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quinta-feira, 9 de junho de 2011

O mundo de 2100

Até o final do século, a humanidade pode chegar a dez bilhões de pessoas, que vão precisar de três refeições por dia. A questão é quem vai produzir essa comida toda…



A mídia e os governos tentam fazer de conta que a crise global de 2008, que ainda lança sua sombra sobre a Europa e os Estados Unidos, foi apenas financeira. O fato, no entanto, é que seus efeitos foram muito mais amplos e os preços globais dos alimentos estão subindo, e cerca de um bilhão de pessoas ao redor do mundo não conseguem se alimentar dentro dos padrões considerados adequados pela Organização Mundial de Saúde. Um relatório recente Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que, entre fevereiro e março deste ano, o valor médio dos alimentos da cesta básica no mundo está cerca de 35% mais alto do que no mesmo período do ano passado, e fontes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), informaram este mês que não existe perspectiva de queda em curto prazo.

Além disso, as projeções de impactos das mudanças climáticas sobre a agricultura ainda estão pouco estudadas, mas podem ser de grande monta, caso a temperatura média do planeta, no final deste século, esteja mesmo quatro graus centígrados mais alta. “Até agora nenhum plano para oferecer alimentos a uma população em crescimento levou em conta as mudanças no clima”, diz Antonio Hill, que atua na Oxfam, uma organização internacional com trabalhos na área de combate à pobreza. Para ele, é importante que se reconheça os limites do atual sistema de produção de alimentos. Um relatório da Oxfam mostra que o preço dos alimentos é diretamente impactado pela alta no preço do petróleo, nos custos de transportes e de fertilizantes. Os mesmos fertilizantes que são frequentemente acusados pela contaminação da água e exaustão do solo. “E, mesmo com aplicações maciças de fertilizantes, a produtividade não está crescendo”, diz Hill.

Em um cenário de disputas entre o grande agronegócio global, onde as terras são utilizadas para extensões sem fim de monoculturas como a soja, o milho ou a cana, o que realmente tem potencial para oferecer comida para toda essa gente é a agricultura familiar, segundo o relatório da Oxfam. E com um detalhe: as famílias instaladas em pequenas propriedades têm mais cuidado com a diversidade de animais e plantas, utilizando agroquímicos com maior parcimônia. “Existem cerca de seis mil plantas comestíveis no mundo, no entanto, nos limitamos a 50 espécies que são produzidas em escala comercial”, diz Antonio Hill.

Para tentar influir em políticas públicas que apontem para o aumento da produção de alimentos, a Oxfam está lançando uma campanha global para pressionar os líderes mundiais a não deixarem as questões relativas à segurança alimentar apenas nas mãos do mercado, uma vez que o sistema de preços não consegue oferecer comida a preços compatíveis com a renda de uma camada imensa da população pobre. As primeiras reuniões intergovernamentais em que o grupo deve marcar presença serão a do Comitê de Segurança Alimentar Mundial do G20, que se reúne no último trimestre deste ano, e a COP 17, sobre Mudanças Climática, em dezembro, na cidade sul-africana de Durban.

Hill explica que a agricultura familiar já responde pela alimentação de um terço da humanidade, com um impacto ambiental consideravelmente inferior ao do agronegócio. No entanto, esse percentual pode ser multiplicado se houver apoio, assistência técnica, financiamentos e vontade política. “Já há operações agroecológicas tão eficientes quanto a do agronegócio”, arremata. (Envolverde)

(Agência Envolverde)

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