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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Produtores brasileiros combinam agropecuária com preservação ambiental

Produzir alimentos em grande escala e ao mesmo tempo preservar ou recuperar parte da

vegetação nativa destruída há anos pelo avanço da fronteira agrícola é o objetivo de alguns

produtores rurais brasileiros decididos a reduzir a zero seus passivos ambientais.

Um desses modelos de gestão pode ser observado em Sorriso, um próspero município de 66,5 mil habitantes fundado há apenas 25 anos no centro do estado do Mato Grosso por descendentes de italianos e alemães vindos do sul do Brasil e onde alguns combinam a excelência agropecuária com o respeito ao meio ambiente.

"Considero que a maior riqueza que o Brasil tem é a água e, como há anos houve muita devastação da natureza, em 1998 comecei o trabalho de reflorestamento das cabeceiras de rios e hoje temos um passivo ambiental zero", disse à Agência Efe Darcy Getulio Ferrarin, proprietário da fazenda Santa Maria da Amazônia.

Na fazenda, de 13.289 hectares nas vastas planícies do Mato Grosso, 7.950 hectares são dedicados à agricultura (soja, algodão, milho e feijão, principalmente) e à pecuária, e nos 5.340 restantes foi preservada a vegetação da formação vegetal predominante na região.

Essa política de "agropecuária responsável", como Ferrarin a define, permite que cerca de 2,4 mil cabeças de gado engordem em pastos cercados pelas florestas que cortam a fazenda e ao mesmo tempo cumpram os requisitos de preservação de selvas nativas previstos no novo Código Florestal brasileiro.

Em Santa Maria da Amazônia nascem afluentes do rio Teles Pires, e para preservá-las Ferrarin produziu o reflorestamento das cabeceiras e construiu um viveiro de cinco hectares no qual foram plantadas cinco mil unidades de 80 espécies dos biomas do cerrado e da Amazônia, como o ipê vermelho e o amarelo, o jacarandá e a figueira.

Esse programa, denominado "Sorriso Vivo", é uma iniciativa do Clube Amigos da Terra (CAT), do qual fazem parte vários produtores rurais da região, e que também promove um projeto de educação ambiental do qual participam a Prefeitura e as escolas públicas do município.

Os estudantes vão ao viveiro para aprender sobre a importância de recursos naturais como as árvores e a água, e de técnicas como a do plantio direto, que evita o uso do arado para não causar erosão.

Para fomentar a consciência ambiental nos estudantes, o CAT, criado há nove anos, elabora também cartilhas ilustradas nas quais crianças e animais selvagens são protagonistas de aventuras na natureza e de campanhas de proteção do planeta.

Ao CAT, que promove ainda seminários de troca de experiências sobre gestão ambiental, se somaram mais de 50 produtores rurais de Sorriso, nome que segundo seus habitantes se deve ao fato de que os primeiros descendentes de italianos que chegaram à região diziam que era um imenso campo para produzir "só riso" (só arroz).

"Existe a crença de que a agropecuária só destrói a natureza, mas a realidade é que hoje todos estamos preocupados em preservar o meio ambiente", aponta Ferrarin.

No entanto, o respeito ao meio ambiente é recente entre os grandes produtores rurais de Sorriso, pois Ferrarin conta que em 1998, quando adquiriu a propriedade, a maior parte da terra apresentava erosão e o pasto para o gado avançava sobre a floresta.

A devastação em grande escala começou na década de 1960 como parte de uma política de expansão agrícola a qualquer custo fomentada pelo Governo militar da época para colonizar a região Centro-Oeste, uma das mais despovoadas do Brasil.

Ferrarin lembra que uma campanha promovida pelo Governo do general João Figueiredo (1979-1985), o último presidente militar do Brasil, praticamente induzia os colonos a destruírem a vegetação para demonstrar que estavam trabalhando a terra e assim poder ter acesso a créditos oficiais para a agropecuária.

"Plante que João garante" era o lema dessa campanha, relata Ferrarin, que assinala que devido a políticas como essa "muitos produtores destruíram as florestas" para anos depois perceber que "sem a natureza não vivemos".

http://noticias.terra.com.br

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