sábado, 24 de agosto de 2013
Falta de estrutura dificulta implementação de educação ambiental
Fundada na Cidade de Goiás, a Escola Pluricultural Odé Kayodê é tida como exemplo na área de educação ambiental. Ali, crianças de entre 3 e 10 anos aprendem na prática como é o ciclo das plantas num jardim plantado por elas mesmas. Também conhecem a vida no campo, em uma fazenda próxima, e aprendem sobre conservação da água em um rio que passa atrás da escola.
Há 15 anos, o tema sustentabilidade está presente em todas as disciplinas. “Em uma prova de matemática, você tem que saber qual o resultado de três árvores mais duas árvores. É assim que a gente tem meio ambiente em tudo”, explica a educadora Emicléia Alves Pinheiro
O Ministério da Educação (MEC) quer que, assim como no colégio de Cidade de Goiás, a educação ambiental passe a fazer parte do cotidiano de todas as instituições de ensino do país. A escola, no entanto, é exceção. Transformar o tema em uma realidade ainda é um projeto distante em praticamente todas as cidades brasileiras.
Apenas 0,5% dos colégios públicos teriam condições hoje de cumprirem com as diretrizes de educação ambiental, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Faltam professores, infraestrutura e investimento para fazer com que as Diretrizes Curriculares para a Educação Ambiental, aprovadas em 2012 durante a Rio +20, saiam do papel.
“A maioria dos professores têm muita vontade. Muitos já têm até algum conhecimento, mas não possuem recursos. As verbas para as escolas são restritas e até para treinamentos, nós temos que oferecer os materiais em vários casos”, diz Miriam Duailibi, presidente do Instituto Ecoar, que forma professores em todo o país.
Falta de pessoal – O desenvolvimento da educação ambiental é uma necessidade para todas as regiões brasileiras, segundo o MEC. Nordeste e Norte são apontados como as áreas que demandam maior atenção para incentivo desse tipo de iniciativa, por causa das condições de infraestrutura e de gestão das escolas.
Para atender às exigências do MEC, muitas unidades comprometem outras disciplinas. “Em alguns lugares, eles tiram uma aula de ciências, por exemplo, e colocam uma de educação ambiental. O problema é que nem sempre há profissional qualificado para isso. Não é possível trabalhar transversalmente com a estrutura de hoje”, afirma o secretário de assuntos educacionais do CNTE Heleno Araújo.
A falta de tempo é outro aspecto que impacta o processo, segundo especialistas. “O professor tem de trabalhar em várias escolas, para poder sobreviver, o que não permite que invista em sua especialização e atualização. É necessária formação continuada destes professores, investir em sua valorização profissional”, comenta o pós-doutor em educação ambiental, Luiz Fernando Silveira Guerra.
A realidade vai de encontro ao que as diretrizes determinam. Resultado de cinco anos de debates entre educadores ambientais, legisladores e sociedade, elas estabelecem o tema como prioritário, que deve ser tratado de forma transversal.
“Não pode ser trabalhada de forma isolada. Em todas as aulas seria necessário haver lições que abordem este tema, para estabelecer um convívio harmônico e integrado com o meio ambiente”, explica Duailibi.
Iniciativas isoladas – Apesar de existir um movimento governamental que incentiva a inserção do tema educação ambiental em todos os níveis, os projetos existentes ainda são ações pontuais. Guerra afirma que “maior parte das iniciativas ainda ocorre em projetos e atividades extra-curriculares, com a participação de poucos professores”. Em muitos casos, eles são incentivados por organizações civis e com apoio da comunidade escolar.
Exemplo disso pode ser visto em Joinville (SC). Através da parceria entre professores, alunos, funcionários, pais e a comunidade local, a realidade do Centro de Educação Infantil Municipal Raio de Sol foi transformada. A partir de 2010, áreas antes de cimento ganharam vida ao receberem espaços como lagoa, jardim, horta e pomar.
“As crianças não podiam andar descalças, porque tudo era de cimento e brita. Agora, elas têm vários espaços onde podem interagir com a natureza”, comenta Marlene Malschitzky, supervisora gestora da Secretaria Municipal de Educação.
O Ministério da Educação reconhece que ações como esta ainda precisam de mais incentivo. A entidade garante que ainda falta investimento e estrutura.
“A maioria das escolas ainda está às voltas com questões, que embora de caráter socioambiental, não são reconhecidas como tal, como espaços físicos insuficientes, inadequados e mal aparelhados. Há escolas, por exemplo, que não dispõem de água corrente, coleta de esgotos ou prédio próprios. Há também uma grande dificuldade dos educadores e gestores públicos em converterem as questões socioambientais em pauta, seja nas aulas, seja fora delas, promovendo o enfoque transversal”, destaca Macaé Evaristo, secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC.
De acordo com ela, são realizados investimentos em seminários e formação continuada de professores, para garantir o aprofundamento no tema. Além de projetos para disponibilizar recursos em projetos nessa área. Ela também destaca que é realizada a Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente, que reúne professores e alunos de todo o país em eventos regionais e nacionais, para debater a educação ambiental. (Fonte: Terra)
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