quarta-feira, 15 de maio de 2013
Aplicativos de smartphone burlam lei e exibem propagandas de cigarro
Cigarro – todos nós sabemos seus males, e, se temos mais de 18 anos, podemos decidir conscientemente se queremos ou não nos submeter a eles.
No entanto, haja quanta discussão houver, a lei decidiu que crianças e adolescentes não estão preparados para tomar essa decisão, e que a propaganda deste produto deve ser restrita – e os números mostram que é por uma boa razão.Pesquisas apontam que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 21 anos. Além disso, nos últimos quinze anos, a idade em que meninas e meninos começam a fumar está cada vez mais baixa. Obviamente atenta a essa tendência, a indústria do tabaco dirige sua publicidade para crianças e adolescentes.
No Brasil, a propaganda do cigarro é proibida a não ser pela exposição dos produtos nos locais de vendas, desde que acompanhada das cláusulas de advertência. A lei impõe outras condições, mas, no geral, impede o estímulo ao consumo do cigarro e cita que a propaganda não pode associar ideias ou imagens de maior êxito na sexualidade das pessoas, insinuando o aumento de virilidade ou feminilidade de pessoas fumantes.Será que isso é exagero?
Um exemplo marcante das consequências da propaganda comercial do tabaco remete aos comerciais de uma marca de cigarro estrelados por um camelo simpático de óculos escuros em cima de uma moto, criado pela R. J. Reinolds, exibidos nos EUA em 1988.
Três anos depois de lançada a campanha, diversos estudos mostraram que as crianças e adolescentes eram capazes de reconhecer o personagem e associá-lo à marca de cigarro. Um desses estudos mostrou que o camelo era tão conhecido pelas crianças de seis anos quanto o Mickey.
Levantamentos concluíram que o número de adolescentes compradores da marca do camelo aumentou de 0,5% para 32%. No mesmo período, as vendas da marca subiram de US$ 6 milhões para US$ 476 milhões (cerca de R$ 12,3 a 980,9 mi).
Resumindo: fumantes começam a fumar na infância e na adolescência, e uma boa parte o faz por conta de propagandas.
Mas estamos seguros, porque elas são proibidas, certo? Não. A lei tem um grande inimigo: a internet. Um estudo de 2012 feito pela Universidade de Sydney (Austrália) e publicado na revista Tobacco Control mostrou que a indústria do tabaco está usando aplicativos de smarphone – um meio que tem alcance global, inclusive e principalmente a crianças e adolescentes – para promover seus produtos.
Aplicativos fumáveis
A disponibilidade de conteúdo pró-fumo em aplicativos parece estar violando o artigo 13 da Convenção de Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), que proíbe a publicidade e promoção de produtos de tabaco em todos os meios de comunicação.
Em fevereiro de 2012, os cientistas pesquisaram a disponibilidade de aplicativos “pró-fumo” nas duas das maiores lojas de aplicativos para smartphones (Apple e Android Market) existentes, usando palavras-chaves “fumaça”, “cigarro”, “charuto”, “fumar” e “tabaco”.
Aplicativos que explicitamente forneceram informações sobre marcas de tabaco, onde comprar produtos, imagens de marcas de ou cigarros e quaisquer sugestões para fumantes foram definidos como “pró-fumo”.
Os pesquisadores encontraram 107 aplicativos pró-fumo. Alguns continham imagens explícitas de marcas de cigarros, outros imagens que se pareciam com marcas existentes. Alguns ainda permitiam ao usuário simular o fumo. Ao todo, 48 foram classificados como “simulação de fumo”; 42 como “loja/marcas”; 9 como “aplicativos de bateria de cigarro”, pois mostravam um cigarro aceso para demonstrar a quantidade de bateria disponível; 6 como “papel de parede de fundo”; 1 como “defesa do fumo” e 1 como “fornecimento de informações”.
42 dos aplicativos estavam no Android Market e tinham sido baixados por 6 milhões de pessoas. Os aplicativos mais populares foram os de simulação de fumo da Android.
Os pesquisadores reconhecem que alguns dos aplicativos de simulação reivindicam ajudar a cessação do tabagismo (a simulação serve para substituir o fumo), apesar de não haver evidências que mostram que esta abordagem funciona. De qualquer maneira, eles foram incluídos na contagem porque se assemelhavam a marcas de cigarros ou porque foram publicados sob os títulos de “entretenimento”, “jogos”, ou “estilo de vida”.
Porque isso é um problema
Em 2011, o número de assinantes de telefonia móvel atingiu pouco menos de 6 bilhões – 2,5 vezes mais do que o número total de assinantes de internet -, e smartphones representam cerca de um em cada três aparelhos no mundo desenvolvido.
Os jovens são particularmente vulneráveis a essas propagandas, por causa da popularidade dos smartphones entre esta faixa etária, bem como o apelo dos aplicativos.
O órgão regulador de telecomunicações do Reino Unido, Ofcom, descobriu em 2011 que quase metade dos adolescentes pesquisados possuía um smartphone. Uma análise feita pela Nielsen Company mostrou que no segundo trimestre de 2010, adolescentes americanos assinantes de telefonia móvel aumentaram sua frequência de download de aplicativos de 26% para 38%, em comparação ao ano anterior.
“Conteúdo pró-fumo, incluindo imagens de marca de cigarro explícitas, é promovido em aplicativos de smartphones, que estão alcançando milhões de usuários, incluindo adolescentes e crianças. Lojas de aplicativos precisam explorar maneiras de regular esse conteúdo”, concluem os pesquisadores.
Segundo eles, as lojas de aplicativos têm uma moral (e provavelmente) uma responsabilidade legal de garantir que tenham a infraestrutura para cumprir com a medida da OMS e outras leis que restringem a publicidade de tabaco a menores de idade.[MedicalXpress, TC, Planalto, DrauzioVarella]
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