Páginas

sexta-feira, 19 de março de 2010

Consumo consciente é tema de discussão no Fórum Econômico Mundial

Em artigo, Helio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu, fala sobre o relatório Redesigning Business Value: a Roadmap for Sustainable Consumption. O documento - que discute os desafios, os atuais dilemas e as possíveis soluções para criar um modelo de produção e consumo no qual o consumo sustentável seja a regra, não a exceção - foi lançado novembro de 2009 pelo Fórum Econômico Mundial.

*Por Helio Mattar


Nos últimos dois anos, o Fórum Econômico Mundial liderou várias iniciativas para repensar os modelos de negócio diante do desafio de incorporar a responsabilidade social e a sustentabilidade ao mundo das empresas. O Instituto Akatu foi convidado a participar da iniciativa Sustainability for Tomorrow’s Consumer, há dois anos, e, desde então, vem participando do esforço do Fórum para introduzir o tema do consumo sustentável – trabalhado pelo Akatu como consumo consciente – em novas iniciativas: Driving Sustainable Consumption e Global Agenda Council for Sustainable Consumption.

Um dos resultados dessas iniciativas é o relatório Redesigning Business Value: a Roadmap for Sustainable Consumption (Redesenhando o Valor nos Negócios: um Mapa para o Consumo Sustentável), recém-lançado pelo Fórum Econômico Mundial, após os debates em torno do consumo sustentável realizados por um grupo multidisciplinar, em um evento do Global Redesign Initiative em novembro de 2009. O relatório discute os desafios, os atuais dilemas e as possíveis soluções para criar um modelo de produção e consumo no qual o consumo sustentável seja a regra, não a exceção.

Incentivar o consumo sustentável, segundo o relatório, é mais do que aderir à responsabilidade social. Trata-se, na verdade, de “mudanças fundamentais e necessárias na maneira de fazer negócios e de consumir, o que requer repensar os modelos de negócios, as cadeias de fornecedores e a forma como a sociedade valoriza os bens e serviços”. Fica claro no relatório que, para que a população mundial possa consumir de maneira sustentável, é preciso mudar os padrões de consumo nos países desenvolvidos e criar um novo modelo de prosperidade a longo prazo nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, de acordo com o relatório, “alcançar maior prosperidade global dentro de um mundo em que os recursos são escassos é o maior desafio político e econômico do século XXI”.

Segundo o relatório, para construir um futuro em que o consumo é sustentável, será necessário ter:

• Inovação: a sustentabilidade induz a inovação e deveria ser o critério central do design de produtos e serviços, assim como de um novo modelo de negócios;

• Colaboração: serão necessárias novas formas de colaboração entre os parceiros dos negócios, ao longo de toda cadeia produtiva, envolvendo também os principais stakeholders;

• Investimento: é preciso olhar para além das pressões por resultados de curto prazo e focar os investimentos no longo prazo, levando aos investidores a compreensão dos valores que estão em jogo e mostrando a importância de apropriá-los no planejamento de longo prazo;

• Valores: modelos baseados em novos valores são necessários para alinhar os novos comportamentos de forma mais produtiva e inovadora

• Liderança: os líderes em negócios são aqueles que saem na frente, pois vêem que o custo da inação é muito maior do que o custo da ação.

Nesse futuro, diz o relatório, não será suficiente apenas aumentar o número de consumidores “verdes”, ou seja, que tomam decisões de compra baseados nos impactos ambientais ou sociais dos produtos. Será necessária, por parte dos consumidores, uma mudança no estilo de vida e nos hábitos de consumo. Nessa nova economia, “o consumo é desacoplado dos impactos ambientais e sociais negativos, movido por uma combinação de inovação, envolvimento com os valores dos consumidores e custos mais precisos dos produtos. Não é um mundo definido pela escassez e pelo sacrifício, mas pela inovação e por uma nova abundância”.

Durante as discussões que levaram a este relatório ficou claro, como dito acima, que é preciso desacoplar o crescimento econômico do uso de recursos naturais e, ao mesmo tempo, é preciso acoplar o crescimento econômico com o aumento da equidade social.

Uma das características desse novo mundo é que os consumidores serão uma enorme força indutora das mudanças. Segundo o relatório, nesse mundo os consumidores serão “engajados positivamente com os benefícios do consumo sustentável para eles mesmos, suas famílias e suas comunidades. Eles serão empoderados por meio de informações relevantes sobre os produtos no mercado, que terá sido aperfeiçoado com melhores sistemas de medição e plataformas de comunicação mais padronizadas. Os consumidores verão os produtos como uma forma de solução ou como a intensificação de uma experiência, em vez de enxergá-los como produtos que são um fim em si mesmo”.

As várias iniciativas do Fórum Econômico Mundial, que discutem o futuro do consumo e de sua relação com as empresas, frequentemente apontam que um dos principais papéis das empresas é ser uma liderança para influenciar o comportamento do consumidor, educando os consumidores para o consumo consciente.

Uma confirmação do papel das empresas como educadoras de seus colaboradores – e, por conseqüência, dessas pessoas como consumidores – está na pesquisa Estilos Sustentáveis de Vida – Resultados de uma pesquisa com jovens brasileiros, realizada em 2009 pelo Instituto Akatu, em parceria com a Ipsos Public Affairs, como parte brasileira em um projeto global da UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). A pesquisa mapeou a maneira como os jovens, de 18 a 35 anos, percebem as práticas sustentáveis e como as incorporam ao seu dia-a-dia. Segundo os dados da pesquisa, os jovens que trabalham em empresas com mais de 100 funcionários conhecem mais sobre sustentabilidade, responsabilidade social empresarial e mudanças climáticas do que os que trabalham em empresas menores, o que evidencia o papel pedagógico que as maiores empresas tem tido em relação a esses temas.

Nos últimos anos, vem se destacando, entre os trabalhos do Instituto Akatu, a mobilização dos colaboradores de suas empresas parceiras para que pratiquem e disseminem os conceitos e práticas do consumo consciente e sustentabilidade. Esse processo permite que o colaborador internalize, como indivíduo, tais conceitos e práticas, e, por decorrência, possa levá-los a todos os espaços onde atua, incluindo o da empresa, levando-o a trazer novas idéias, consistência e persistência ao esforço e à estratégia de sustentabilidade da própria empresa.

Não é preciso apontar, após os argumentos do relatório do World Economic Fórum, que o posicionamento da empresa como um agente da sustentabilidade será tão mais nítido quanto maior for o engajamento da empresa no papel de educar o consumidor para o consumo consciente, informando-o sobre a importância da sustentabilidade, sobre os esforços da empresa nessa direção, e sobre o papel dos produtos da empresa como contribuição para um mundo mais sustentável.


Instituto Akatu pelo Consumo Consciente

Nenhum comentário: