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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Agropecuária grante poupança ambiental de 61%, diz Kátia

A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, destacou nesta segunda-feira, em São Paulo, a importância do setor agropecuário brasileiro, responsável pela formação de uma “poupança ambiental” a partir de investimentos em tecnologia que garantem a produção de alimento em apenas 27,7% do território nacional. “Se produzíssemos as 145 milhões de toneladas de grãos de hoje com a tecnologia de 40 anos atrás, seria necessário ocupar mais 75 milhões de hectares de nossas florestas”, afirmou na abertura do II Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2011), organizado pela CNA para discutir o desafio de alimentar nove bilhões de pessoas com uma economia de baixo carbono. Ela destacou que o Brasil foi o único país do mundo que optou por abrir mão de terras férteis em prol da preservação de 61% dos seus seis biomas.

Ao lembrar que os países da Europa têm apenas 0,2% de suas florestas preservadas, a senadora Kátia Abreu acrescentou que a preservação de vastas áreas de terras é “o legado que o Brasil deixa ao mundo como prova de sua responsabilidade com o meio ambiente e compromisso com o futuro”. A presidente da CNA esclareceu, no entanto, que o exemplo brasileiro não pode servir apenas para contemplação. “Aqueles países que não fizeram seu dever de casa precisam compensar os brasileiros porque um bem coletivo não pode ter um ônus individual”, afirmou. Lembrou que essas discussões em torno das compensações por preservação ambiental não têm progredido nos fóruns internacionais, que não abordam a manutenção da floresta em pé. “Como não existem, nesses países, florestas como temos no Brasil, essas discussões não evoluem, porque essa é uma característica apenas do Brasil, que está estocando grandes quantidades de carbono quando deixa de desmatar as florestas”, completou.

Durante a abertura do FEED 2011, a senadora Kátia Abreu reafirmou que a CNA é contrária à abertura de novas áreas para a produção agropecuária na Amazônia e também contra o desmatamento criminoso, feito sem autorização dos órgãos ambientais. Acrescentou que 86% do bioma da Amazônia, região que garante as chuvas em todo o País, estão preservados, característica que precisa ser motivo de compensação. “A Amazônia tem gente e essas pessoas também querem o desenvolvimento e por isso precisam receber para que as árvores não sejam derrubadas. Uma árvore em pé precisa valer tanto quanto se estivesse deitada”, afirmou. Para a presidente da CNA, as alternativas para preservação da Amazônia e de outras regiões serão sinalizadas pelo Projeto Biomas, promovido pela CNA em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que conta com 240 pesquisadores e 350 multiplicadores para atuar nos seis biomas do País. Esses especialistas são responsáveis por estabelecer critérios científicos para o uso agropecuário sustentável de cada uma das regiões brasileiras, democratizando a pesquisa agropecuária. No caso da pecuária de corte, a senadora Kátia Abreu defendeu a adoção de tecnologias que aumentem a rentabilidade da atividade por hectare, o que depende de investimentos.

A presidente da CNA manifestou, no entanto, preocupação com a possibilidade de a crise internacional interferir, mais uma vez, nas discussões em torno das mudanças climáticas, um dos principais temas da próxima Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-17), que será realizada no final deste ano em Durban, na África do Sul. “Em função da crise internacional, ninguém quer parar de emitir CO2, porque isso significa parar algumas atividades ou investir para alterar a matriz energética. Num contexto de crise, o debate será muito difícil”, afirmou. Para o debate da Rio+20, em junho de 2012, a senadora Kátia Abreu lembrou que o destaque do Brasil é a redução de 80% dos níveis de desmatamento no País até 2020, compromisso firmado pelo governo brasileiro em 2009, meta que está perto de ser cumprida. “Nós estamos no caminho certo e deixaremos esse legado para o mundo, mostrando que o Brasil tem a maior e a melhor agricultura do planeta e a segunda maior floresta do mundo”, acrescentou. O FEED 2011 termina nesta terça-feira e tem participação de equipe da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul).

O chefe do escritório do Itamaraty em São Paulo, Afonso Emílio de Alencastro Massot, enfatizou a importância de fóruns de discussão como o FEED, lembrando que as conclusões do encontro auxiliarão o governo brasileiro nos debates nos fóruns internacionais. Também presente à cerimônia de abertura do FEED, acrescentou a importância do setor agropecuária para a economia do País e para as exportações. O presidente do JBS, Wesley Batista, destacou a eficiência do modelo de pecuária no Brasil, que é predominantemente extensivo, mas que também tem se destacado no modelo intensivo de produção, aumentando o número de confinamentos. Na sua avaliação, os dois métodos de produção têm sido feitos de forma cada vez mais sustentável nos últimos anos. “A cadeia produtiva tem trabalhado e evoluído muito. Tanto os pecuaristas quanto a indústria estão priorizando o modelo sustentável para atender às pressões do mercado internacional por produtos ambientalmente certificados, demanda que tende a ser cada vez maior”, afirmou. Apesar do desafio, o executivo assegurou que o Brasil está preparado para atender às exigências, com condições de se tornar o principal fornecedor mundial de alimentos com práticas que assegurem a sustentabilidade do setor.

Representado o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado, Mônika Bergamaschi, falou sobre as ações realizadas pelo governo estadual para contribuir com o crescimento do setor e com a redução da emissão de carbono e das práticas para preservar a qualidade do meio ambiente. Citou, como exemplo, a produção de cana-de-açúcar, atividade que é 67% mecanizada. Reforçou, também, que o Brasil tem potencial para ampliar sua produção sem prejudicar seus recursos naturais. “Podemos suprir a demanda mundial de forma sustentável”, frisou. A secretária também defendeu a atualização do Código Florestal, cuja proposta está em discussão no Senado. “O que não podemos é permanecer com essa insegurança jurídica no campo, pois uma legislação moderna é que nos dará a sustentabilidade necessária à nossa produção”, enfatizou.

O superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Renato Nobili, elogiou a iniciativa da CNA e afirmou que há consenso no setor agropecuário de aumentar a produção, preservando o meio ambiente. Segundo ele, o Brasil vive, nesse contexto, um cenário de oportunidades e não de problemas. “É um desafio para o setor, mas estamos preparados para ter uma produção sustentável”, afirmou. Lembrou, ainda, que já há muitas experiências bem sucedidas em termos de sustentabilidade e citou dados que mostram que 95% das embalagens de agroquímicos são recicladas. Também participaram da solenidade de abertura o presidente do Conselho Deliberativo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Roberto Simões, o vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio/SP), Manuel Henrique de Farias Ramos, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), João Guilherme Olmetto, e o vice-presidente diretor e presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA, Assuero Doca Veronez.

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