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sábado, 28 de agosto de 2010

Mudança climática surpreende e assusta

Tegucigalpa, Honduras, 25/8/2010 – O inverno apenas começa e os efeitos da mudança climática novamente se fazem sentir em Honduras, com os primeiros aguaceiros que provocam inundações, afundamentos e deslizamentos de terra em áreas antes consideradas improváveis, sendo a capital do país a mais afetada. Chuvas intensas de meia hora, que recordam a passagem do devastador Furacão Mitch, há 12 anos, foram suficientes para expor a fragilidade hondurenha, deixando pelo menos oito mortos, centenas de desabrigados e registros de danos na costa norte e também no centro, sul e leste do país.

Na capital, as chuvas curtas e intensas, associadas à tempestade tropical Frank, causaram o afundamento de um trecho da principal via que liga Tegucigalpa à estrada que leva ao norte do país. O surgimento do buraco, com mais de sete metros, forçou a criação de corredores alternativos de trânsito, causando engarrafamentos maiores do que os normalmente registrados. Contudo, os deslizamentos em áreas consideradas seguras, de classes média e alta, estão sendo a surpresa.

“Parece que a cidade está caindo aos pedaços e que hoje tudo está vulnerável. Os deslizamentos já não são privilégio dos bairros pobres e da periferia, também atingem o resto da sociedade da capital e estamos surpresos com tanta fragilidade e vulnerabilidade”, disse à IPS o prefeito de Tegucigalpa, Ricardo Álvarez. Há duas semanas, as autoridades locais preparam abrigos temporários e visitam os locais de desastres de onde são evacuadas as famílias em risco.

Na exclusiva colônia Lomas Del Guijarro, onde moram pessoas ricas e famosas, um muro perimetral ruiu e soterrou pelo menos uma dúzia de veículos, diante da angústia e surpresa dos ricos inquilinos, que foram alertados pelas autoridades municipais sobre a necessidade de se retirarem, por haver a possibilidade de novos deslizamentos.

Dino Rietti, presidente do Colégio de Arquitetos de Honduras, disse à IPS que a situação é preocupante porque “respondemos a uma mitigação temporária ou momentânea, mas ainda não encontramos soluções definitivas. Aqui é necessária muita vontade política para deixar de dar autorizações ambientais em áreas de risco”. “Tudo isto é produto do aquecimento global, são os impactos da mudança climática. Alertamos, mas ninguém quis levar o problema a sério, preferindo vê-lo como algo temporário, como fizeram até agora”, advertiu Dino.

Randolfo Fúnez, da Comissão Permanente de Contingências (Copeco), afirmou à IPS que “as chuvas de 28 minutos que caem são pequenos furacões Mitch, que aparecem a cada uma ou duas semanas, e o solo está tão impermeabilizado de água que já não aguenta mais, daí os desastres”. Isto explica o ocorrido no final de semana na cidade de Danlí, no departamento de El Paraíso, onde duas horas de chuva deixaram pelo menos 800 desabrigados, quatro mortos, mais de 40 casas destruídas e várias localidades incomunicáveis.

“Os aguaceiros e as enormes cheias destruíram represas, cortaram redes de água e entupiram tubulações secundárias em pelo menos nove bairros. Não há morador de Danlí que não tenha sido afetado”, disse o subgerente do serviço de água potável na região, Ricardo Velásquez. Durante a passagem do Furacão Mitch, a região leste foi das menos afetadas pelo fenômeno, por isso a surpresa de seus habitantes e das autoridades, que calculam perdas em torno de US$ 200 mil. A cidade tem 50 mil habitantes.

Os informes dos efeitos da mudança climática também chegam do sul do país, outra das áreas mais atingidas, depois de Tegucigalpa. Próximo da fronteira com El Salvador, na localidade de Costa de los Amates, seus moradores estão novamente incomunicáveis e as pessoas tiveram que se abrigar no telhado das casas para escapar das inundações causadas pelo transbordamento do Rio Goascorán, uma fronteira natural entre Honduras e El Salvador.

Choluteca e Valle são os departamentos da região sul que começam a registrar danos, enquanto na costa norte as embravecidas águas do Rio Ulúa começam a inundar plantações e forçam a retirada das pessoas que vivem nas margens de um dos maiores afluentes do país. Pelo menos nove dos 18 departamentos de Honduras, de quase oito milhões de habitantes, se mantêm em alerta amarelo, enquanto na capital segue o alerta vermelho, há uma semana.

Gines Suárez, geólogo especialista da Organização das Nações Unidas, recomenda um reordenamento territorial da capital e aplicação das leis que punem as obras mal construídas. “As autorizações de construção deve ser mais rígidas, e devem estar acompanhadas de um estudo de risco, por existirem ao menos três falhas geológicas detectadas e próximo delas estar uma grande concentração populacional”, afirmou.

Três meses depois que o país viveu a tempestade tropical Agatha, que obrigou as autoridades a declararem emergência nacional devido aos danos causados, novamente fica demonstrado que Honduras continua sendo uma nação com alto índice de risco climático. Por sua vez, o governo anunciou que busca recursos no valor de US$ 19 milhões para ações de mitigação.

Thelma Mejía, da IPS
Envolverde

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