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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mesmo verde na seca, Amazônia sofre com mudança de clima

Pesquisadores do Brasil e dos EUA acabam de confirmar que a Amazônia ficou mais verde durante a seca recorde de 2005. Mas isso não quer dizer que a floresta seja mais resistente às estiagens do que se imaginava: mesmo com o esverdeamento, a morte generalizada de árvores pode ocorrer.

O novo estudo, publicado nesta segunda-feira (2) no periódico “PNAS”, tenta resolver uma aparente contradição: pesquisas anteriores que avaliaram como a maior floresta tropical do mundo suportaria as secas mais frequentes – resultado previsto das mudanças climáticas – tinham conclusões opostas.

Em 2007, uma análise de imagens de satélite publicada na revista “Science” por um grupo americano mostrou, para espanto geral, que a Amazônia ficara mais verde após a seca. A explicação dos cientistas foi que a estiagem aumentava a quantidade de luz solar disponível para a fotossíntese. Isso seria uma boa notícia: a floresta, afinal, teria mecanismos para se proteger do aquecimento global.

No ano passado, outro grupo americano afirmou que, ao contrário, a floresta deixara de sequestrar 1 bilhão de toneladas de carbono por causa da mortandade de árvores induzida pelo desastre natural de 2005. Esse estudo batia com previsões de que o aquecimento global induziria um colapso da Amazônia, com a consequente emissão de grandes quantidades de CO2 para a atmosfera.

Tira teima - No novo estudo, o biólogo Paulo Brando, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e da Universidade da Flórida, analisou imagens de satélite e dados meteorológicos de 280 pontos em toda a Amazônia para tirar a teima.

Ele e seus colegas descobriram que, sim, o esverdeamento aconteceu. Mas, não, o aumento na quantidade de radiação solar provavelmente não tinha nada a ver com isso.

Segundo Brando, o que explica melhor o esverdeamento amazônico é a produção de folhas novas pelas árvores, curiosamente induzida pela seca. “Ela causou uma sincronização do aparecimento de folhas novas”, disse o pesquisador à Folha.

Por outro lado, medições feitas no campo do carbono efetivamente sequestrado pelas plantas (ou seja, o que elas fixam pela fotossíntese menos o que perdem pela respiração) mostraram de fato uma queda, devido ao aumento na mortalidade de árvores e na taxa de respiração devido às temperaturas mais altas.

“Você pode ter vários mecanismos operando ao mesmo tempo”, afirmou Brando. “Nossa contribuição é mostrar que não se pode tirar nenhuma conclusão forte sobre a Amazônia usando só imagens de satélite.”

(Fonte: Claudio Angelo/ Folha.com)

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