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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sede de quê?

Água engarrafada é um dos mercados que mais crescem no planeta, mas além de pouco acessível tem fortes impactos ambientais na produção e no descarte

Responda rápido: qual é o mais dinâmico setor da indústria de alimentos e bebidas e que tem crescido firmemente nos últimos anos? É o de água engarrafada. O mercado de garrafinhas de água, fáceis de carregar e mais disponíveis que bebedouros públicos, cresce em média 12% ao ano, segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas), apesar de o preço do litro engarrafado chegar a 2.000 vezes o litro da boa e velha água “torneiral” tratada e potável.

E a cada nova garrafa aberta, o impacto não é só na sede de quem bebe, mas nos recursos e energia gastos na captação, industrialização, distribuição e no acúmulo de garrafas plásticas descartadas.

A mesma quantidade de água bebida do filtro ou da torneira, nas cidades com tratamento eficiente, além de muito mais barata, polui menos por não passar por industrialização, gasta menos energia e emite menos gases de efeito de estufa, já que o plástico é feito de petróleo e as garrafas viajam, em geral, centenas de quilômetros até chegar ao consumidor. Você já analisou o rótulo da sua água mineral?...

Dados da ONU divulgados em 2003, no Ano Internacional da Água, apontavam que a água engarrafada no mundo movimentava 89 bilhões de litros e 22 bilhões de dólares por ano.
Em média, cada um dos 6 bilhões de habitantes do planeta toma 15 litros de água engarrafada por ano. Isso é só uma média, porque mais de um bilhão de pessoas não têm acesso a nenhuma água potável, mais de 10 milhões só no Brasil. Segundo a ONU, os europeus ocidentais são os principais consumidores: quase metade da água da água engarrafada no planeta é consumida na Europa Ocidental, algo como 85 litros por pessoa a cada ano.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), apesar de certas águas minerais serem úteis na oferta de micro-nutrientes essenciais, como cálcio, não há diretrizes indicando a recomendação de concentrações mínimas de minerais. Há também incerteza ao redor do fator nutricional mineral da água engarrafada em relação à água da torneira, contendo, ambas, certas quantidades de minerais.

A água de torneira vem em sua maior parte de fontes disponíveis, como rios e lagos, já a água engarrafada se origina de fontes protegidas (75% vêm de aquíferos no subsolo e nascentes).

Enquanto se expande no planeta o consumo engarrafado, a ONU lembra que a qualidade da água em todo o mundo é ameaçada pelo crescimento populacional e pela expansão das atividades industrial e agrícola e que as sociedades e governos precisam equacionar as questões relacionadas a manutenção de fontes limpas e ao acesso universal a esse bem.
“Se o planeta de 6 bilhões de pessoas deve chegar a 9 bilhões até 2050, precisamos ser mais inteligentes coletivamente sobre como gerenciamos nosso lixo, incluindo resíduos líquidos", disse Achim Steiner, subsecretário-geral e diretor-executivo do programa de meio ambiente da ONU.

Impactos
Cerca de um quarto da água engarrafada no mundo, é consumido fora do país de origem, o que impacta nas emissões de dióxido de carbono de efeito estufa, além do transporte dentro dos territórios nacionais. O plástico é feito de petróleo e gás natural, e mais de 1,5 milhão de toneladas de plástico são usados para fabricar a garrafas PET para a água.

A garrafa PET gasta menos energia na reciclagem do que o vidro ou alumínio e libera menos emissões na atmosfera. O problema é que os índices de reciclagem de garrafas de água são muito baixos. A maior parte das garrafas plásticas vai parar nos aterros sanitários pelo mundo. Só nos EUA são descartadas 50 bilhões de embalagens plásticas de água por ano. Menos de 10% são recicladas. São cinco minutos para matar a sede e centenas de anos para se decompor nos aterros ou pior: jogadas na natureza.

Comparadas à água da torneira as águas engarrafadas não são uma alternativa sustentável. O consumidor responsável pode, no entanto, tomar algumas medidas com as garrafinhas para reduzir seus impactos de consumo. Como todo produto industrializado, a primeira medida para economia de recursos e energia é reduzir o consumo. Reusar as garrafas de água é fundamental para diminuir o descarte; se o reuso não for possível, reciclar deve ser a alternativa.

Pessoalmente, cada consumidor já ajuda a reduzir impactos; coletivamente, é possível exigir aos governos locais programas públicos de reciclagem, além da chamada logística reversa, tendência mundial de gestão de resíduos, pela qual os fabricantes devem se obrigar a recuperar as embalagens de seus produtos, a exemplo do que já acontece com óleos lubrificantes e tintas para construção civil.

Para apimentar as discussões sobre o engarrafamento de água, o filme The Story of Bottled Water, lançado no último Dia Mundial da Água (22 de março) critica o processo de produção da água engarrafada e como isso pode afetar o meio ambiente. A maior parte da água engarrafada comercializada no mundo é feita por empresas transnacionais, e o filme culpa essas corporações por criar uma falsa demanda pela água engarrafada, mesmo em lugares que têm rede de água e de boa qualidade.

Água de beber
Água Mineral Natural
Essa é uma água do subsolo protegida contra poluição e caracterizada por um constante nível de minerais e elementos peculiares. Essa água não pode ser tratada, nem ser acrescida de minerais ou quaisquer elementos exógenos, tais como sabor ou aditivos.

Água de mina
Água engarrafada derivada de uma formação subterrânea, da qual a água corre naturalmente para a superfície da Terra. Águas de nascentes precisam ser coletadas apenas na fonte ou através de canos que penetram a formação subterrânea. A água de diferentes minas pode ser vendida com a mesma marca.

Água purificada
Água subterrânea ou de superfície que foi tratada para ficar adequada para o consumo humano. Difere da água de torneira apenas pela maneira em que é distribuída (em garrafas e não por tubulações) e por seu preço.

Água artesiana
Água de poços que chegam ao aqüífero, nos quais o nível da água é mais alto do que o topo do aqüífero.

Água gasosa
Depois de tratada e possível aplicação de dióxido de carbono, contém a mesma quantidade de dióxido de carbono que teria na fonte (não confunda com soda, água ´seltzer´ ou tônica).

Água de poço
Água de um poço pouco profundo, que toca a água do aqüífero.


Fonte: ONU (http://www.wateryear2003.org)

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