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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Preservação ambiental conta com poucos homens


No ABCD, fiscalização direta depende de menos de 100 pessoas; guardas e fiscais precisam ficar de olho em construções irregulares, maus tratos a animais e desmatamento em mananciais

Menos de 100 profissionais cuidam diretamente da fiscalização da Represa Billings no ABCD, que é responsável pelo abastecimento direto de mais de um milhão de pessoas. Entre fiscais e guardas ambientais as cidades de Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires possuem 82 pessoas para fazer o trabalho de prevenção de crimes ambientais nas áreas de mananciais.

Contudo, os profissionais não ficam restritos às áreas verdes e têm de atuar em todo a extensão territorial das cidades, o que compreende 711 km quadrados. Na prática, significa ainda menos atenção às áreas verdes, dizem especialistas ambientais.

Além da fiscalização feita diretamente por funcionários das prefeituras, há a polícia ambiental. O contingente, no entanto, é igualmente pequeno. Para ajudar nos cuidados da represa São Bernardo, que possui 408 quilômetros quadrados, por exemplo, tem 13 policiais na função, incluindo o delegado - que também atuam na cidade inteira.

Entre as ocorrências mais comuns nas operações diárias estão o descarte de entulho e construções irregulares de imóveis em áreas de proteção ambiental, maus tratos com animais e desmatamento. De maneira geral, os fiscais e guardas trabalham no atendimento às denúncias e ronda preventiva.

Para o inspetor da Guarda Ambiental de São Bernardo, Lindomar Nunes Costa, o número de guardas hoje “não seria suficiente para cobrir todo o território”. “Temos que considerar que já é um avanço, pois antes de 2009 nem esses profissionais nós tínhamos”, esclareceu Costa, que trabalha com mais 37 pessoas.

De acordo com o secretário de Gestão Ambiental da cidade, Giba Marson, a fiscalização que existe atualmente no município corresponde às expectativas e ainda vai melhorar nos próximos meses.

“Contratamos o voo semanal de helicóptero para trabalharmos com a prevenção de danos. Daqui a 30 dias, teremos esse trabalho três vezes a cada duas semanas. A prefeitura também tem um projeto de aumentar o efetivo da guarda ambiental para 100 policiais. Quando isso acontecer com certeza daremos conta”, disse o chefe da pasta, que conta com mais 11 agentes para fazer a fiscalização com a guarda.

Em Santo André, o trabalho é feito por 14 agentes ambientais do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e mais seis da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense. Ao todo, os 20 profissionais devem patrulhar 174 km quadrados, o que corresponde à área total da cidade. Segundo o diretor de meio ambiente da pasta, Milton de Marchi, a “questão de dar conta ou não é subjetiva, pois hoje os resultados são satisfatórios. Todos os dias eles saem para fazer as rondas de rotina”.

“Se tivesse mais homens trabalhando seria melhor, mas os que estão hoje fazem o trabalho deles. Nossa maior preocupação é controlar o adensamento e impedir as ocupações irregulares na área dos mananciais”, explicou.

Sem retorno

A prefeitura de Mauá e Rio Grande da Serra não responderam aos questionamentos do BOM DIA, embora tenham sido contatadas inúmeras vezes ao longo da semana.

Ambientalistas criticam modelo de fiscalização

Para os especialistas ambientais, umas das consequências da quantidade atual de pessoas fiscalizando as áreas de mananciais é que os danos dificilmente são impedidos quando estão começando a ser realizados.

Para o coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Fundação Santo André, Murilo Valle, é preciso ter profissionais com formação técnica trabalhando. “Temos que ter agentes ambientais formados em geografia, biologia, engenharia ambiental e geologia. Pessoas que conheçam bem o meio físico e biológico”, afirmou o professor que acrescentou: “As prefeituras do ABCD não têm metas ambientais. Hoje, os políticos só se preocupam em aumentar leitos ou vagas em escolas porque a população é atingida diretamente. Não há programas ambientais.”

O arquiteto e urbanista ambiental Fábio Vital, é outro crítico da política exercita atualmente. Segundo ele, os investimentos nas áreas verdes não acontecem porque não darão visibilidade eleitoral para os administradores. “Vão deixando passar, mas esse universo caótico será herdado por alguém no futuro. Hoje, só há intervenções de efeito se acontece uma forte degradação”, afirmou o ambientalista que também é vice-presidente do Comitê Billings-Tamanduateí.

Vital ainda disse que as administrações precisam investir na prevenção.

Derla Cardoso
Agência BOM DIA

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