sábado, 24 de agosto de 2013
Carlos Nobre alerta para extinções que serão causadas pelas mudanças climáticas
Pesquisador afirmou ainda que a maioria dos céticos estão ligados à indústria dos combustíveis fósseis e adotam a estratégia dos lobistas do tabaco dos anos 1970, buscando confundir a opinião pública para ganhar tempo para o setor que defendem
Em sua participação no programa Roda Viva da TV Cultura, o Secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Carlos Nobre, destacou que muitas espécies não conseguirão sobreviver às mudanças climáticas.
“Nós somos muito adaptáveis. É claro que uma grande mudança climática traz impactos, ela afeta os mais pobres e vulneráveis, mas é muito possível que nós, como sociedade humana, consigamos superá-la. Quem não vai conseguir superar é um grande porcentual das espécies”, disse Nobre.
“Os cenários do IPCC, de 2007, e que agora estão bem mais refinados, serão apresentados no relatório de 2014 sobre os impactos [das mudanças climáticas]. Eles trazem números muito preocupantes. Com um aumento de 4oC, até 40% de todas as espécies estarão ameaçadas”, completou.
O pesquisador citou o exemplo dos recifes de Coral, que com um aumento de 2oC nos oceanos devem desaparecer em até 80%.
Nobre falou muito sobre a transição para uma economia de baixo carbono e sobre a necessidade de alterarmos a matriz para fontes renováveis.
“O Brasil é o segundo, talvez até o primeiro, país em potencial de energia renovável quando consideramos todas as fontes; solar, eólica, marés, biomassa (...) Esse potencial deve ser utilizado (...)O país pode chegar em 2050 com 80% de energias absolutamente renováveis.”
O IPCC está preparando a apresentação do seu quinto relatório para o próximo mês, que deve, segundo Nobre, trazer um novo fôlego para as políticas climáticas.
“Tenho convicção que este relatório vai ter um impacto talvez da mesma ordem do de 2007 (...) A certeza científica [sobre o papel do homem no aquecimento global] só tem aumentado. Não temos nenhuma explicação melhor para a elevação das temperaturas, principalmente nas últimas décadas, do que as emissões cumulativas de gases do efeito estufa”, afirmou.
Sobre os céticos das mudanças climáticas, Nobre aproveitou para diferenciar os especialistas sérios daqueles que agem por interesses variados.
“Há de tudo nesse meio dos céticos ou negacionistas. Alguns são bons pesquisadores, que têm um natural ceticismo com relação ao consenso científico. Essa postura individual de cientistas é saudável. São pessoas que questionam grandes consensos e ajudam muito a ciência a avançar. Mas esses são uma pequena, muito pequena, porcentagem dos céticos”, declarou.
“O grande número de céticos está nos Estados Unidos e a maioria não é cientista da área climática. São pessoas ligadas aos lobbies da economia fóssil. Eles estão fazendo o mesmo que alguns pesquisadores da área médica fizeram nos anos 1970 sobre a questão do tabaco. Eles estão aí para confundir. Com o lobby do tabaco deu certo. A não regulamentação do cigarro durou mais dez anos. É o mesmo agora, e a estratégia está funcionando. Os EUA têm muita dificuldade em passar leis vigorosas para promover uma economia menos dependente dos combustíveis fósseis.”
“Pesquisas mostram que dos milhares de cientistas que publicam trabalhos na área climática, 98,7% não têm dúvida da origem antrópica das mudanças climáticas”, concluiu.
Autor: Fabiano Ávila - Fonte: Instituto CarbonoBrasil
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