sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Veja em nível microscópico o que acontece quando um mosquito te pica
O vídeo abaixo parece mostrar uma agulha marrom tentando se enfiar no meio de um monte de cubos de gelo, certo? Bem, na verdade, trata-se da probóscide (sim, esse palavrão é o nome correto da “tromba” sugadora dos insetos) de um mosquito procurando vasos sanguíneos na pele de um rato.Esta cena foi capturada pela cientista Valerie Choumet e seus colegas do Instituto Pasteur, em Paris, que assistiram, através de um microscópio, mosquitos da malária picando um pedaço de pele de um rato anestesiado. Os vídeos resultantes fornecem um olhar sem precedentes do que exatamente acontece quando um mosquito pica um hospedeiro e bebe o seu sangue.Para começar, observe quão flexível é o aparelho bucal. A ponta pode quase se dobrar em ângulos retos e consegue ir se introduzindo entre as células do rato de uma forma verdadeiramente sinistra. Isso permite que o mosquito procure pelo sangue da vítima em uma grande área sem ter que retirar sua “boca” do local e recomeçar a busca em outra parte do corpo.
O cientista James Logan, da Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical e estudioso de mosquitos, confessa que ficou realmente surpreso ao ver as imagens. “Eu já tinha lido sobre a probóscide ser flexível dentro da pele, mas na verdade vê-la em tempo real foi excelente. O que supúnhamos que fosse uma estrutura rígida – porque ela tem que entrar na pele como uma agulha – é realmente flexível e totalmente controlável. As maravilhas do corpo do inseto nunca deixam de me surpreender”, diz.De longe, a probóscide de um mosquito pode se parecer com um único tubo, mas na verdade é um conjunto complicado de estruturas, envoltas em uma bainha chamada de lábio. Não é possível ver o lábio no vídeo, pois ele se contrai durante a picada dos insetos, permitindo que os seis aparelhos bucais dentro deslizem para dentro da pele do rato.
Quatro destes – um par de “mandíbulas” e um par de “maxilares” – são filamentos finos, que ajudam a perfurar a pele. Você pode observá-los melhor, nos lados da estrutura maior central, neste vídeo, que mostra o mosquito recolhendo a probóscide.O fim dos maxilares conta com lâminas como se fossem dentadas, o que dá a aderência necessária à carne, à medida que a estrutura mergulha no animal a ser picado. O mosquito pode empurrar estes partes para conduzir as outras peças bucais ainda mais profundo na pele.
A grande agulha central no vídeo, na verdade, são dois tubos paralelos: a hipofaringe, que envia a saliva para baixo, e o lábio, que bombeia o sangue para cima. Quando um mosquito encontra uma vítima, esses aparelhos bucais procuram por um vaso sanguíneo.
Normalmente, o mosquito precisa realizar várias tentativas, o que demora alguns minutos, para encontrar um. Inesperadamente, cerca de metade dos insetos que a cientista Choumet testou não conseguiu achar sangue. Enquanto todos foram capazes de picar, alguns falharam em realizar a sucção.O vídeo acima mostra o que acontece quando um mosquito finalmente encontra e penetra um vaso sanguíneo. Em média, eles bebem durante cerca de 4 minutos. A equipe de Choumet conseguiu captar o momento em que se veem as células vermelhas do sangue sendo sugadas pelas peças bucais do mosquito. Ele chupa com tanta força que os vasos sanguíneos começam a entrar em colapso. Alguns deles se rompem, derramando sangue para os espaços vizinhos. Quando isso acontece, o mosquito, por vezes, se aproveita e bebe diretamente da poça de sangue recém-criada.
Os cientistas descobriram que os mosquitos infectados com o parasita plasmódio, que causa a malária, passam mais tempo procurando por vasos sanguíneos. Não está claro por quê – os parasitas podem controlar o sistema nervoso do inseto ou alterar a atividade dos genes em seu aparelho bucal. De qualquer maneira, os mosquitos infectados não desistem facilmente da busca por sangue, o que, presumivelmente, aumenta as chances de que o parasita entrará em um novo hospedeiro.
Muitas horas depois de uma mordida, a equipe de Choumet encontrou o plasmódio na pele dos roedores, amontoados em áreas que também tiveram contato com com a saliva do mosquito. O mosquito começa a salivar assim que penetra na pele do rato, liberando substâncias que impedem a constrição dos vasos sanguíneos, a coagulação do sangue e também previnem a inflamação do local.
Às vezes, segundo relatos de Choumet, ela pôde enxergar a saliva como pequenas bolhas que pairavam em torno das pontas do aparelho bucal. E mesmo depois que o mosquito já se alimentou, bolsões de saliva permanecem nas camadas inferiores da pele do animal picado. Os plasmódios parecem ficar no mesmo lugar – os cientistas investigam se eles trabalham em conjunto com os produtos químicos salivares para suprimir o sistema imunológico do rato.
A equipe também testou ratos “imunizados”, que tinham recebido anticorpos que reconhecem a saliva do mosquito. “Algumas pessoas, especialmente na África e na Ásia, são mordidas várias vezes todos os dias, por isso queríamos saber se os mosquitos se comportam de maneira diferente quando picam animais que haviam sido imunizados contra a sua saliva”, conta Choumet.
Ela descobriu que os anticorpos reagiram com a saliva do inseto durante uma mordida, formando aglomerados brancos visíveis nas pontas da probóscide. Isso entupiu vasos sanguíneos menores, o que impediu os mosquitos de tirar o sangue deles. No entanto, os insetos solucionaram esse problema ao penetrar mais fundo na pele e procurar por vasos sanguíneos maiores.
Apesar dos vídeos impressionantes, essas descobertas em si provavelmente não levarão ao desenvolvimento de novas formas de prevenir ou tratar a malária. Entretanto, essa pesquisa nos diz muito sobre o evento inicial de todos os casos de malária: a picada de mosquito. Trata-se de um recurso que outros pesquisadores, sem dúvida, usarão em seus próximos estudos.
“Eu pretendo iniciar uma nova pesquisa para investigar aspectos das interações entre mosquitos, hospedeiros e parasitas”, conta James Logan. “As técnicas e as descobertas deste estudo recém-divulgado são muito empolgantes para mim e serão de grande utilidade para as atividades futuras do meu próprio grupo de pesquisa”. [National Geographic]
VEJA OS VIDEOS
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