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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pesquisa com célula-tronco no Brasil segue ritmo do exterior

As pesquisas com células-tronco se mostram uma promessa na medicina regenerativa. Cientistas de diversos países apostam que inúmeras doenças, entre elas o diabetes, o mal de Parkinson e as lesões de medula possam ser tratadas pela substituição ou correção de células ou tecidos defeituosos. Para a diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH) e professora da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, o trabalho feito no Brasil “está em um ritmo comparável com o do exterior”.

“Há vários estudos sendo feitos. No Centro do Genoma a gente faz pesquisas que chamamos de pré-clínicas, ou seja, nós estamos injetando células-tronco de diferentes modelos em animais, com resultados bem interessantes”, afirma a professora.

Além de tratar doenças, a terapia celular com células-tronco pode representar um grande avanço nas técnicas de transplante de órgãos existentes atualmente. Se as pesquisas derem certo, no futuro deverá ser possível fabricar tecidos e órgãos em quantidade suficiente para todos, colocando um fim nas longas filas de transplante.

Ao contrário das demais células, as células-tronco possuem grande capacidade de transformação. Elas são encontradas em embriões, no cordão umbilical e em tecidos adultos, como o sangue, a medula óssea e o trato intestinal. Outra característica é a capacidade de autorreplicação, ou seja, de gerar cópias idênticas de si mesmas.

A diferença entre os tipos de célula-tronco, porém, indica o uso que poderá ter. Nesse aspecto, as embrionárias (CTE) se destacam por serem as únicas capazes de gerar todos os tecidos humanos. Entretanto, a possibilidade de obter as células de embriões não utilizados e congelados em clínicas de fertilização gera controvérsias. Os opositores da medida argumentam que as pesquisas poderiam gerar um comércio de embriões. Eles também questionam a destruição dos embriões, alegando não ser ético destruir uma vida para salvar outra.

Os argumentos são rebatidos pela equipe do CEGH, que defende que as células obtidas de embriões de má qualidade, que não teriam potencial para gerar uma vida, mantêm a capacidade de criar linhagens de células-tronco embrionárias em laboratório e, portanto, de gerar tecidos. Ao usar células-tronco embrionárias com potencial baixíssimo de gerar indivíduos para pesquisas, o Centro de Estudos do Genoma Humano acredita que estaria contribuindo para preservar vidas.

No Brasil, a Lei de Biossegurança aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2008, autoriza a realização de pesquisas com células-tronco adultas e embrionárias, porém impõe certos limites. No caso das CTE, só podem ser pesquisados os embriões estocados em clínicas e considerados excedentes, por não serem colocados em útero, ou inviáveis, por não apresentarem condições de desenvolver um feto.

Já as células-tronco chamadas mesenquimais (CTM) têm o potencial de formar vários tecidos importantes, como músculo, osso, cartilagem e tecido adiposo e estão presentes em grande quantidade no tecido do cordão umbilical. Mas foram as células IPS (Induced Pluripotent Stem-cells, em inglês) que se tornaram uma espécie de “coringa” das pesquisas.

Em 2007, dois grupos independentes de pesquisadores japoneses e americanos mostraram que seria possível reprogramar células adultas – fibroblastos retirados da pele – e fazê-las voltar ao estágio de células-tronco embrionárias, por meio da ativação de alguns genes. A técnica, iniciada em camundongos, foi posteriormente replicada com células humanas e hoje é rotina em vários laboratórios ao redor do mundo.

Novas fontes de células-tronco – A equipe do Centro de Estudos do Genoma Humano também descobriu novas fontes de células-tronco. A primeira foi obtida do músculo orbicular do lábio. Os pacientes portadores de fissura lábio palatina, normalmente chamada de lábio leporino, precisam realizar uma cirurgia corretiva. Neste procedimento, pequenos fragmentos do músculo orbicular do lábio são regularmente descartados e, a partir deles, células podem originar osso, cartilagem, músculo e gordura “in vitro“.

Esta nova fonte de células-tronco poderá ser utilizada para a realização de enxertos ósseo alveolares nos pacientes portadores de fissuras lábio palatinas, eliminando a necessidade de remover osso do próprio paciente para realização do enxerto, e abrindo novas perspectivas para a terapia celular em regeneração óssea. Outra fonte descoberta por acaso é a trompa de falópio, também descartada em cirurgias de esterilização.

Os pesquisadores brasileiros desenvolvem estudos relacionados ao uso de células-tronco e terapia celular em doenças neuromusculares, síndromes e malformações congênitas craniofaciais. “Esperamos que, em não muito tempo, a gente possa começar a fazer pesquisas clínicas (com pacientes). Mas é importante deixar claro que ainda são pesquisas. Quando se fala de pessoas, já recebemos no dia seguinte um milhão de e-mails de gente se oferecendo como cobaias, e não é assim. Esses estudos estão ainda em fase de pesquisa e no momento são realizados somente em modelos animais”, diz a cientista Mayana Zatz.

“Os estudos são muito promissores, mas ainda não permitem a aplicação em seres humanos. Há esperanças, mas por enquanto, não é possível definir prazos”, afirma.

(Fonte: Portal Terra)

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