, que liga a capital do Mato Grosso à segunda principal cidade paraense.

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