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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Quem paga o pato do desequilíbrio ambiental?

Já está circulando a revista ECO 21 de janeiro de 2014. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e o índice da edição. Editorial A gigantesca mancha de algas mortas que se espalhou por 800 km ao longo da costa do Brasil, desde o Rio de Janeiro até Santa Catarina, é mais um sinal das graves mudanças que estão acontecendo na biosfera. A campanha de negação da responsabilidade antrópica pelas mudanças climáticas, liderada por cientistas simpaticamente denominados “céticos”, é organizada nos EUA por poderosas empresas ligadas ao mundo do petróleo, minério, energia atômica e parte do setor financeiro baseado em Wall Street, assim como também por políticos conservadores vinculados ao ultradireitista Tea Party. Eles se empenham, há mais de uma década, em financiar relatórios e artigos pseudocientíficos questionando os relatórios do IPCC. Segundo o The Guardian estes grupos, liderados principalmente pelas Fundações Koch e ExxonMobil, gastam mais de US$ 1 bilhão por ano para negar as conclusões de climatólogos e cientistas do mundo inteiro. O sociólogo Robert Brulle, um especialista no que ele denomina de “contramovimento sobre as mudanças climáticas”, identificou 91 organizações que atuam sistemática e publicamente na disseminação do ceticismo sobre as alterações do clima, inclusive impedindo ações políticas que as combatam. Os irmãos Charles e David Koch foram os principais articuladores do fracasso da COP-18 da UNFCCC, em Doha, e controlaram a COP-19 realizada em Varsóvia no final do ano passado. A situação foi tão grave que a maioria dos representantes da sociedade civil optou por se retirar da Conferência num gesto inédito no âmbito de uma COP. Segundo as ONGs presentes, entre elas a Vitae Civilis, do Brasil, “o Governo polonês, não apenas permitiu que corporações altamente poluidoras patrocinassem a COP-19 estampando seus logos por todos os lados, mas chegou ao ponto de se aliar à Associação Mundial do Carvão para sediar uma grande cúpula, lado a lado com as negociações sobre o clima. É o mesmo que montar uma feira de armamentos junto com uma conferência mundial de paz”. Fatos semelhantes são previstos para os outros encontros da ONU, principalmente sobre recursos hídricos, oceanos e florestas. É importante destacar que a ação inibitória dos grupos liderados pela Fundação Koch e Exxon-Mobil se concentrou mais entre os políticos do que entre os ambientalistas. Brulle está analisando este novo fenômeno comparando os recursos financeiros de ambos; ele explica que “embora o movimento ecologista tenha capacidade maior de captação de fundos do que os céticos das mudanças climáticas, a diferença está na forma de como se gasta esse dinheiro. Os ambientalistas, que recebem as doações da sociedade civil, procuram investir no desenvolvimento de soluções sustentáveis, como apoiar a indústria de painéis solares na China, garantir que as pessoas tenham um forno solar na Índia e outras coisas do mesmo gênero; raramente gastam dinheiro em ações políticas, que é o grande alvo dos pagamentos feitos pelos empresários do contramovimento dos céticos do clima”. Ou seja, a grande diferença encontrada por Brulle é que “enquanto os movimentos ambientalistas realmente tratam de desenvolver soluções tecnológicas nos lugares mais necessitados, o outro está empenhado na ação política para atrasar qualquer tipo de ação”. E essa deve ser a grande mensagem de Florentijn Hofman quando faz as instalações com seu famoso “Rubber Duck”, o gigantesco pato de borracha inflável que esteve em 2008 numa mostra do SESC Interlagos de São Paulo. No final das incalculáveis contas geradas pelo desequilíbrio ambiental, todos nós seremos penalizados; todos nós pagaremos o pato. Gaia viverá! por Lúcia Chayb e René Capriles, da Eco21

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