quarta-feira, 29 de maio de 2013
Vacina contra dengue pode chegar ao mercado em 2015
Há uma boa e uma má notícia sobre a dengue. Primeiro a má: o número de casos de contaminação no Brasil é preocupante. No ritmo atual, o ano de 2013 deve superar 2010, considerado o pior da história em notificações. Agora a boa notícia: a vacina contra a doença pode chegar ao mercado em 2015.
De 1º de janeiro até 20 de abril, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti atingiu 799.661 pessoas no Brasil. O pico da transmissão da dengue ocorreu na primeira semana de março, quando foram registrados 84.122 casos da doença. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dengue afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas a cada ano, em mais de 100 países. Por enquanto, não existem medicamentos disponíveis para prevenir ou tratar a doença. O que se faz hoje é reprimir a proliferação do mosquito e, em caso de contaminação, tratar os sintomas.
Mas o aumento considerável no número de casos demonstra que isso não é o suficiente. “Apesar dos esforços atuais de controle da dengue, com base principalmente no controle do vetor e manejo de casos, a carga e os custos da doença continuam a ser consideráveis. O controle do vetor vai continuar a ser uma parte importante do controle da dengue, mas é claro que uma vacina também é necessária”, explica Ciro de Quadros, vice-presidente executivo do Instituto de Vacinas Albert Sabin, em Washington, DC.
Desafio – Embora existam muitas fórmulas candidatas, em vários estágios de desenvolvimento, a complexidade da infecção pelo vírus da dengue tem sido um desafio para as pesquisas da vacina. Um dos entraves é conseguir uma vacina que forneça proteção contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (1 a 4).
Além disso, outra dificuldade encontrada é a falta de conhecimento de como a doença se comporta e da maneira que o vírus interage com o organismo humano. “Há também uma falta de modelos animais de laboratório disponíveis para testar as respostas imunitárias às vacinas potenciais, bem como resolver questões sobre os imuno-correlatos de proteção”, acrescenta Quadros.
Promessa de vacina – Dentre todas as soluções em desenvolvimento atualmente, a vacina criada pelo grupo farmacêutico Sanofi Pasteur, divisão de vacinas da Sanofi, da França, parece ser uma das mais promissoras, do ponto de vista clínico e industrial. O grupo trabalha há mais de 20 anos no desenvolvimento de uma vacina tetravalente contra a dengue. Em 2015, o resultado desse trabalho pode chegar ao mercado.
O laboratório publicou, em setembro do ano passado, os resultados do primeiro estudo de eficácia realizado no mundo. Esse estudo clínico envolveu 4.002 crianças entre 4 e 11 anos de idade, na Tailândia, em parceria com a Universidade Mahidol e o Ministério da Saúde da Tailândia, no distrito de Muang, na província de Ratchaburi.
Apesar de bem-sucedido, o estudo indicou que ainda há desafios a serem superados. “Os resultados demonstraram que a vacina candidata da Sanofi Pasteur contra a dengue é capaz de oferecer proteção contra três tipos de vírus da dengue (vírus tipo 1, vírus tipo 3 e vírus tipo 4). Não foi confirmada proteção contra o vírus tipo 2 no contexto epidemiológico específico da Tailândia”, argumenta Pedro Garbes, diretor regional de Desenvolvimento Clínico na América Latina da Sanofi Pasteur.
A vacina candidata da Sanofi Pasteur já foi avaliada em estudos clínicos (Fase I, II) em adultos e crianças nos EUA, na Ásia e na América Latina. No momento, está em andamento na Ásia e na América Latina, com mais de 31 mil voluntários, a terceira e última fase de testes, chamada de Estudos de Fase III, a última etapa do desenvolvimento clínico de uma vacina. “Esses estudos serão importantes para evidenciar a eficácia da vacina candidata contra a dengue em uma população mais ampla e em diferentes ambientes epidemiológicos”, ressalta Garbes.
O Brasil está incluído nessa etapa do estudo. Cinco capitais brasileiras – Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Natal e Vitória – estão participando dos testes, que começaram no país em agosto de 2011 e envolvem cerca de 3,5 mil participantes, entre crianças e adolescentes de 9 a 16 anos. Os resultados da Fase III estão previstos para o final de 2014. “Esperamos ter as condições necessárias para antecipar um primeiro lançamento em 2015, contudo a Sanofi Pasteur não pode prever quais serão os países que irão lançá-la primeiro, pois a decisão será tomada pela autoridade regulatória de cada país”, justifica o diretor regional da Sanofi Pasteur.
A vacina do laboratório Sanofi Pasteur usa o vírus vivo da dengue atenuado, preparando o sistema imunológico, sem causar a doença. “A atenuação é obtida pelo uso da tecnologia do DNA recombinante. As propriedades imunogênicas de cada um dos quatro sorotipos da dengue são combinadas com o perfil atenuado bem caracterizado da cepa da vacina YF-17D (usada para a vacina contra a febre amarela)”, explica Garbes. A vacina é aplicada em 3 doses, com intervalo de seis meses entre elas. “A vacina é bem tolerada, com perfil de segurança semelhante depois de cada uma das doses”, ressalta Garbes.
Outros estudos – Além da Safoni Pasteur, outras instituições estão trabalhando na busca de uma vacina contra a dengue. Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), dos EUA, desenvolveram uma vacina viva atenuada que foi licenciada a quatro fabricantes de países em desenvolvimento. De acordo com Quadros, o mais avançado desses licenciados é o Instituto Butantan, em São Paulo, cuja vacina está entrando em Fase II de ensaios clínicos.
Conforme informações de sua assessoria de imprensa, o Instituto Butantan aguarda atualmente aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos em humanos. Mesmo que essa fase comece logo, o processo é longo, e não há estimativa de quando a vacina estará disponível à população.
O Instituto Butantan aguarda aprovação da Anvisa para iniciar os ensaios clínicos em humanos
Enquanto isso, a empresa Inviragen conta com uma vacina viva atenuada, que recentemente entrou em Fase II dos ensaios clínicos em Porto Rico, Colômbia, Cingapura e Tailândia. Já a Merck está trabalhando em uma vacina de subunidade, que está em fase I de ensaios, e a GlaxoSmithKline tem a vacina inativada purificada, originalmente desenvolvida pelo Walter Reed Army Institute of Research dos EUA, em estudos pré-clínicos.
Com a formulação de uma vacina eficaz cada vez mais próxima, é hora de preparar os países para sua adoção. Trata-se de uma das funções da Iniciativa para a Vacina contra a Dengue (Dengue Vaccine Initiative – DVI), que inclui a Organização Mundial da Saúde, a Universidade de Johns Hopkins e o Instituto Internacional de Vacinas. “A DVI visa a estabelecer as bases para a introdução da vacina da dengue em áreas endêmicas, de modo que, uma vez licenciada, a vacina será rapidamente adotada”, explica Quadros, do Instituto Sabin, que faz parte da DVI. (Fonte: Terra)
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