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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Frigoríficos não cumprem meta ambiental

Quase um ano após a publicação do relatório do Greenpeace que aponta a pecuária como principal vetor do desmatamento na Amazônia, os frigoríficos avançaram no processo de cadastrar e monitorar seus fornecedores no bioma. Mas ainda não conseguem rastrear 100% da cadeia e estão revendo os prazos do compromisso assinado com a ONG em outubro de 2009.


Em outubro do ano passado, a promessa dos frigoríficos era cadastrar seus fornecedores dentro de um prazo de 180 dias. Os principais frigoríficos que têm fornecedores de carne na Amazônia, como Marfrig, Minerva e JBS Friboi, pediram mais três meses de prazo para concluir o monitoramento de suas cadeias.

Na última reunião dos frigoríficos com o Greenpeace, no início do mês, representantes da indústria alegaram dificuldades no rastreamento da cadeia. "Enquanto os frigoríficos que têm fornecedores não monitorarem 100% da cadeia, será impossível afirmar que não existe mais gado em área de desmatamento", diz Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace.

O frigorífico Marfrig, que tem boa parte de seus fornecedores localizados no Mato Grosso, conseguiu mapear pouco mais de 80% das fazendas fornecedoras localizadas no bioma amazônico. O diretor de sustentabilidade do Grupo Marfrig, Ocimar Villela, estima que os três meses a mais de prazo serão suficientes para chegar a 100% de fornecedores rastreados. "O processo está evoluindo. Há dificuldades, pois o processo também depende da vontade das fazendas", diz.

Regularização. Para monitorar a cadeia, as fazendas precisam fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro eletrônico das propriedades nos órgãos ambientais. É por meio do CAR que é feito o georreferenciamento das propriedades e é possível verificar se está havendo desmatamento ilegal. Segundo Villela, um dos meios para estimular a regularização das fazendas é reduzindo a burocracia. O Marfrig também premiará, com viagens à Copa do Mundo na África do Sul, os fornecedores com melhores práticas ambientais. "A grande tarefa é mostrar ao mundo que o Brasil pode ter produção de carne com sustentabilidade", diz. Segundo o executivo, cresceu a pressão por parte das multinacionais que compram couro, como Nike, Adidas e Timberland.

A JBS Friboi, maior frigorífico do mundo e que recentemente comprou o Bertin, afirma em nota que está avançando no monitoramento dos fornecedores. "A JBS comprometeu-se a obter os pontos georreferenciados de 100% de seus fornecedores diretos localizados no Bioma Amazônico nos próximos 90 dias, e está realizando monitoramento via satélite ", diz. A área a ser monitorada possui cerca de 1,6 milhão de km² - mais de seis vezes o tamanho do Estado de São Paulo.

Otávio Cançado, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), argumenta que houve um grande avanço por parte dos frigoríficos até agora. "As áreas que a gente não tem georreferenciamento são de difícil acesso ou para chegar lá era preciso passar por parques nacionais", disse.

De acordo com ele, o cenário é mais complicado no Pará, onde há vários problemas para regularizar a situação fundiária.

Os frigoríficos já fizeram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal no Pará e, em maio, deverão firmar outro no Mato Grosso.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100428/not_imp543934,0.php

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