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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Estrago causado por meteorito na Rússia poderia ser muito pior

Usando uma variedade de vídeos colaborativos, informações provenientes do Google Earth e dados de sensores que servem para a interdição de testes nucleares, cientistas obtiveram uma imagem muito mais precisa da queda do meteorito perto da cidade russa de Chelyabinsk em 15 de fevereiro. O que fica mais claro, porém, é que mesmo que Chelyabinsk não tenha conseguido exatamente escapar do meteorito, a cidade teve sorte de ter sido atingida apenas de raspão por ele. “O povo de Chelyabinsk teve muita sorte”, disse Edward Lu, ex-astronauta que atualmente chefia a Fundação B612, uma iniciativa privada dedicada a detectar asteroides desse mesmo tipo, em uma audiência realizada na semana passada no Congresso dos Estados Unidos sobre as ameaças vindas do espaço. O meteorito russo – que, de acordo com as últimas estimativas, tinha cerca de 18 metros de diâmetro e chegou ao espaço aéreo sem ser detectado a cerca de 67 mil quilômetros por hora – estava a quase 25 quilômetros de altura quando explodiu. Não houve mortes, e a maioria das 1.500 pessoas machucadas se feriu com pedaços de vidro, quando janelas se quebraram após uma onda de choque atingir a cidade 88 segundos depois. “Se ele tivesse explodido mais perto da terra, teria sido pior”, disse Margaret Campbell-Brown, membro de uma equipe de pesquisadores da Universidade do Oeste de Ontario que analisou a órbita do meteoro e as características da explosão. O que também ajudou foi o fato de que o meteoro era pedregoso – o que os cientistas chamam de condrito ordinário – e não um mais raro de ligas de ferro e níquel, caso em que ele poderia ter chegado ao solo antes de explodir. A explosão envolveu a maior bola de fogo vista desde o evento de Tunguska, ocorrido em 1908, e à medida que vídeos provenientes de sistemas de vigilância, de câmeras montadas em automóveis e gravados por celulares começaram a ser rapidamente publicados na Internet, ficou evidente que essa explosão seria estudada como nenhuma outra, com cientistas e blogueiros amadores se apressando para analisar as imagens. O evento de Tunguska ficou marcado pela explosão do que geralmente se acredita ser um meteorito sobre uma parte remota da Sibéria central. Esse objeto pode ter entrado na atmosfera em um ângulo mais inclinado que o de Chelyabinsk – que ficou a um ângulo de menos de 20 graus em relação à horizontal – e explodiu a cerca de oito quilômetros acima do solo. A altitude mais baixa, assim como a maior dimensão da rocha de Tunguska, ajuda a explicar por que ela teve um impacto muito maior, aplainando árvores em uma área do tamanho da região metropolitana de Washington. A equipe canadense calculou que a energia liberada na explosão de Chelyabinsk teve o equivalente a cerca de 440 quilotons de TNT, ou cerca de 30 vezes a potência da bomba de Hiroshima. Esse cálculo foi feito com a ajuda de dados de uma rede de sensores acústicos criados para monitorar o cumprimento do tratado de interdição dos testes de armas nucleares. Há cerca de 45 desses sensores em todo o mundo, detectando os chamados infrassons a frequências bem abaixo das captadas pela audição humana. Thomas Muetzelburg, porta-voz da Comissão Preparatória da Organização do Tratado de Interdição Completa de Testes Nucleares, sediada em Viena, disse que a explosão foi detectada por mais de 20 dos sensores, incluindo um baseado na Antártica, a cerca de 16 mil quilômetros de Chelyabinsk. Sons de baixa frequência não se dissipam facilmente, motivo pelo qual alguns dos detectores captaram a explosão mais de uma vez, já que o som deu a volta ao mundo várias vezes. Com o conhecimento da energia e informações sobre o quão rápido o meteoro estava se deslocando, os pesquisadores puderam calcular a massa do meteoro: cerca de 11 mil toneladas. “Tudo se resume à energia cinética desse corpo”, que está relacionada com sua massa e