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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Agentes enfrentam obstáculos e medo no combate ao ebola

Agentes de saúde envolvidos no combate ao surto do vírus ebola enfrentam dificuldades para atuar nas regiões mais remotas da África Ocidental. Mais de 670 pessoas já morreram, mas em muitos vilarejos a população ainda trata médicos com desconfiança. Mesmo nos centros de tratamento, as chances de sobrevivência dos pacientes são pequenas. Em Gueckadou, no sudeste da Guiné, das 152 pessoas atendidas, até o dia 23 de julho, 111 haviam morrido. Destas, 20 foram enterradas em covas sem identificação. Uma das mortes mais recentes foi a de um bebê de quatro meses, cuja mãe, que lhe passou o ebola, morrera semanas antes. “Estava com ele pouco antes de morrer, lhe dei uma mamadeira. Saí por alguns minutos para um descanso e quando fui chamada de volta o encontrei morto. Fiquei arrasada”, afirmou à “BBC” a enfermeira Adele Milimouno, da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Primeiro caso – Geckadou foi a localidade em que o primeiro caso de ebola foi confirmado, em março. De lá para cá, a epidemia se tornou a pior da história, segundo autoridades sanitárias. A MSF e a Cruz Vermelha Internacional, que, juntos, contam com cerca de 400 agentes, dizem que a situação continua fora de controle. Na semana passada, a Nigéria se tornou o quarto país a confirmar um morte causada pelo vírus letal. Apesar do enorme número de mortes, a enfermeira Adele Milimouno diz que os sobreviventes lhe dão forças para continuar o trabalho. “Eu reúno toda a coragem para vir trabalhar e tentar salvar a minha comunidade”, afirmou Milimouno, que foi recrutada em um dos vilarejos da região. “Tenho orgulho do meu trabalho. Conseguimos salvar cerca de 40 pessoas.” Os obstáculos são ainda maiores no povoado de Kollobengou, a 12 km do centro de tratamento. Da última vez que agentes sanitários tentaram entrar lá, foram atacados e advertidos a não voltar mais. Muitos acreditam que os médicos estão espalhando a doença pelas comunidades para coletar órgãos dos mortos. Medo – Outros acreditam que o vírus existe, mas têm medo de pedir ajuda. Depois de semanas de negociações com líderes comunitários e mais uma morte, os moradores admitiram a entrada dos médicos. Uma equipe da “BBC” acompanhou a visita dos especialistas. Ao chegarem na aldeia, o medo era visível: poucos são os que se arriscam a sair de suas casas. O representante das autoridades locais pediu a palavra e fez um apelo para que os moradores deixassem os temores de lado e colaborassem com os agentes sanitários. Entre as medidas mais imediatas está a distribuição de sabonete e cloro. O vírus pode ser facilmente eliminado através de uma boa higiene pessoal. Mas a região tem problemas mais básicos. “Como vamos nos lavar todo o tempo se não temos água limpa para usar?”, pergunta um morador. Incubação – Ao todo, 48 pessoas entraram em contato direto com infectados pelo ebola. Eles serão monitorados diariamente por três semanas, o período de incubação do vírus, para verificar se não foram infectados. Outros dois povoados próximos a Gueckadou sequer permitiram a entrada dos médicos. Mas o avanço é palpável. Há dois meses, eram 28 os vilarejos que não aceitavam a ajuda dos agentes sanitários. Um funcionário da OMS, Tarik Jasarevic, culpa em parte a comunicação confusa das autoridades no início dos surtos pela resistência dos moradores ao auxílio. “As pessoas ouviram dizer que não há vacina ou tratamento para ebola, então muitos pensaram: ‘para que vou até um centro de tratamento, se nem existe tratamento?’” “Depois, algumas pessoas acabaram indo, mas muitas morreram. Então, ficou a ideia de que sair do seu povoado é morte certa”, disse Jasarevic. Ele afirma que faltou insistir na maior chance de sobrevivência daqueles que vão a um centro de tratamento e no fato de que essa é também uma forma de prevenir o contágio do resto da família. Embora autoridades digam que o número de infectados na região de Gueckadou e imediações esteja caindo, o vírus está longe de estar controlado. Diariamente, milhares de pessoas cruzam as fronteiras da Guiné rumo a Serra Leoa e Libéria. Em apenas três dias, entre 20 e 23 de julho, foram registrados 71 novos casos em Serra Leoa e outros 25 na Libéria, em comparação aos 12 reportados na Guiné. (Fonte: G1)

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