terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Fogo selvagem pode ser disparado por picada de insetos
Pesquisadores brasileiros e norte-americanos podem estar perto de desvendar os mistérios de uma doença que permanece sem explicações até hoje.
O pênfigo foliáceo, doença popularmente conhecida como fogo selvagem, é uma enfermidade autoimune caracterizada pela formação de bolhas por todo o corpo que, ao se romperem, podem servir de porta de entrada para infecções e culminar em sepse se não tratadas adequadamente.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Carolina do Norte de Chapel Hill (EUA), estão analisando há anos os fatores ambientais, genéticos e imunológicos que levam ao desenvolvimento da doença.
Genética e picada de insetos
As bolhas características do fogo selvagem são resultado do ataque do sistema imunológico a uma proteína normalmente existente na camada mais superficial da epiderme denominada desmogleína 1, que ajuda a manter as células da pele aderidas umas às outras.
O ataque a uma proteína própria do organismo é resultado da desregulação do sistema imunológico e pode ser atribuído a inúmeros fatores.
Além de predisposição genética, o grupo de pesquisadores suspeita haver relação com a exposição constante a certos insetos hematófagos, particularmente o flebótomo (vetor da leishmaniose, popularmente conhecido como mosquito-palha), o triatomíneo (ou barbeiro, vetor da doença de Chagas) e o simulídeo (borrachudo).
"Temos evidências preliminares de que soros de pacientes com fogo selvagem reconhecem certas proteínas da glândula salivar de flebótomos. Se esse for realmente o caso, será a primeira doença autoimune em que podemos determinar a origem da autoimunidade," afirmou Luis Diaz, que faz parte do grupo ao lado de Valéria Aoki.
"Uma das hipóteses é que a saliva do inseto, na hora da picada, possa modificar a estrutura da desmogleína 1, facilitando, por exemplo, a exposição de parte da molécula normalmente oculta. Ou talvez possa injetar algo que mimetize a desmogleína 1, desencadeando a autoimunidade", explicou Aoki.
Como nem todos os moradores das áreas endêmicas da doença desenvolvem o pênfigo foliáceo mesmo estando expostos a picadas constantes dos insetos hematófagos, os pesquisadores acreditam haver também uma predisposição genética para o fogo selvagem.
Uma das possibilidades, de acordo com Valéria Aoki, é a existência de uma sequência específica de genes no sistema antígeno leucocitário humano que torna a pessoa predisposta.
De acordo com a pesquisadora, os resultados têm despertado grande interesse na comunidade científica, pois podem ajudar a entender o mecanismo de funcionamento de outras doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide. "Talvez outras enfermidades possam sofrer influência de estímulos ambientais", disse Valéria.
Agência Fapesp
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