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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Conhecer, proteger e integrar

Necessidade de criação de novas estratégias para o melhor conhecimento e proteção dos bens florestais comuns entre os países amazônicos é destaque na abertura do Simpósio Internacional O futuro da Amazônia.


A diversidade da Amazônia não pode mais ser vista apenas do ponto de vista biológico. Como o conjunto de diversidades da região é extremamente grande, seus desafios não devem mais ser tratados somente do ponto de vista regional e passam, portanto, a pertencer a todos os países que a compõem: Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Guianas, Suriname e Venezuela.

Nesse contexto de responsabilidade coletiva, um dos primeiros desafios da região, do ponto de vista legal, envolve a interação entre esses países visando a criação de novas estratégias para o melhor conhecimento e proteção dos bens florestais comuns. Se no passado recente a figura jurídica predominante na região era "possui de direito quem possui de fato", hoje "possui de direito quem conhece de fato". E entender a Amazônia depende, mais do que em qualquer outro momento da história, da troca de informações científicas entre as nações.

Essas questões, relacionadas à cooperação em ciência e tecnologia entre os países amazônicos, foram discutidas na manhã desta segunda-feira (25/10), no Hotel Tropical, em Manaus, na abertura do Simpósio Internacional O Futuro da Amazônia, realizado pela SBPC e pela Associação Interciencia. O evento, promovido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ocorre até esta terça-feira, 26 de outubro, e reúne representantes de entidades científicas associadas à Interciencia de 18 países.

O evento foi aberto por Adalberto Luis Val, diretor do Inpa, que trouxe uma série de dados sobre a biodiversidade da fauna e flora da Amazônia levantados nos últimos anos pelo instituto, que conta atualmente com mais de dois milhões de insetos coletados e depositados em sua coleção. "A capacidade de produção científica sobre a Amazônia precisa ser expandida no Brasil e ser acompanhada pelos países vizinhos. Hoje, nenhum país amazônico é robusto o suficiente para dar conta, isoladamente, das demandas mundiais para o conhecimento da região", apontou.

A comunidade científica que se debruça sobre a região não pode mais, segundo ele, ser "simplificadora" e até "reducionista" por conta de, ao longo dos últimos anos, muitos pesquisadores terem enxergado a Amazônia apenas como um lugar que possui uma quantidade incalculável de espécies animais e vegetais. "Por trás dessa enorme biodiversidade, temos questões muito mais sérias e abrangentes quando pensamos, por exemplo, nos quase 25 milhões de habitantes do lado brasileiro da floresta que ainda contribuem apenas com 10% do PIB brasileiro. O desafio não é só conhecer e proteger a Amazônia, mas integrá-la em uma agenda nacional e continental de interesses comuns", apontou.

Um dos painéis do simpósio, intitulado Bens e serviços ambientais, contou com apresentações de Charles Roland Clement, pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas do Inpa, que entre outras coisas falou sobre a cadeia produtiva dos frutos da Amazônia; e de Luiz Hildebrando Pereira da Silva, pesquisador do Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais de Rondônia (Ipepatro), que abordou as relações entre saúde, meio ambiente e o sistema produtivo da Amazônia.

A palestra mostrou que, se a biodiversidade da Amazônia for utilizada com base em conhecimentos científicos, essa exploração não vai gerar impactos de degradação ao meio ambiente como ocorre, segundo Luiz Hildebrando, com a criação extensiva de gado. "Temos uma ampla biodiversidade vegetal, microbiana e de fungos no Brasil que pode ser usada, por diferentes meios, de maneira sustentável e gerar riqueza aos trabalhadores", disse.

Para ele, os processos produtivos das populações que ocupam atualmente a região amazônica precisam ser revistos e reformulados, uma vez que a criação extensiva de gado bovino, por exemplo, "não cria empregos, não distribui renda e tem baixo rendimento em termos de valor agregado".

"Esses processos devem ser normatizados de maneira mais racional pois influenciam diretamente a saúde da população e sua capacidade de sobrevida. Como as técnicas de manejo devem proteger tanto o meio ambiente como a população, uma das alternativas é a exploração da biodiversidade com a introdução de altas tecnologias aplicadas aos produtos naturais, como ocorre na área de fármacos e cosméticos", afirmou.

SBPC/EcoAgência

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