velocidade, disse Richard P. Binzel, cientista planetário do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O meteoro tem certa quantidade de energia ao entrar na atmosfera, disse Binzel. Assim que ele atinge o ar, começa a desacelerar rapidamente e, em seguida, o diferencial de pressão entre o ar superpressurizado na frente e o ar menos pressurizado na parte de trás faz com que a rocha se parta violentamente. “Toda essa energia cinética tem de ser liberada”, disse ele. Apenas pequenos fragmentos do meteoro atingiram a terra, e alguns foram levados para laboratórios nos Estados Unidos, incluindo o Instituto de Magnetismo de Rochas da Universidade de Minnesota, onde um cientista russo está estudando suas propriedades magnéticas. Como outras equipes, os pesquisadores canadenses usaram imagens em vídeo do percurso que o meteoro seguiu de leste a oeste sobre Chelyabinsk, a fim de ajudar a calcular sua trajetória e órbita. Como a explosão ocorreu à luz do dia, Campbell-Brown disse que eles pediram a um colega que estava na área para tirar fotos noturnas dos mesmos locais. Ao sobrepor as imagens da trajetória do meteoro às imagens da noite estrelada, os pesquisadores devem conseguir traçar com ainda mais precisão o caminho que ele percorreu. Por enquanto, porém, essa e outras equipes, incluindo uma da Universidade de Antioquia, em Medellín, na Colômbia, concordam que o meteoro se originou na parte interna do cinturão de asteroides, em uma órbita regular e inofensiva ao redor do sol, entre Marte e Júpiter. Não se sabe como ele veio a assumir uma órbita irregular, que cruzou a Terra, mas como outros objetos que passam pela Terra, ele provavelmente sofreu influência da gravidade de Júpiter ou outro planeta em algum momento. Em seguida, circundou o Sol por completo a cada 18 meses em uma órbita altamente excêntrica – mais de 2 1/2 vezes a distância da Terra ao Sol em seu ponto mais afastado, perto da órbita de Vênus em seu ponto mais próximo – antes de atingir a atmosfera da Terra. Jorge Zuluaga, membro do grupo colombiano, disse que foi inspirado pelo trabalho feito logo após o evento por Stefan Geens, um blogueiro de Estocolmo. Geens utilizou vários vídeos – incluindo um feito com uma câmera na Praça da Revolução, no centro de Chelyabinsk – para triangular a trajetória. O vídeo não mostra a explosão diretamente, mas sim as sombras dos postes de luz (e de uma enorme estátua de Lênin) que se moviam assim como a sombra de um relógio de sol à medida que a bola de fogo cruzava o céu. Usando o Google Earth, é fácil identificar as coordenadas da câmera que estava na Praça da Revolução e de outras. Zuluaga disse que sua equipe, que incluiu Geens como coautor em sua mais recente publicação, está trabalhando para aprimorar seus cálculos por meio, entre outras coisas, do conhecimento da ótica das câmeras de vídeo. “Estamos tentando entender a distorção com a qual estamos lidando”, disse ele. Zuluaga acredita que mais cedo ou mais tarde será possível reconstruir a órbita da rocha com tanta precisão que os pesquisadores podem conseguir detectá-la retroativamente, debruçando-se sobre imagens de telescópios que mapeiam o céu, feitas na última vez que ele transitou nas proximidades da Terra. “Poderemos então atribuir-lhe um nome”, disse ele. “Como se trata de um asteroide morto, ele ainda não tem nome”. Além de ajudar os cientistas a identificarem o percurso do meteoro, os vídeos que foram postados na Internet contribuíram para aumentar o interesse em projetos de detecção de asteroides antes que eles atinjam a Terra. Em entrevista realizada após seu depoimento ao Congresso, Lu disse que a sua fundação, que quer colocar em órbita um telescópio financiado pela iniciativa privada dentro de cinco anos, passou a receber bem mais doações desde a explosão. “Foi um evento que tornou a queda de meteoros mais real para as pessoas”, disse ele. “Nada como uma centena de vídeos do YouTube para fazer isso.” (Fonte: Portal iG)

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