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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Criado site para denúncias de tráfico de biodiversidade

Um grupo de organizações internacionais que combatem o tráfico ilegal de biodiversidade inaugurou um site que busca facilitar denúncias de crimes contra a natureza. O WildLeaks é o primeiro portal na internet onde, segundo explicaram seus criadores, indivíduos ou grupos podem revelar de modo seguro e anônimo informação sobre comércio ilegal de espécies silvestres. Estima-se que no mundo este tráfico represente US$ 17 bilhões ao ano, e que parte dessa quantia seja usada para financiar organizações terroristas, particularmente na África. Apresentado oficialmente no dia 6, o WildLeaks é financiado pela Liga de Ação pelos Elefantes e administrado por vários ex-funcionários de segurança, jornalistas e organizações ambientalistas não governamentais dos cinco continentes. “O objetivo do WildLeaks é facilitar a prisão e o julgamento de traficantes, personalidades corruptas do governo e qualquer um que esteja por trás de um crime florestal e contra a biodiversidade”, explicou à IPS Andrea Crosta, cofundador da Liga e figura central da iniciativa WildLeaks. Todo indivíduo que presenciar um crime contra a natureza ou que possua qualquer tipo de informação relacionada – documentos, arquivos, imagens ou vídeos – pode usar o site para transmitir esses dados ao WildLeaks, usando qualquer das duas vias criptografadas. A rota criptografada, totalmente anônima, emprega a tecnologia Tor, mais conhecida como a “rede obscura”, e não revela o endereço IP do remetente nem nenhuma outra informação. “Incentivamos os denunciantes a usarem o processo, que é completamente anônimo, especialmente se vivem em regimes opressivos nos quais a comunicação não é livre e os próprios governos podem, na realidade, estar envolvidos em crimes contra a biodiversidade”, pontuou Crosta. O nome da iniciativa recorda o WikiLeaks, a organização que atraiu grande atenção pública nos últimos anos ao revelar documentos secretos do governo dos Estados Unidos. Mas o WildLeaks está projetado para ser substancialmente diferente. “Antes de tudo, não estamos atrás de documentos governamentais ou militares”, explicou Crosta. “Em segundo lugar, enquanto o WikiLeaks compartilha tudo imediatamente com os meios de comunicação, para nós essa será apenas a última opção”. Depois que o WildLeaks recebe a informação, os indivíduos e as organizações responsáveis pelo projeto avaliam sua precisão e confiabilidade. Depois, o portal procura fazer com que as conclusões cheguem às agências encarregadas de fazer cumprir a lei, como a Interpol, ou até autoridades governamentais confiáveis. Porém, se os governos não cooperarem, a última opção será levar essa informação aos meios de comunicação. “Nosso objetivo é trabalhar lado a lado com as agências de aplicação da lei em todo o planeta. Queremos criar uma ponte entre o público” e essas entidades, ressaltou Crosta. A resposta inicial ao novo projeto tem sido positiva. “Incentivamos fortemente todos que possuem informação sobre crimes contra a natureza a informar a agência de aplicação da lei mais adequada”, declarou à IPS um porta-voz da Sociedade Humana dos Estados Unidos, a maior organização de proteção animal do país, quando perguntada sobre a iniciativa WildLeaks. O lançamento do WildLeaks aconteceu apenas dias antes de começar a Conferência de Londres, organizada pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites), com patrocínio do governo britânico. Em Londres se reúnem, desde ontem, os principais atores da comunidade mundial da biodiversidade, para desenhar uma resposta internacional à matança e ao tráfico de biodiversidade, incluindo as florestas. O movimento de combate aos crimes contra a natureza ganhou muito impulso nos últimos meses. Na semana passada, o governo francês destruiu três toneladas de marfim ilegal, se convertendo, assim, no primeiro país europeu a tomar essa medida publicamente. No mês passado, o governo da China também destruiu publicamente uma grande quantidade de marfim ilegal, e os Estados Unidos haviam feito o mesmo em novembro. Em termos gerais, os ativistas dão as boas-vindas a esse novo impulso mundial. Peter Knights, diretor-executivo da WildAid, se mostrou satisfeito com a medida adotada por Pequim. “Cada grande viagem começa com um pequeno passo. Esse é um primeiro passo muito importante por parte da China e deve ser incentivado”, opinou à IPS. Atualmente considera-se que os ganhos com o tráfico de biodiversidade são superiores aos do comércio ilegal de armas pequenas, ouro, diamante e petróleo. O comércio ilegal de peles de tigre e de dentes de marfim causam a morte de aproximadamente 50 mil elefantes por ano, e de quase 3.500 tigres selvagens na Ásia, segundo a Agência de Investigação Ambiental. No mês passado, o Centro Stimson, com sede em Washington, divulgou um informe no qual mostra evidências dos fortes vínculos entre a caça ilegal e o financiamento do terrorismo internacional. “Há evidências muito fortes de que organizações da República Centro-Africana, da Somália e da República Democrática do Congo estão fortemente envolvidas com a caça ilegal”, advertiu a jornalistas o analista Varun Vira, da empresa norte-americana de segurança C4ADS, na apresentação do informe no mês passado. Ativistas e analistas acreditam que uma das maiores organizações terroristas da África, a Al Shabab, financia boa parte de suas operações por meio do comércio ilegal de marfim. O governo de Barack Obama também tomou medidas para combater o tráfico de produtos derivados da natureza. Em julho de 2013, o presidente norte-americano assinou a Ordem Executiva de Combate ao Tráfico de Biodiversidade, se comprometendo a ajudar os governos “em atividades antitráfico quando solicitado por nações estrangeiras que experimentam o tráfico de natureza protegida”. Obama encarregou várias agências e vários departamentos dos Estados Unidos da implantação da nova diretriz, entre eles os Departamentos de Defesa, do Tesouro e de Segurança Interna, bem como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Fonte: Envolverde/IPS

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