quarta-feira, 1 de maio de 2013
Herbicida usado na soja e cana é cancerígeno
Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificou o modo de ação do diuron, um herbicida amplamente utilizado nas culturas de soja e cana-de-açúcar, que provocou câncer na bexiga.
O estudo foi realizado em animais de laboratório.
"Mostramos que, quando eliminados pela urina, o diuron ou seus metabolitos provocam necrose em múltiplos focos do urotélio, o revestimento da bexiga. Em resposta, esse revestimento prolifera para substituir as áreas lesadas. A proliferação celular contínua, se mantida durante muito tempo, acaba levando a erros nas sucessivas cópias do DNA, alguns deles predispondo ao desenvolvimento de tumores", disse o médico João Lauro Viana de Camargo, coordenador do estudo.
Segundo o pesquisador, esse modo de ação evidencia que o diuron atua de forma não genotóxica, isto é, não provoca, de início ou diretamente, lesão de DNA. Tal lesão tende a ocorrer em momentos posteriores, se a exposição for mantida por tempo longo.
O potencial cancerígeno desse herbicida para a espécie humana já havia sido alertado pela agência de proteção ambiental do governo dos Estados Unidos (EPA - Environmental Protection Agency).
O estudo brasileiro - que contou com a participação de pesquisadores da própria EPA e da Universidade de Nebraska - confirmou o potencial cancerígeno do diuron para os ratos e mostrou que tal condição pode ocorrer mesmo com doses cinco vezes menores do que aquelas antes consideradas nocivas.
"As alterações provocadas pelo diuron na bexiga do rato ocorrem segundo uma relação dose-resposta, isto é, quanto maior a dose, mais alterações moleculares, ultraestruturais e histológicas acontecem", explicou Camargo. "Nesta linha, identificamos a chamada 'dose limiar' - uma quantidade abaixo da qual o herbicida não é cancerígeno, mesmo se o animal for exposto a ele por tempo prolongado."
De acordo com o pesquisador, a toxicidade do produto manifesta-se bem cedo, já no primeiro dia de exposição a altas doses. "Avaliada por sua expressão gênica, a resposta do urotélio é aparentemente adaptativa, sugerindo que, se a exposição for interrompida, a bexiga voltará ao normal. O problema existirá se as doses forem altas e a exposição mantida por longo tempo", afirmou.
As descobertas constituem um alerta importante para autoridades sanitárias e também para os consumidores. Pois, embora de forma ainda incipiente, a preocupação em consumir alimentos livres de resíduos químicos vem aumentando no Brasil.
Segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, o mercado de produtos orgânicos cresce de 15% a 20% ao ano no país, abastecido por cerca de 90 mil produtores, dos quais aproximadamente 85% são agricultores familiares. Agência Fapesp
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