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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Falta de lixo em Oslo, Noruega, pode comprometer geração de eletricidade

Oslo é uma cidade que importa lixo: uma parte vem da Inglaterra e a outra da Irlanda. Ela também recebe lixo da vizinha Suécia e tem até planos de aproveitar o mercado dos Estados Unidos. “Eu gostaria de trazer um pouco de lixo americano”, afirmou Pal Mikkelsen em seu escritório em uma usina gigante na periferia da cidade, onde o lixo é transformado em calor e eletricidade. “O transporte marítimo é barato.” Oslo cuida da natureza: metade da cidade e quase todas as escolas são aquecidas pela queima de lixo – lixo doméstico, industrial e até mesmo lixo hospitalar e tóxico, vindo da apreensão de drogas. Contudo, a cidade enfrenta um problema: Oslo não tem mais lixo para queimar. O problema não acontece só em Oslo, uma cidade de 1,4 milhão de habitantes. Em todo o norte da Europa, onde a prática de queimar lixo para gerar calor e eletricidade cresceu drasticamente nas últimas décadas, a demanda por lixo é muito superior à oferta. “O norte da Europa possui grande capacidade de gerar energia”, afirmou Mikkelsen, um engenheiro mecânico de 50 anos que atua como gestor da agência de geração de energia a partir do lixo em Oslo. Embora a população exigente do norte da Europa produza apenas 150 milhões de toneladas de lixo por ano, isso é muito pouco para as usinas de incineração, que são capazes de processar mais de 700 milhões de toneladas. “Além disso, os suecos constroem mais usinas”, afirmou com olhar exasperado, “assim como a Áustria e a Alemanha”. Estocolmo se tornou uma concorrente tão grande que chegou a convencer algumas cidades norueguesas a enviar seu lixo ao país vizinho. De navio ou caminhão, incontáveis toneladas de lixo saem de regiões que produzem resíduos demais para outras que têm capacidade de incinerá-lo e produzir energia. “Existe um mercado europeu para o lixo – os resíduos viraram commodity”, afirmou Hege Rooth Olbergsveen, conselheira sênior do programa de recuperação de lixo de Oslo. “É um mercado que só cresce.” Lixo exportado: uma boa ideia? – A maior parte das pessoas aprova a ideia. “Sim, com certeza”, afirmou Terje Worren, de 36 anos, um consultor de software que admitiu aquecer a casa com óleo e a água com eletricidade. “Essa é uma ótima maneira de reaproveitar o lixo.” Os ingleses também gostam da ideia, embora não costumem transformar o lixo em energia. A empresa de Yorkshire que faz a coleta de lixo em cidades como Leeds, no norte de Inglaterra, agora exporta até mil toneladas de lixo por mês – ou “combustível derivado de resíduos”, como o lixo é chamado após a seleção daquilo que não pode ser incinerado – para países no norte da Europa, incluindo a Noruega, de acordo com Donna Cox, porta-voz da prefeitura de Leeds. O imposto sobre os aterros sanitários que é cobrado pelo governo inglês torna mais barata a exportação para lugares como Oslo. “Isso nos ajuda a reduzir os gastos cada vez maiores com o imposto”, escreveu Cox em um e-mail. Para algumas pessoas, parece estranho que Oslo importe lixo para produzir energia, levando-se em consideração que a Noruega está entre os dez maiores exportadores de petróleo e gás natural do mundo e tem reservas abundantes de carvão mineral, além de uma rede com mais de mil usinas hidrelétricas nas montanhas do país. Ainda assim, Mikkelsen afirmou que a queima de resíduos era “uma medida renovável para reduzir o consumo de combustíveis fósseis”. Naturalmente, outras regiões da Europa produzem grandes quantidades de lixo, incluindo o sul da Itália, onde cidades como Nápoles pagaram o governo da Alemanha e da Holanda para aceitar o lixo da cidade, ajudando a reduzir a crise do lixo. Embora Oslo tenha levado em consideração o lixo da Itália, a cidade preferiu continuar com o lixo inglês, que era mais limpo e seguro. “É uma questão complicada”, afirmou Mikkelsen. Reciclagem – Lixo pode ser apenas lixo em algumas partes do mundo, mas em Oslo é algo muito tecnológico. As famílias separam tudo, colocando lixo orgânico em sacolas verdes, plásticos em sacolas azuis e vidros em outras. As sacolas são entregues gratuitamente em supermercados e outras lojas. A maior das duas usinas de incineração de lixo de Mikkelsen utiliza sensores computadorizados para separar as sacolas de acordo com a cor, levando-as aos fornos por meio de esteiras. A arquitetura da usina, com seu exterior curvado e luzes que podem ser vistas de longe pelos motoristas que passam, compete com a da belíssima Ópera de Oslo. Ainda assim, nem todo mundo se sente confortável com essa dependência do lixo. “Do ponto de vista ambiental, o problema é enorme”, afirmou Lars Haltbrekken, diretor do grupo ambientalista mais antigo da Noruega, afiliado aos Amigos da Terra. “Isso eleva a pressão por uma produção de dejetos cada vez maior, enquanto houver esse excesso de capacidade produtiva.” Segundo Haltbrekken, a redução da produção de lixo vem em primeiro lugar na hierarquia dos objetivos ambientais, ao passo que a geração de energia a partir do lixo deveria estar em último. “O problema é que nossa menor prioridade entra em conflito com a maior”, afirmou. “Por isso, agora importamos lixo de Leeds e de outros lugares e temos discussões com Nápoles”, acrescentou. “Dissemos: ‘Tudo bem, estamos ajudando os napolitanos’, mas isso não é estratégia de longo prazo.” Talvez não, afirmam urbanistas, mas, por enquanto, isso é uma necessidade. “A reciclagem e a recuperação de energia precisam caminhar lado a lado”, afirmou Rooth Olbergsveen, da agência de recuperação de lixo da cidade. A reciclagem fez grandes progressos, afirmou, e a separação de lixo orgânico, como restos de alimentos, começou a permitir a produção do biogás em Oslo, que está servido de combustível para os ônibus da cidade. Haltbrekken reconheceu que não se beneficia da energia gerada pelo lixo. Sua casa fica perto do centro da cidade e foi construída em 1890; por isso, seu aquecimento ambiente é feito por meio da queima de madeira e o da água, por meio de eletricidade. Em geral, afirmou, os Amigos da Terra apoiam os objetivos ambientais da cidade. Ainda assim, ele acrescentou que “em curto prazo, é melhor queimar o lixo em Oslo do que deixá-lo em Leeds ou Bristol”. Mas, no longo prazo, “não pode continuar assim”, afirmou. (Fonte: G1)

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