Pesquisadores apontam a importância de se considerar o efeito de diversos outros fatores que influenciam nos problemas ecossistêmicos em pequena escala e não focar apenas nas mudanças climáticas.
Nos dias de hoje a tendência é culpar o aquecimento global por todas as catástrofes e fenômenos naturais que não estamos acostumados a presenciar. Porém, o conhecimento que o ser humano tem dos diferentes sistemas terrestres ainda é pequeno diante da complexidade das interações químicas, físicas, biológicas e especialmente dos efeitos que as diversas atividades antrópicas têm sobre estas interações.
Muitos estudos indicam que sim, o clima está mudando e muito provavelmente o crescimento desenfreado da população humana tem muito a ver com isso, mas nem tudo é culpa apenas do dióxido de carbono que liberamos na atmosfera.
A intensidade do aquecimento global e seus efeitos dependem também do estado em que se encontram os diferentes ecossistemas terrestres, ou seja, qual o nível de stress que eles têm sido submetidos. Quanto maior a intervenção humana em um determinado ecossistema, menor é a sua capacidade de resistir ao aumento das temperaturas.
Isto é o que argumenta a cientista Camille Parmesan, Bióloga de Populações da Universidade de Austin e uma das autoras de um artigo publicado na última edição da revista Nature Climate Change.
Ela cita o exemplo dos recifes de corais, que infelizmente estão cada vez mais se tornando manchete devido ao estado crítico de conservação em que se encontram. Se os recifes de corais não estivem sendo pressionados pela poluição, sobrepesca, recreação e desenvolvimento costeiro, talvez muitos deles não morreriam após eventos de temperaturas altas.
Outros fatores que influenciam no stress dos ambientes naturais e reduzem a sua resiliência são a fragmentação de habitats, presença de espécies exóticas (como Pinus e Eucalyptus, muito comuns no Brasil), eliminação de predadores e muitos outros.
O artigo alerta que muitas pesquisas estão tentando atribuir diretamente ao aquecimento do clima a culpa por determinadas mudanças locais na distribuição de espécies e biodiversidade, o que pode acabar sendo uma análise muito superficial, a menos que se tenha uma série temporal de dados significativa.
Camille explica que ligar mudanças observadas ao componente humano do aquecimento global requer uma escala diferente, o que é mais bem feito com grandes áreas, por exemplo o norte europeu ou oeste dos Estados Unidos.
“Quanto mais local a escala que você considera, se torna mais difícil atribuir eventos individuais às mudanças climáticas globais induzidas pelos gases do efeito estufa”, completa citando o caso de um estudo com borboletas que abrange toda a Europa. Este estudo, segundo ela, demonstra efetivamente como dois terços das borboletas européias em alguns países estão mudando em direção ao norte.
Degelo
Um fato que corrobora com o alerta dos pesquisadores da Universidade de Austin é a notícia vinda da África que na realidade as previsões de degelo total do Monte Kilimanjaro até 2015 não estão se confirmando.
Um dos pesquisadores que participou do artigo publicado na revista Science em 2001, Douglas R. Hardy da Universidade de Massachussets, assumiu que não deveriam ter feito a previsão sem séries de dados temporais significativas.
"Não compreendíamos muito sobre os processos complicados no pico como sabemos agora", explicou Hardy completando que as geleiras ainda estão diminuindo, mas não se tem certeza quantas décadas ainda podem persistir, talvez duas ou até cinco, comentou.
As pesquisas ao longo dos últimos dez anos demonstraram que o gelo está diminuindo em relação à área abrangida, porém não tanto em relação à espessura, o permite que persista por mais tempo.
“Ciência é e sempre foi um trabalho em evolução”, comentou o autor principal do artigo e geocientista da Universidade do Estado de Ohio Lonnie G. Thompsom. “Como cientistas, publicamos os dados baseados na melhor compreensão das informações naquela época”.
Imagem: Se os recifes de corais não estivem sendo pressionados pela poluição, sobrepesca, recreação e desenvolvimento costeiro, talvez muitos deles não morreriam com o aquecimento global / Lucas Bittencourt Müller
(Envolverde/Carbono Brasil)
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