Uma das previsões para a aceleração do aquecimento global diz respeito ao crescimento desenfreado dos países em desenvolvimento e ao maior acesso da sua população a veículos e eletrodomésticos, que aumentariam as emissões mundiais de gases do efeito estufa. Baseadas nessa premissa, muitas pesquisas traçam um cenário desolador para o fim deste século.
Agora, o estudo "China’s Energy and Carbon Emissions Outlook to 2050" do Lawrence Berkeley National Laboratory, na Califórnia, garante que o consumo de energia e as emissões da China devem atingir seu pico já nos próximos 20 anos, para depois se estabilizar e até diminuir.
“Consideramos essa uma grande notícia. Existia a percepção de que a prosperidade chinesa significaria um crescimento constante e permanente do consumo de energia, o que nosso estudo demonstra que não é o caso”, afirmou Mark Levine, diretor do China Energy Group do laboratório de Berkeley.
A questão de quando a China vai atingir esse pico depende das políticas públicas para incentivar as energias renováveis, uma vez que grande parte das emissões do país se deve à queima de carvão. Os chineses já ocupam o primeiro lugar do ranking das nações que mais recebem investimentos para fontes limpas, fato que justifica a previsão de que as emissões devem começar a cair depois de uma determinada data entre 2030 e 2035.
Os pesquisadores afirmam que além de atingir seu pico antes que o esperado, a China deve atingi-lo em um nível muito abaixo do que era previsto. Sendo então necessário repensar os dados sobre as mudanças climáticas para o decorrer do século.
“Os cenários climáticos costumam ignorar questões como melhorias de eficiência energética e práticas mais sustentáveis de construção. Isto é uma séria omissão que deveria ser revista por analistas e autoridades internacionais”, esclarece o estudo.
Crescimento controlado
Entre as razões para a estabilização do consumo de energia, o estudo aponta o equilíbrio da urbanização nas próximas duas décadas. O censo chinês divulgado nesta quinta-feira (28) reforça essa noção, pois já demonstra uma queda no crescimento populacional nos últimos dez anos.
“Quando praticamente todas as residências possuírem geladeira, máquina de lavar e ar condicionado, vai acontecer a estabilização do consumo de eletricidade, que passará a aumentar de uma forma bem mais lenta”, explicou Levine.
O estudo previu que levando em conta as tendências atuais do governo chinês, o pico de emissões deve se dar na faixa das 12 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
Os pesquisadores trabalharam com dois cenários, um que prevê que cada vez mais a China irá melhorar suas metas e outro que trabalha com os objetivos atuais. Em ambos os casos, o pico do consumo de energia se dá bem antes de 2050.
Entre as possibilidades assumidas pelo cenário mais “otimista”, estão:
- Uma dramática redução da porcentagem do uso do carvão na geração de energia, passando de 74% em 2005 para 30% até 2050.
- A expansão da energia nuclear de 8 gigawatts em 2005 para 86 gigawatts em 2020.
- Uma frota maior de carros elétricos, chegando a 356 milhões de veículos em 2050.
O estudo afirma que a China pode adotar um modelo mais sustentável de crescimento assim que garantir boas condições de vida para a maior parte de seus 1,34 bilhões de habitantes. A “descarbonização” da economia chinesa seria, portanto, o passo seguinte após o desenvolvimento social do país. Resta saber se o governo de Pequim pensa da mesma forma e se o gigante vai realmente deixar de ser responsável por 25% das emissões do planeta.
Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais
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