sexta-feira, 21 de junho de 2013
Cientistas sequenciam genoma da bactéria causadora da hanseníase
Uma equipe internacional de biólogos e arqueólogos sequenciou o genoma de cinco linhagens da bactéria Mycobacterium leprae, causadora da hanseníase, para tentar entender por que houve uma queda súbita na incidência da doença no fim da Idade Média e como esse micro-organismo se transformou ao longo do tempo. Os resultados do estudo estão publicados nesta quinta-feira (13) na edição online da revista “Science”.
Essa doença infecciosa, conhecida como lepra, atinge a pele, os nervos, as extremidades do corpo (braços, mãos, coxas, pernas e pés), o rosto e órgãos como olhos e fígado, podendo causar deformidades físicas se não tratada.
A hanseníase é um dos males mais antigos da humanidade, já citado na Bíblia e em registros de 600 a.C. na África e Ásia. Segundo o Ministério da Saúde, 33 mil novos casos são detectados por ano no Brasil. Em todo o mundo, a doença atinge 225 mil pessoas anualmente, apesar da existência de remédios eficazes.
No estudo, o DNA da Mycobacterium leprae foi sequenciado a partir de cinco esqueletos da Idade Média e de pacientes vivos, para compará-los e se ter uma ideia de como essa bactéria evoluiu ao longo dos séculos. Segundo os cientistas – alemães, suíços, britânicos, suecos, dinamarqueses e malineses –, coordenados por Verena Schuenemann, do Instituto de Ciências Arqueológicas da Universidade de Tübingen, na Alemanha, o micro-organismo não teve uma mudança genética importante nos últimos mil anos.
Análise de 16 genomas – Os restos mortais analisados eram de pessoas doentes que viveram entre os séculos 10 e 14 no Reino Unido, na Suécia e na Dinamarca. Também foram feitas biópsias em pessoas vivas com hanseníase ao redor do mundo.
Ao todo, os pesquisadores encontraram 16 genomas antigos e contemporâneos da Mycobacterium leprae. Os autores viram que apenas 800 mutações ocorreram nesses 16 materiais genéticos, e as diferentes cepas da bactéria que existem hoje nas Américas provavelmente se originaram na Europa.
A hanseníase era altamente prevalente no continente europeu, onde os doentes eram desprezados pela sociedade e forçados a usar sinos para informar seu paradeiro. Em certas regiões, estima-se que quase uma em cada 30 pessoas estava infectada naquela época.
Desde o século 16, porém, a doença começou a diminuir em toda a Europa, ou porque as condições sociais melhoraram, ou porque outras doenças infecciosas, como a tuberculose e a peste negra, ofuscaram a hanseníase, sugerem os autores.
Possível resistência – Muitas pistas indicam que, com o tempo, os seres humanos desenvolveram resistência à doença, apontam os cientistas. Além disso, pode ter havido um intenso processo de seleção natural, pois os indivíduos doentes eram isolados dos demais.
“Em certas situações, as vítimas poderiam simplesmente ser pressionadas a não procriar. Outros estudos também identificaram as causas genéticas que fizeram com que a maioria dos europeus fosse mais resistente à doença que o resto da população mundial, o que também dá credibilidade a essa hipótese”, explica o coautor Stewart Cole.
Os cientistas também descobriram que uma cepa medieval da Mycobacterium leprae achada na Suécia e no Reino Unido era quase idêntica à encontrada no Oriente Médio.
“Não temos dados para determinar a direção em que a epidemia se espalhou. O patógeno pode ter sido levado para a Palestina durante as Cruzadas. Mas esse processo também pode ter ocorrido na direção oposta”, diz Cole.
Além da importância histórica, a pesquisa pode melhorar a compreensão sobre a hanseníase e a forma como a bactéria age. A Mycobacterium leprae também tem uma resistência muito grande, provavelmente por causa de suas paredes celulares grossas, o que abre a possibilidade de rastrear seu caminho em um passado ainda mais remoto em estudos posteriores, destaca a equipe.
Tipos de hanseníase – Existem dois tipos básicos de hanseníase. Em um deles, os pacientes desenvolvem resistência à bactéria e a doença é mais localizada – a cura consiste no uso de dois medicamentos por seis meses. Na outra forma, que é mais disseminada, os pacientes não têm resistência e transmitem a infecção. Nesse caso, o tratamento é feito com três drogas, ao longo de um ano.
A hanseníase pode ser passada de uma pessoa para outra pelo contato com alguém sem tratamento, por meio das vias respiratórias (tosse ou espirro). Apesar disso, a maioria dos indivíduos tem resistência natural para combater a doença, portanto não adoece. Além disso, o contágio só acontece quando há um convívio muito próximo e prolongado – cerca de dois anos – com um doente que não esteja sendo tratado. (Fonte: G1)
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