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sexta-feira, 22 de março de 2013

Conceito de água virtual aumenta alerta sobre escassez

Pesquisadores desenvolveram uma forma de calcular toda a água consumida pelo ser humano. Isso inclui o uso para hidratação e higiene, além do que é utilizado na produção de bens de consumo, o que geralmente não é notado. Você já pensou na quantidade de água que consome? De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa gasta em média 39,6 m³ de água por ano (cerca de 110 litros por dia), de forma direta. Esse é o volume considerado para atender às necessidades de ingestão, higiene pessoal, preparação de alimentos e limpeza em geral. Mas o que não se leva em consideração é a água utilizada no processo de produção de tudo que se consome, como alimentos, roupas, livros, carros. Esse consumo indireto é denominado “água virtual” e tem chamado a atenção de especialistas, ao demonstrar que a demanda desse recurso é muito maior do que se imagina, e a velocidade com que a disponibilidade tem diminuído, também. Essa teoria foi introduzida pelo britânico Tony Allan em 1993. Trata-se de uma definição simples, segundo a qual o volume de água utilizado na produção de qualquer bem ou produto, seja de origem animal, vegetal ou mineral, é considerado água virtual. No setor produtivo, a água é dividida em verde (chuva), azul (na superfície e debaixo da terra) e cinza (poluída). Para se ter uma ideia, produzir 1kg de carne bovina demanda 15 mil litros de água. Para 1kg de arroz são necessários 2,5 mil litros, e para uma calça jeans, mais 10 mil. Esses são apenas exemplos de como a quantidade de água de fato usada pelo ser humano é bem maior do que os 110 litros diários estimados pela ONU. Sem mencionar que, se cada pessoa do planeta adotasse o padrão de consumo dos países desenvolvidos, precisaríamos de muito mais água. Só a produção de alimentos demandaria 75% a mais do recurso natural, de acordo com o relatório do Conselho Mundial da Água. Pegada hídrica – Os pesquisadores Arjen Hoekstra e Mesfin Mekonnen, da Universidade de Twente, na Holanda, fizeram um estudo para mapear a “pegada hídrica” de cada indivíduo, empresa, comunidade ou nação. O cálculo do consumo e da poluição diretos ou indiretos da água doce tem o objetivo de auxiliar governos a estabelecer políticas e metas para produção, a fim de racionar o uso global da água. Segundo os cálculos, a média global por pessoa sobe para 1.385 m³/ano de água (cerca de 3.794 litros por dia). Mas este número depende do país e seu padrão de consumo. Em países desenvolvidos, o consumo varia de 1.258 a 2.842 m³/ano, sendo as extremidades representadas por Reino Unido e Estados Unidos, respectivamente. Já em países em desenvolvimento, a diferença é bem maior: a pegada hídrica da República Democrática do Congo é de 552 m³/ano, já a da Mongólia, de 3.775 m³/ano. No Brasil, a pegada per capita é de 2.027 m³/ano. Essa nova forma de medir o consumo de água está sendo discutida pelos governos e é considerada como instrumento estratégico na definição de políticas para o uso da água. Isso poderá ter um grande impacto em países como o Brasil, devido à sua grande produção agrícola, setor que, segundo dados da Unesco, consome 92% da água virtual utilizada no planeta. O comércio virtual de água – A comercialização de recursos hídricos indiretos também deve ser levada em consideração pelos governos e autoridades internacionais. Isso porque quando um país compra algo do exterior, ele também está importando, virtualmente, a água usada no processo de produção. Isso lhe dá a vantagem de poupar seus recursos naturais, em detrimento dos alheios. Uma nação pode usar como estratégia, seja por economia ou por escassez, comprar produtos que demandam maior quantidade de água no processo. Mas no mundo globalizado, todos os países são importadores de água, e a maioria também é exportadora, mesmo as nações que têm pouca disponibilidade desse recurso, a exemplo do Oriente Médio, que exporta alimentos. A expectativa é que haja uma reorganização no comércio internacional da água virtual, levando em consideração sua escassez, o que tornaria possível o uso racional do líquido em escala mundial. Países com bastantes reservas deveriam produzir aquilo que necessita de muita água e então exportar, equilibrando assim o consumo no planeta. De acordo com a publicação de Hoekstra e Mekonnen, 76% do comércio de água virtual está relacionado à produção de vegetais e seus derivados. Produtos de origem animal e industrializados representam 12% cada. O artigo também relata que os maiores exportadores no segmento são os Estados Unidos, China, Índia e Brasil, respectivamente. A lista de maiores importadores traz novamente os EUA em primeiro lugar, seguido de Japão, Alemanha, China e Itália. (Fonte: Terra)

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