quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Nova espécie de inseto raro é descoberta no Brasil
Bichos-fórceps ou tesourinhas-voadoras pertencem a uma ordem de insetos chamada Mecoptera, com cerca de 550 espécies agrupadas em nove famílias distribuídas por todo o mundo. No Brasil, são conhecidos cerca de 20 insetos dessa ordem.
Agora, uma nova espécie de bicho-fórceps, da família Meropeidae, foi descoberta por aqui, o que representa apenas a terceira espécie descrita nesta família e a primeira registrada na região neotropical do mundo.
A descoberta
Uma armadilha para capturar vespas armada no Pico Eldorado, no município de Domingos Martins (ES), levou a surpreendente descoberta do inseto raro, cuja família até agora só tinha duas espécies vivas conhecidas, uma na Austrália e outra na América do Norte.
Apesar de todos os esforços anteriores de coleta nesta área, a espécie nunca havia sido registrada em regiões tropicais da América do Sul.
O espécime, denominado Austromerope brasiliensis, foi coletado em uma fazenda privada perto de um habitat de floresta da Mata Atlântica, um dos mais ameaçados no Brasil.
A distribuição e biogeografia da rara família de insetos ainda são discutidas. Os cientistas sugerem que ela está dispersa em locais tão distantes do mundo porque se originou antes da deriva continental (da divisão do mundo em dois hemisférios, norte e sul, com a dissolução do supercontinente Pangéia).
A existência de um fóssil da mesma família na Sibéria comprova que ancestrais desses bichos viveram no período Triássico, entre 250 e 200 milhões de anos atrás.
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O inseto
Apenas um indivíduo foi pego na rede dos pesquisadores. Com aproximadamente dois centímetros de comprimento, dois pares de asas e uma extensão na parte traseira em forma de fórceps, os cientistas reconheceram que se tratava de um inseto distinto de outros conhecidos, mas pertencente à família Meropeidae.
Capturado pelo entomólogo Ricardo Kawada e analisado por Renato Machado, especialista na ordem de insetos Mecoptera, os cientistas chegaram a conclusão de que se tratava de uma espécie nova.
“Eu achei muito parecido com as outras duas espécies e logo identificamos como pertencente à família. Depois disso veio o processo de descrição. Mas, com certeza, assim que bati o olho, já sabíamos que era algo novo”, conta Machado.
Estas extensões – “fórceps” – fazem parte do seu órgão sexual masculino. Essa característica dos bichos-fórceps é usada provavelmente para agarrar as fêmeas durante o acasalamento.
O que torna esses insetos especiais é o fato de que se sabe muito pouco sobre sua biologia. Seus estágios imaturos permanecem um mistério para os cientistas – nunca foram encontradas, por exemplo, larvas desta família.
Os adultos, que são noturnos e parecem viver em terra, também são capazes de estridulação, ou a produção de som através da esfregação de certas partes do corpo. Não é por acaso que o bicho tenha passado tanto tempo incógnito – com base no que os pesquisadores de fato sabem sobre as outras duas espécies, acredita-se que ele viva escondido sob folhas e galhos secos no chão.
“A descoberta desta espécie nova é um sinal importante para reforçar a conservação do bioma brasileiro da Mata Atlântica. Certamente há muito mais espécies ainda a serem descobertas nessas florestas”, disse Machado.
Mais armadilhas foram colocadas na região do Pico Eldorado, a fim de tentar encontrar mais indivíduos que ajudem os pesquisadores a entender melhor a família.
A descoberta foi publicada pelos brasileiros Renato José Pires Machado, Ricardo Kawada e José Albertino Rafael na edição de 15 de fevereiro da revista Zookeys.[EurekaAlert, OEco, SciNews]
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