quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Onda de frio dos EUA reaviva ceticismo sobre o aquecimento global
A frente ártica que congelou boa parte dos Estados Unidos nesta semana serviu também para levantar novas suspeitas sobre o aquecimento global, dúvidas que não são compartilhadas pela comunidade científica, que está convencida de que este fenômeno não contradiz a mudança climática.
Com os termômetros registrando menos de 30 graus celsius negativos e sensações térmicas inferiores a 50 graus abaixo de zero, o frio superou recordes de baixas temperaturas, embora estas condições também não sejam uma anomalia histórica.
A onda de frio provocou nesta semana a morte de 20 pessoas, o fechamento de estradas e a suspensão das aulas em vários estados. Além disso, fez com que, em alguns zoológicos, pinguins e ursos polares tivessem que buscar um abrigo, e que um detento fugido de uma penitenciária do estado de Kentucky voltasse para atrás das grades para se proteger das baixas temperaturas.
Com tanto frio, não estranha que, mais uma vez, o tempo seja o tema de conversa de milhões de pessoas e, nesta ocasião, os céticos sobre o aquecimento global aproveitaram a conjuntura para tirar proveito publicamente.
“Faz frio. Al Gore me disse que isso não aconteceria”, afirmou o senador republicano Ted Cruz, em referência ao ex-vice-presidente americano, prêmio Nobel da Paz por seu ativismo meio ambiental.
“O ‘aquecimento global’ não é tão quente nesses dias”, afirmou o deputado republicano John Fleming em sua conta no Twitter, enquanto outro companheiro de partido, o senador Jim Inhofe, qualificou a mudança climática como uma ideia “quase ridícula”.
Os cientistas lembram que, para falar de clima, são utilizadas médias, e que nos últimos anos foram acumuladas provas mais que suficientes para não duvidar da mudança climática.
“Nenhum episódio meteorológico por si só pode mostrar ou refutar a mudança climática global”, sentenciou John Holdren, assessor de Ciência e Tecnologia do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em um vídeo divulgado pela Casa Branca.
Na comunidade científica, o debate se centrou mais em se a mudança climática influenciou de forma alguma na onda de frio.
Os meteorologistas concordaram em apontar um incomum deslocamento em direção ao sul do “vórtice polar” como a origem mais imediata do frio extremo que castigou nesta semana os Estados Unidos, embora as razões que tenham motivado essa trajetória tenham sido mais discutidas.
O vórtice é uma zona de baixa pressão que está nas camadas altas da atmosfera e que habitualmente mantém as massas de ar frio perto do polo, mas seu enfraquecimento deixou que as correntes frias chegassem mais ao sul e cobrissem grande parte do território americano.
“Não acho que a onda de frio esteja ligada diretamente à mudança climática global. É algo que só ocorre uma vez a cada certo tempo”, argumentou à Agência Efe o presidente do comitê de Variabilidade e Mudança Climática da Sociedade Meteorológica Americana e professor da Universidade de Albany, Aiguo Dai.
Outros pesquisadores veem uma relação, como Judah Cohen, que trabalha na unidade de Pesquisa Atmosférica e Ambiental da Verisk, uma companhia dedicada à avaliação de riscos, e aponta o recente aquecimento do Ártico como possível causa.
“Nossa investigação sugere que um Ártico quente está relacionado com o tempo frio nos conteúdos em latitudes médias”, explicou Cohen sobre um fenômeno denominado “Ártico quente, continentes frios” que ele compara com o dilema do ovo e a galinha.
“O Ártico está quente porque aumentou o fluxo norte-sul que transporta ar quente para o oceano enquanto o ar frio desce a latitudes médias ou pode um Ártico mais quente aumentar o fluxo de ar norte-sul que depois provoca a chegada de ar frio a latitudes meridionais?”, se pergunta Cohen.
“Se as pessoas encontram este frio surpreendente é porque as coisas estão se aquecendo”, frisou, por sua vez, o climatólogo Gavin Schmidt, do Instituto Goddard da Agência Espacial americana (Nasa).
Em todo caso, condições extremas como as que ocorreram nesta semana nos Estados Unidos já aconteceram no passado e, como garantem especialistas, à medida em que o clima continua aquecendo, espera-se que aumente sua frequência. (Fonte: Terra)
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