Sabedoria popular
A medicina popular pode ser muito popular, mas antes de aderir a esse saber é importante desenvolver estudos criteriosos para avaliar as propriedades terapêuticas de ervas e produtos popularmente utilizados.
Entre aqueles que já demonstraram efeito anticâncer estão a Aloe vera (conhecida como babosa) e o mel.
A partir desses estudos, a bióloga Rebeka Tomasin, do Laboratório de Nutrição e Câncer da Unicamp, decidiu combinar os dois produtos em um homogeneizado, o mesmo utilizado na medicina popular, para avaliar sua ação sobre o crescimento tumoral e a caquexia.
A proposta é desenvolver pesquisa básica para mostrar a possibilidade de alguns produtos fitoterápicos auxiliarem no tratamento tradicional.
Babosa e mel contra o câncer
De acordo com a bióloga, cobaias portadoras de tumor de Walker 256 e tratados com o homogeneizado após a indução do tumor apresentaram resultados positivos na diminuição da massa tumoral e nos efeitos modulatórios sobre os tecidos do hospedeiro (rato portador de tumor) e simultâneo efeito deletério sobre o tecido tumoral.
A análise do estresse oxidativo e da atividade de enzimas antioxidantes revelou que, nos animais tratados com Aloe vera e mel, os tecidos hospedeiros foram "protegidos", enquanto o tecido tumoral sofreu maior "ataque" oxidativo.
Baseada nestes resultados, Rebeka propôs que, neste modelo experimental, a administração de Aloe vera e mel preserva a integridade dos tecidos hospedeiros enquanto provoca detrimento do tecido tumoral.
Tratamentos alternativos e coadjuvantes
Para a bióloga, o estudo de tratamentos alternativos e coadjuvantes é de grande valia.
Ela pontua que, além das terapias convencionais como quimioterapia, radioterapia e cirurgia, atualmente tem-se investido muito em terapias coadjuvantes na tentativa de melhorar ainda mais o prognóstico da doença e a qualidade de vida do paciente.
Porém, no caso específico de sua pesquisa, ainda não foram realizados testes em humanos. O que se tem até o momento é pesquisa básica que poderá ser apoio a futuros estudos na área médica e farmacêutica.
Rebeka acrescenta que os estudos in vivo utilizando organismos modelo têm sido essenciais para compreensão do comportamento de inúmeras doenças por possibilitar ainda a observação do desenvolvimento patológico e a reação corporal diante de diferentes intervenções e novos tratamentos, oferecendo assim resultados preliminares mais seguros antes de testes em seres humanos.
Ela enfatiza a importância em desenvolver estudos com plantas, o que pode desmistificar muitos aspectos do discurso popular sobre efeitos terapêuticos. Por outro lado, o isolamento das substâncias que compõem uma determinada planta pode trazer ganhos para o desenvolvimento de fármacos.
"Setenta por cento dos quimioterápicos utilizados atualmente são derivados de plantas, mas para chegar até a utilização clínica foram necessários anos de estudo. Muitas vezes, as pessoas fazem uso de determinada planta medicinal, mas ela pode conter alguma substância nociva; portanto é essencial o isolamento das substâncias responsáveis pela atividade desejada", explica.
Babosa e mel
Estudos realizados anteriormente mostraram que a babosa contém várias propriedades terapêuticas importantes, incluindo prováveis efeitos anticâncer e que os ingredientes farmacologicamente ativos estão concentrados tanto no gel quanto na casca da folha.
Rebeka pontua que, embora alguns dados afirmem que o mel seja comparado ao açúcar em seus valores nutritivos e que proteínas, minerais e vitaminas estão em baixa quantidade, tendo, portanto, pouca importância nutricional, há evidências de que o mel seja um agente moderador antitumor, com relevantes efeitos antimetástase.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde levantados por Rebeka, o câncer é responsável pela morte de quase 8 milhões de pessoas anualmente, sendo que são diagnosticados mais de 11 milhões de novos casos por ano.
As pesquisas multidisciplinares têm sido importantes para estudar a associação de métodos no tratamento de doenças, mas ainda são poucos estudos que fazem associações como o homogeneizado de Aloe vera e mel e a prática de atividades físicas e nutrição.
"Fico feliz quando descubro um estudo parecido, pois nosso objetivo é contribuir com outras áreas do conhecimento para garantir qualidade de vida aos pacientes", conclui Emilianne.
Diário da Saúde
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