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domingo, 30 de maio de 2010

Livro analisa impacto do mercado de saúde no meio ambiente

Para Entender a Saúde no Brasil Volume 3 mostra novo dilema na área: até que ponto a agressividade ambiental do mercado de medicina pode comprometer nosso futuro?


O lançamento neste mês de maio do livro Para Entender a Saúde no Brasil Volume 3 (Editora LCTE, 255 págs, R$ 52), coletânea de artigos inéditos organizada pelo médico Eduardo Perillo e pela economista Maria Cristina Amorim, lança luz sobre um novo dilema no já complexo mercado de cuidados com a saúde: até que ponto a Medicina prejudica o meio ambiente e, assim, realimenta o circuito da doença? O tema é não apenas polêmico como absolutamente importante em um momento no qual o mercado de saúde movimenta diretamente algo como 8% do PIB brasileiro, portanto, responsável por uma parcela pelo menos semelhante da geração de poluição – de todos os tipos – no País.

A contribuição do setor assistencial hospitalar à degradação ambiental é tema de um dos artigos do livro, assinado pelo neurocirurgião Reynaldo André Brandt, ex-presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados. No texto, ele analisa detidamente a questão, com amplo suporte de pesquisas científicas recentes, para chegar a uma conclusão nada agradável: “Ao prejudicar o ambiente, a medicina afeta a sociedade como um todo e prejudicará também as futuras gerações. Apesar da ética médica enfatizar a responsabilidade do profissional em relação ao paciente individual, cabe também ao profissional avaliar até onde suas ações afetam a sustentabilidade da própria medicina”, diz Brandt.

Para o médico e historiador econômico Eduardo Perillo, o tema medicina versus sustentabilidade chegou a um patamar “assustador” para o qual não bastam paliativos. “Hoje é consenso que pelo menos 25% das doenças humanas são causadas por fatores ambientais”, diz ele. “A contribuição do complexo industrial-hospitalar a esse percentual vem crescendo, apesar de esforços isolados para contê-la. O pior é que a indústria da saúde produz poluentes extremamente agressivos, incluindo metais pesados, contaminantes biológicos e uma série de outros elementos causadores de câncer, de mutações genéticas e de disseminação bacteriana, além de ser extremamente voraz em gasto energético e de outros recursos finitos. A grande questão é se não estamos salvando o paciente hoje para liquidá-lo no futuro”.

Para Perillo, as soluções existem e, embora não sejam simples, podem ser implantadas sem grandes impactos em termos de custos de longo prazo em toda a cadeia produtiva e de serviços de saúde. O que falta, diz ele, é informação – os profissionais da área, em todos os níveis, precisam assimilar essa situação – e determinação política. “Gestores da área, públicos e privados, precisam entender que não basta construir hospitais ou fábricas de medicamentos, para ficar apenas em dois exemplos do complexo, se ambos não forem rigorosamente corretos em termos ambientais. Há resíduos de medicamentos e de poluentes hospitalares na água bebida por centenas de milhões de pessoas no mundo, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo e até cidadezinhas do interior, além de carcinogênicos químicos derivados da queima de resíduos clínicos e de elementos radioativos gerados em hospitais espalhados pelo ar que se respira. Temos de nos mexer, e o momento é esse – o mercado de saúde não pode se dar ao luxo de continuar ignorando sua contribuição para a degradação ambiental”.

Os organizadores da obra

Eduardo Perillo é doutor em história econômica pela USP, mestre em administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e médico graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Eduardo Perillo trabalha desde a década de 80 com a educação continuada de executivos, além de desenvolver projetos e produção de estudos na área da saúde para organizações públicas e privadas no Brasil e no exterior. Maria Cristina Amorim é economista pela USP, doutora em Ciências Sociais pela PUC/SP na área de Política, professora titular do Departamento de Economia e coordenadora do núcleo de pesquisa em Regulação Econômica e Estratégias Empresariais da PUC/SP, Maria Cristina Amorim desenvolve atividades de pesquisa e assessoria junto ao segmento da saúde, como indústrias farmacêuticas e de materiais e equipamentos, além de hospitais e operadoras de planos de saúde.

EcoAgência

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