Conselho Português para os Refugiados dedica congresso aos deslocados pelas alterações climáticas. É hoje, na Gulbenkian.
O clima está a mudar: cheias, vagas de calor, secas, subidas do nível do mar. E obriga as pessoas a deixarem as suas casas, na maioria em África e na mais extrema pobreza. A ONU calcula que existirão 200 milhões de "refugiados ambientais" até 2050. Portugal é um país de acolhimento e não está livre das secas.
O Conselho Português para os Refugiados (CPR) dedica o IX Congresso hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, ao debate do impacto das mudanças do clima nas populações. No encontro "Refugiados e deslocados ambientais: o lado humano das alterações climáticas" participam ambientalistas, cientistas, peritos nas ciências sociais e organizações não governamentais de direitos humanos.
Mas, se a ONU fala em 200 milhões de "refugiados ambientais" até 2050, a verdade é que ainda se discute este conceito. "O conceito surgiu, sobretudo, numa discussão política. O termo refugiado está associado a perseguições políticas e aos conflitos armados. Discute-se se não deverá ser alargado aos problemas decorrentes das alterações climáticas", começa por explicar o sociólogo Francisco Costa. "Outra questão é saber se podemos falar em refugiados ambientais nas deslocações internas ou se apenas devemos usar essa designação nos fluxos internacionais", interroga. E, no seu entender, não se pode utilizar a palavra quando se trata de migrações internas.
A discussão em torno dos refugiados ambientais é, também, uma forma de alertar as pessoas para os impactos das alterações climáticas no futuro das populações. E há territórios que vão deixar de existir se o aquecimento global não for travado.
"Há certas regiões particularmente vulneráveis e há pessoas que estão a deslocar-se das suas casas, nomeadamente nas ilhas do Pacífico. São muito baixas e correm o risco de ficarem submersas com a subida do nível do mar. O fenómeno também provoca deslocações no Bangladesh e no delta do Nilo", diz Filipe Duarte Santos, investigador na área do ambiente e das alterações climáticas, um dos intervenientes no congresso.
O cientista sublinha que sempre existiram fenómenos climáticos, nomeadamente inundações; o que começa a ser mais frequente são os fenómenos climáticos extremos. Ondas de calor, como aconteceu este Verão na Rússia, ou inundações, como recentemente na Tailândia.
E só há duas formas de responder às alterações climáticas, diz Filipe Duarte Santos, a mitigação - redução das emissões de gás e do efeito de estufa; ou a adaptação a um clima que está a mudar, nomeadamente, para garantir condições de sobrevivência às populações mais vulneráveis.
Cátia Silva, da Amnistia Internacional Portugal, participará no painel "Desenvolvimento de estratégias de mitigação das alterações climáticas" para falar na perspectiva do apoio que pode ser dado às populações.
"Estes problemas ocorrem nos países menos desenvolvidos e com pessoas que já vivem numa situação de pobreza, agravando a situação. E, muitas vezes, as associações humanitárias não conseguem chegar a essas pessoas, a não ser as catástrofes mediatizadas como a do Haiti", explica Cátia Silva. "É importante questionar o que provoca essas alterações e o que é responsável pelo facto de as pessoas viverem nessa situação", argumenta.
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1711685
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