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sábado, 15 de março de 2014

Três anos do desastre de Fukushima promovem reflexão

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Cerimônias e protestos estão sendo realizados ao redor do mundo e, em especial, na capital Tóquio, não apenas em tributo aos mortos, mas também em protesto para que não se esqueça do impacto monstruoso que um acidente como o de Daichii pode ter. Milhares de pessoas foram às ruas em Tóquio no domingo expressando a sua oposição aos planos do governo de religar os reatores ditos “seguros”. As usinas nucleares alimentavam quase um quarto da demanda por energia do país antes do desastre. O jornal The Telegraph entrou na usina danificada, descrevendo que, apesar da calmaria em relação ao caos que se instalou há três anos, o cenário ainda é precário, com corredores cheios de equipamentos quebrados e escombros. Os níveis de radiação baixaram significativamente desde então, mas os mais de 150 mil japoneses que foram obrigados a deixar as suas casas ainda permanecem isolados de suas vidas anteriores ao desastre. “Não é possível manter uma vida temporária para sempre”, disse à Reuters Ichiro Kazawa, 61 anos, que teve sua casa destruída pelo tsunami que também interrompeu a geração de energia na usina de Fukushima. Os depoimentos emocionados e indignados mostrados pela imprensa transparecem o quanto o acidente transformou as vidas dessas pessoas. Mesmo a 60 quilômetros da usina, os temores da radiação impedem que pais deixem seus filhos brincarem ao ar livre, reportou o The Telegraph. Mas o impacto na vida dos cidadãos ainda promete se arrastar por muito tempo. A usina deve enfrentar em torno de quatro décadas de esforços de limpeza, e ainda apresenta quantidades enormes de água e materiais contaminados sem destino certo. Parte da água radioativa, ainda que sob alegação de que os níveis de contaminação são baixos, está sendo, e ainda será por um bom tempo, liberada para o Oceano Pacífico através de vazamentos. Até cinco de março, mais de 400 mil toneladas de água contaminada estavam sendo estocadas em tanques – 400 toneladas de água radioativa são produzidas por dia. “Esquecer Fukushima torna ainda mais provável que tal desastre nuclear aconteça em outro lugar”, comentou Tatsuko Okawara, uma das milhares de vítimas do acidente no Japão, em entrevista ao Greenpeace. Infelizmente, não parece que ‘esquecer’ é a palavra certa para denominar os planos japoneses em relação à energia nuclear. Desde o acidente de Fukushima, o Japão desligou quase 50 reatores, passando a depender mais de fontes fósseis, como o carvão, e a apostar no desenvolvimento de energias renováveis. O governo, porém, nunca deixou de planejar a reativação dos reatores, e está trabalhando junto com as empresas que administram as usinas para tal. Religamento Além dos investimentos pesados necessários para o religamento – apenas na usina de Hamaoka, os planos para melhorar a estrutura, por exemplo, com a construção de um muro para conter tsunamis, já remontam a US$ 3 bilhões –, Tatsujiro Suzuki, vice-presidente da Comissão Atômica de Energia, ressaltou em entrevista à Bloomberg que é preciso uma mudança de mentalidade, desde os gestores até os arranjos instrucionais. Nessa linha, em julho de 2012, um relatório elaborado por uma comissão parlamentar japonesa criada para analisar a tragédia de Fukushima concluiu que a maior parte da responsabilidade pelo desastre está na realidade em uma combinação de leis fracas e de tráfico de interesses. Ou seja, o erro foi humano. A falta de transparência, tanto da parte do governo japonês quanto da empresa que administra a usina de Daichii, é uma das críticas mais frequentes. ONGs acusam o governo de tentar mascarar a real seriedade da situação. O Greenpeace aponta que a realidade nos mostra que a frequência do derretimento de reatores nucleares é de um a cada década e que ninguém está preparado para lidar com um acidente nuclear em grande escala, como mostrou Fukushima. Portanto, apesar de toda a tecnologia e investimentos monstruosos envolvidos na construção das usinas nucleares, um erro, por menor que seja, pode ter consequências catastróficas. A humanidade está preparada para pagar esta conta? Exemplo simbólico O desastre de Fukushima serviu para que alguns países, como a Alemanha, revissem a sua política energética e buscassem um caminho que não é o nuclear. Porém, além das novas usinas que ainda são planejadas em países como o Brasil e a China, o mundo tem que lidar com o problema das unidades antigas, que podem representar perigos iminentes. Assim, lembrando Fukushima, na segunda-feira ativistas dos escritórios nacionais e regionais do Greenpeace fizeram manifestações ao redor do continente europeu para chamar a atenção aos riscos dos reatores mais antigos. Na França, por exemplo, um grupo simbolicamente bloqueou a entrada da usina de Bugey e começou os trabalhos de ’’desmonte’’ da unidade, retirando a sinalização. Dos 151 reatores operacionais na União Europeia, 66 têm mais de 30 anos, 25 têm mais de 35 anos e sete ultrapassam 40 anos, superando a sua suposta vida útil, segundo a ONG, que enfatiza que, apesar das atualizações e reparos, suas condições gerais “irão deteriorar” em longo prazo. Ou seja, 44% dos reatores na Europa estão velhos demais para estarem ativos, criticou o Greenpeace, que criou uma campanha para desativar as unidades. Aqui no Brasil, a situação não é muito diferente. Em março de 2012, o Greenpeace divulgou um estudo que avalia a possibilidade de uma catástrofe nuclear acontecer em Angra 3 – que está em construção e deve entrar em operação em 2018, com potência de 1.405 megawatts. A conclusão do relatório foi de que, além de defasado, o reator da usina não está equipado com medidas de segurança presentes nos utilizados na Europa e nos Estados Unidos. Até 2011, o governo brasileiro tinha planos de construção de diversas usinas nucleares. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a dizer, em 2008, que o Brasil construiria uma usina nuclear por ano ao longo dos próximos 50 anos e que pacote começaria a sair do papel assim que o governo concluísse a contratação das obras de quatro novas usinas nucleares, que já haviam sido aprovadas. Em julho de 2011, quatro meses após o acidente de Fukushima, Lobão afirmou que a proposta de construção das quatro usinas nucleares no Brasil estava sendo reavaliada. De lá para cá, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) propôs o Projeto de Lei do Senado (PLS) 405/2011, que visa à suspensão pelo prazo de 30 anos da construção de novas usinas nucleares no país. Para Lobão, o país não pode abrir mão dessa alternativa de energia que, em sua avaliação, é eficiente na geração de energia. Durante o Fórum Social Temático, realizado na semana passada em Porto Alegre, o ativista da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, Chico Whitaker, afirmou que a presidente Dilma Rousseff decidirá neste ano onde será construída a quarta usina nuclear do país, segundo ele, possivelmente nas margens do Rio São Francisco. “Trata-se de uma autêntica loucura humana... um acidente com uma usina dura milhares de anos [até que a radioatividade volte a níveis aceitáveis]”, enfatizou Whitaker, lembrando do desastre japonês e de Chernobyl. http://www.institutocarbonobrasil.org.br/

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