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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Educação ambiental deve incluir valores éticos, diz educadora

A motivação inicial para o desenvolvimento da educação ambiental, no âmbito escolar, geralmente parte da iniciativa de um professor ou de um grupo deles. O fenômeno pode ser detectado a partir dos estudos desenvolvidos pelo doutorando em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), Marcelo Gules Borges. Para a diretora da Escola Amigos do Verde, Sílvia Lignon Carneiro, a educação ambiental deve ir muito além do currículo escolar. "O ensino focado na educação ambiental envolve trabalhar com valores éticos." Marcelo Borges e Sílvia Carneiro foram os dois debatedores convidados da Terça Ecológica, nesta terça-feira (5/7) à noite, no auditório do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro-RS). O evento, realizado mensalmente pelo Núcleo de Ecojornalistas do RS (NEJ-RS) desde 1994, teve a parceria do Sinpro-RS nesta edição e debateu o tema Educação ambiental e formação de professores – ações sustentáveis no dia-a-dia da escola.

Integrante do grupo de pesquisa Cultura, Ambiente e Educação na PUCRS, Marcelo Borges apresentou os estudos realizados pela equipe de pesquisadores sobre o ensino a partir da ambientalização da escola, das redes e das práticas de educação ambiental. Abordando A educação dentro de um paradigma ecocêntrico para um mundo sustentável, Sílvia Carneiro explicou que a Amigos do Verde - escola fundada em 1984 - tem como proposta pedagógica proporcionar a aprendizagem integral do indivíduo dentro de uma visão ecológica de sustentabilidade. "A questão ecológica não pode ser trabalhada de forma fragmentada. A escola deve valorizar eventos e relações com a comunidade, integrando o aluno ao ambiente em que ele está inserido."

Sílvia destaca o papel que o educador deve exercer na escola: "Os professores são modelos para os educandos. A escola deve ter uma visão ecológica e educacional." Sílvia lembra que hoje já está sendo identificado o chamado "transtorno de déficit de natureza (Nature Deficit Disorder)" entre as crianças. O termo, criado pelo escritor e jornalista norte-americano Richard Louv em seu livro Last Child in the Woods (A Última Criança nas Florestas), de 2005, refere-se à tendência das crianças terem cada vez menos contato com a natureza, resultando em vários problemas de comportamento.

Ambientalização da escola

Marcelo Borges enfatiza que o processo de ambientalização da escola ocorre dentre e fora dela. No interior da escola, as estratégias envolvem desde o currículo e o espaço físico da instituição até a execução de projetos, a atuação de educadores ambientais, o acompanhamento pela família, a integração com a comunidade e os hábitos de alimentação saudável. A Amigos do Verde, por exemplo, inclui na sua prática pedagógica com as crianças ações com base permacultural, manutenção de estufas e a convivência em espaços onde existem galinheiro móvel, telhado vivo, parreiras, cisternas e um pequeno lago, entre outros elementos que extrapolam o ambiente tradicional de ensino dentro de uma sala de aula convencional. "O espaço físico é importante, mas deve ser apenas uma pequena parte da educação ambiental nas escolas. É preciso proporcionar a aprendizagem integral ao indivíduo", observa a diretora.

No ambiente externo à escola, diz Marcelo Borges, a ambientalização se concretiza a partir de estratégias que exploram temáticas como: trilhas da agrofloresta, alimentação saudável, trilhas urbanas, o conhecimento sobre as histórias do lugar, a valorização da diversidade cultural e o exercício de práticas cidadãs. Lembrando o conhecido slogan ambientalista Pensar globalmente, agir localmente, Borges opina que o grande desafio posto, atualmente, aos professores e educadores ambientais está em descobrir meios eficientes de traduzir as questões globais para o ambiente local em que vive a comunidade.

Para o pesquisador, as práticas sociais contemporâneas estão incorporando o elemento ambiental, mesmo que, em muitos casos, o indíviduo não tenha a exata compreensão sobre as razões que geraram essa mudança de comportamento. Ele cita como exemplo desse fenômeno a adesão de parte da sociedade às restrições ao uso de sacolas plásticas. "O discurso ecologista está entrando nos movimentos sociais. Prova disso são as bandeiras defendidas por movimentos como o dos atingidos por barragens, o dos sem-terra e o da Rede Brasileira de Justiça Ambiental." Ele também destaca a utilização das redes sociais como veículos de propagação desses movimentos sociais e cita os casos, na área de educação ambiental, da Rede de Educadores Ambientais de Porto Alegre e da Teia de Educação Ambiental da Mata Atlântica.

A diversidade e a inclusão na ética ambiental

Valorizando a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais, na escola, juntamente com os demais colegas, Sílvia Carneiro disse ficar surpresa quando toma conhecimento de que um diretor de escola recusa essas crianças sob a alegação de falta de estrutura e preparo da instituição para lidar com esse segmento. "Como uma escola pode dizer que não está preparada para lidar com essas crianças?", questiona a educadora. "É preciso acolher a diversidade." Ela enfatiza a importância da formação de educadores sob a ética da educação ambiental e defende um "projeto coletivo multiidade, segundo o qual o espaço físico da escola não deve ser utilizado de forma a separar crianças em horários de recreação distintos. "Todos devem conviver no mesmo espaço."

Marcelo Borges observa que, nas últimas décadas, houve um movimento de migração da cidadania política para a cidadania ambiental. Ele entende que a educação ambiental é agente e efeito da ambientalização. Sobre o papel a ser desempenhado pela escola no que ele denomina como "ambientalização do social", Borges ressalta que a família e a escola são as duas instituições de socialização das pessoas. "A escola vem caminhando rumo à cidadania e à política ambientais."

Por Carlos Scomazzon, especial para a EcoAgência

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