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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Relatório Estado do Mundo mostra consumo global irresponsável

Uma das mais importantes publicações mundiais sobre sustentabilidade, o Estado do Mundo, acaba de receber uma versão em português, graças à parceria entre o Instituto Akatu e o Worldwatch Institute (WWI), organização responsável pelo documento. No entanto, o otimismo da notícia só perde para sua conclusão: um sexto da humanidade consome 78% de tudo que é produzido no mundo.



Anual, o relatório produzido pelo WWI faz uma análise do consumo no mundo com base em números atualizados e reflexões sobre as questões ambientais. E os dados que saltam aos olhos mostram um desafio desconcertante: "sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade em vez do consumismo, nada poderá salvar a humanidade dos riscos ambientais e de mudanças climáticas".

O documento em português foi lançada no final de junho de 2010 em São Paulo, motivando o debate Transformando Culturas – do Consumismo à Sustentabilidade. Nele, participaram nomes como Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, Eduardo Athayde, diretor da WWI, Ricardo Abramovay, professor titutar da Faculdade de Economia (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu e Lívia Barbosa, diretora de pesquisa do Centro de Altos Estudos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Um dos pontos levantados durante o debate, em que o relatório foi seu eixo central, veio de Lívia Barbosa. Segundo ela, os vários exemplos citados no texto possibilitam juntar a cultura ao cotidiano das sociedades, fazendo com que "o tema sustentabilidade saia das esferas dos governos e outras entidades e chegue è mesa da nossa cozinha".

Fazendo coro a sua colega, Ricardo Abramovay também chamou atenção para o cuidado que se deve ter ao discutir o consumo. Para ele, nem sempre as elevações dos padrões do consumo, sobretudo nos países mais pobres, significam mais impactos negativos sobre o uso dos recursos. "A troca do fogão à lenha por um que funcione a gás implica em impactos ambientais menores", exemplificou.

Mattar concluiu recomendando a leitura do documento que considera "primordial" para todos aqueles que têm alguma intenção de cooperar com a preservação do planeta. "O material impulsiona a todos os que têm acesso a ele a agirem em benefício da Terra".

O RELATÓRIO

Segundo dados do relatório, na última década, a humanidade aumentou seu consumo de bens e serviços em 28%. Somente em 2008, foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares.

Para produzir tantos bens, é preciso usar cada vez mais recursos naturais. Entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, 14 vezes. Atualmente, um europeu consome em média 43 quilos em recursos naturais diariamente – enquanto um americano consome 88 quilos, mais do que o
próprio peso da maior parte da população.

Além de excessivo, o consumo é desigual. Em 2006, os 65 países com maior renda, que somam 16% da população mundial, foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços. Somente os americanos, com apenas 5% da população mundial, abocanharam uma fatia de 32% do consumo global. Se todos vivessem como os americanos, o planeta só comportaria uma população de 1,4 bilhão de pessoas. Atualmente já somos quase sete bilhões, e projetam-se nove bilhões para 2050.

A pior notícia é quem nem mesmo um padrão de consumo médio, equivalente ao de países como Tailândia ou Jordânia, seria suficiente para atender igualmente todos os habitantes do planeta. A conclusão do relatório não deixa dúvidas: sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade e não o consumismo, não haverá esforços governamentais ou avanços tecnológicos capazes de salvar a humanidade dos riscos ambientais e de mudanças climáticas.

MÍDIA

A maior parte da mídia ainda reforça o consumismo, mas existem esforços no mundo todo para que seu vasto poder e alcance seja utilizado para promover culturas sustentáveis.
Segundo o relatório, 83% das residências no mundo têm aparelhos de televisão e 21 em cada 100 pessoas têm acesso a internet. Entretanto, a maior parte da mídia ainda reforça o consumismo, apesar de existirem esforços no mundo todo para que seu vasto poder e alcance seja utilizado para promover culturas sustentáveis.

Por meio de ações publicitárias globais, o setor de água engarrafada, por exemplo, ajudou a criar a impressão de que água na garrafinha é mais saudável, mais saborosa e está mais na moda do que a boa e velha água "torneiral", mesmo quando estudos demonstram que algumas marcas de água engarrafada são menos seguras do que água da rede e custam de 240 a 10 mil vezes mais. A indústria de água engarrafada movimenta hoje US$ 60 bilhões e vendeu 241 bilhões de litros de água em 2008, mais que o dobro da quantidade vendida em 2000.

CAMPANHA

Em 2010, o SWU Music and Arts Festival – movimento que organiza festivais de música e arte – tem uma novidade: a campanha SWU - Começa com Você. Usando redes sociais como Facebook, Twitter e Orkut, a iniciativa convoca os internautas a publicar dicas de consumo consciente e sustentabilidade, compartilhando práticas favoráveis à sustentabilidade do planeta.

Segundo os organizadores, "o objetivo é coletar cada vez mais parceiros e formar um grande movimento mundial em prol da sustentabilidade". Em 10 dias, a campanha já conta com mais de 40 dicas, seguidas por mais de 200 pessoas.

Para participar, basta se conectar pelo site à sua conta de Facebook, Google, Yahoo ou Twitter e enviar uma dica por mensagem. O texto ficará disponível para que outras pessoas o visualizem.

http://www.agrosoft.org.br/agropag/214852.htm

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