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segunda-feira, 11 de junho de 2012

O mundo joga seu futuro na Rio+20

Danos ecológicos irreversíveis desestabilizarão os sistemas que sustentam a vida na Terra se não forem tomadas medidas urgentes, afirma o informe Perspectivas do Meio Ambiente Mundial (GEO 5). A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontece este mês no Rio de Janeiro, é uma oportunidade crucial para adotar medidas contra essa deterioração, segundo o estudo, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O GEO 5 compila três anos de pesquisa sobre o estado do meio ambiente no planeta, e foi produzido com a colaboração de mais de 600 especialistas, instituições e outras agências da Organização das Nações Unidas (ONU). Documenta as grandes mudanças ecológicas na Terra, citando uma alarmante variedade de eventos climáticos sem precedentes na história humana, desde inundações e secas até extinção de espécies, elevações do nível do mar e das temperaturas, contaminação e doenças. O informe do Pnuma pede uma ação urgente e decisiva, pouco antes de começar a Rio+20, quando se reunirão mais de 130 líderes mundiais para debater uma resposta aos desafios que o planeta enfrenta. “Se a atual tendência continuar, se prevalecerem os atuais padrões de produção e consumo, e não puderem ser revertidos, então os governos enfrentarão níveis sem precedentes de dano e degradação”, alertou o secretário-geral adjunto da ONU e diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner. O estudo demonstra o fracasso dos governos na hora de encarar os problemas ecológicos, mostrando que, das mais de 500 metas internacionais acordadas para proteger o meio ambiente, apenas quatro mostram sinais de progresso. Estas são o fim da produção e do uso de substâncias que esgotam a camada de ozônio, a eliminação do chumbo dos combustíveis, a melhoria no acesso ao fornecimento de água, e a redução da contaminação no ambiente marinho. Com referência à mudança climática, o chefe da equipe do Pnuma que elaborou o GEO 5, Matthew Billot, considerou “improvável que o mundo cumpra sua meta” de impedir um aumento das temperaturas globais superior a dois graus. “O ritmo da destruição simplesmente acelerou”, alertou, acrescentando que o planeta passará por um caminho insustentável, aproximando-se, e às vezes ultrapassando, os limites críticos. O consumo de água na Terra triplicou nos últimos 50 anos, e, portanto, deveríamos estar mais conscientes de sua importância, “não só nos países áridos e quentes, mas em todo o mundo”, advertiu à IPS. A América do Norte emerge como a maior consumidora de água, com mais de 2.798 metros cúbicos por pessoa ao ano, o dobro da média mundial. Pelas tendências atuais, mais de uma em cada dez pessoas carecerão de água potável até 2015, e para o final do século a disponibilidade estará muito abaixo da demanda, indicou a diretora do Escritório Regional do Pnuma para a América do Norte, Amy Fraenkel. “Conforme cresce a população mundial (hoje na casas dos sete bilhões, com expectativa de chegar aos nove bilhões em 2050), a subsistência se torna mais problemática, considerando a escassez de recursos e os desafios ambientais. “Este é um tema crucial”, disse Fraenkel à IPS. “As soluções que propomos são práticas, e nos levarão a uma economia mais verde”, acrescentou, referindo-se às políticas sugeridas pelo Pnuma, baseadas em casos de sucesso e adaptadas às necessidades ambientais particulares dos diferentes países. Um dos exemplos de êxito é a tendência ao investimento em energias renováveis. Destaca-se o caso da província canadense de Ontário, onde foi estabelecido que uma porcentagem da rede energética deve ser alimentada por fontes renováveis. Em entrevista coletiva no dia 6 deste mês, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou a energia como um pilar da economia verde, e a definiu como o “cordão de ouro que conecta o crescimento econômico, a igualdade social e a sustentabilidade ambiental”. Nesta frente ainda há muito por fazer. Na América do Norte as iniciativas de energia renovável são mais “exceções à regra”, destacou Fraenkel, acrescentando que a mudança para este tipo de fonte “é certamente mais lento” nessa região do que em qualquer outra. Em termos de mercado, os combustíveis fósseis continuam sendo a maior fonte de energia para a América do Norte, graças ao apoio de subvenções dos governos. “Uma clara resposta é a eliminação dos perversos subsídios aos combustíveis fósseis, que estão criando um mercado no qual a energia renovável simplesmente não pode competir”, advertiu Fraenkel, que também exortou os políticos a repensarem a filosofia econômica de modo a se procurar um crescimento sustentável, integrando o meio ambiente às suas decisões. “A forma como temos tratado o meio ambiente é como se fosse um acréscimo, um luxo dos países ricos, algo que deve ser encarado apenas quando a economia se desenvolver. Esta é a filosofia de nossas economias ocidentais industrializadas”, apontou Fraenkel. Em sua mensagem pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5, Ban Ki-moon afirmou que para haver uma efetiva transição rumo a uma economia verde “temos que refutar o mito de que existe um conflito entre a economia e a saúde ambiental”. O informe GEO 5 conclui que a passagem para a economia verde poderia gerar entre 15 milhões e 60 milhões de empregos em todo o mundo nas próximas duas décadas, e tirar dezenas de milhões de pessoas da pobreza. Envolverde/IPS (IPS)

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